André Rebouças defendeu distribuição de terras para negros após abolição
Nascido em Cachoeira (BA) em 13 de janeiro de 1838, André era o mais velho de oito filhos. Seu pai, o advogado autodidata Antônio Pereira Rebouças, foi deputado e conselheiro do Império. A mãe Carolina Pinto Rebouças era filha do comerciante André Pinto Silveira. A família se transferiu para o Rio de Janeiro em 1846.
Atípica para uma família negra da época, a condição dos Rebouças permitiu que André e seus irmãos tivessem acesso a uma educação de elite.
Primeiro aluno da turma, ele se formou em ciências físicas e matemáticas em 1859 e como engenheiro militar no ano seguinte. Em 1861, viajou à Europa para um curso de especialização em engenharia civil.
Em 1865, aos 26 anos, foi combater na Guerra do Paraguai. Retornou ao Rio no ano seguinte após contrair varíola, passando a trabalhar com o irmão Antônio, também engenheiro, em projetos de modernização da malha urbana.
André Rebouças também foi professor da Escola Central Politécnica (atual Faculdade de Engenharia da UFRJ) e responsável por diversas obras importantes no país, como a construção da estrada de ferro que ligou Curitiba ao porto de Paranaguá.
Mesmo vivendo em uma condição distinta da maioria dos negros brasileiros da época, Rebouças não deixou de vivenciar o racismo.
Em uma viagem a Nova York e à Europa em 1873, junto à comitiva imperial brasileira, teve dificuldade de reservar acomodação e foi impedido de assistir à ópera "Fosca", do brasileiro Carlos Gomes, no Grand Opera House.
Antes mesmo do episódio, o engenheiro se posicionava contra a escravidão no Brasil.
Em 1880, fundou a Sociedade Brasileira contra a Escravidão, ao lado de figuras como Joaquim Nabuco e José do Patrocínio. Com eles, participou ainda da Confederação Abolicionista e da Associação Central Emancipadora.
Além de lutar pela abolição, Rebouças defendia a inclusão social da população negra através de uma reforma agrária que permitisse a concessão de terras aos libertos e a implementação de uma "democracia rural".
"André notabilizou-se na defesa de projetos para a modernização do país, entre os quais se incluíam além da abolição da escravidão imediata e sem indenização aos supostos 'proprietários' dos escravizados, o estímulo à imigração, o acesso à terra aos recém libertos e a democratização da propriedade fundiária", afirma a historiadora Wlamyra Albuquerque.
Ainda assim, Rebouças era monarquista e nunca deixou de manter uma relação próxima com a família imperial. Foi um dos que contribuíram para firmar a figura da Princesa Isabel como patrona da abolição, protagonismo que hoje é criticado por movimentos negros.
Por sua posição política, se exilou na Europa após a Proclamação da República em 1889. Viveu em Lisboa e Cannes, onde atuou como jornalista.
Já em dificuldade financeira, aceitou um emprego em Luanda em 1892 e rumou depois para o Funchal, na Ilha da Madeira. Morreu em 1898, aos 60 anos, após cair ou se atirar - não se sabe - de um penhasco.
André se distingue de outros intelectuais oitocentistas brasileiros por suas ideias de reforma social, sobretudo de democratização da propriedade da terra, como complemento necessário da abolição e condição necessária para uma modernização inclusiva e democrática do país. Neste sentido, seu pensamento guarda sem dúvida atualidade.
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