'Hempreendedora' cria primeira calcinha menstrual de cânhamo brasileira
Menstruar é um tabu há milênios. Já a maconha, além de tabu, é uma planta "ilegal"no Brasil, mesmo quando seu cultivo é para ser usado na indústria fashion. Poliana Rodrigues, 32, quebrou os dois tabus ao lançar a primeira calcinha menstrual de cânhamo brasileira.
"É a chance de criar uma indústria do zero e fazer diferente. É a hora de esquecer o sangue azul na propaganda de absorvente e traçar as normas dos modos operandi desse novo mercado", afirma a "hempreendedora".
Primeira "hempreendedora" negra no Brasil a receber investimento, Poliana é inspiração para as mulheres no mercado da cannabis.
"Existe uma culpabilização no empreendedorismo do ativismo social quando se ganha dinheiro. Romper com essa culpa é essencial porque minha existência aqui já é a minha própria luta ao ser a mulher preta que conseguiu investimento, fala sobre cannabis e menstruação em papel de destaque num país conservador e proibicionista como o Brasil", diz Poliana.
Ela pretende desmistificar os usos do cânhamo, que é o tecido feito com a fibra da maconha com baixo teor de THC, até 0,3%. E dar acesso aos benefícios da cannabis de forma lícita.
O cultivo do cânhamo é vetado no Brasil. O uso e a importação do tecido e dos fios são liberados. Mas falta regulamentação. As informações são do advogado Rafael Arcuri, diretor executivo da Associação Nacional do Cânhamo Industrial (ANC)
Batizada de Floyou, a empresa de Poliana é a primeira dedicada a cuidados menstruais e cannabis do país. A estilista da marca é Cris Bertoluci, que tem mestrado em cânhamo têxtil pela Faculdade de Têxtil e Moda da USP (Universidade de São Paulo).
Mas qual a lista de benefícios da calcinha de cânhamo em relação a de algodão?
Ação antibactericida e resistência aos raios UV
A absorção é melhor
A pele respira mais
O tecido seca mais rápido
A resistência à tração é três vezes maior
O cultivo tem carbono zero
Os dados são da Kaya Mind, empresa de inteligência de mercado, e da Universidade Saxion de Ciências Aplicadas (Saxion University of Applied Sciences), da Holanda.
Onda forte
Hoje, bate uma onda de marcas e linhas de têxteis com cânhamo no Brasil. Uma iniciativa que se encaixa nesse perfil é a Queen Co, representante exclusiva da Hemp Fortex, a maior fábrica de tecidos de cânhamo do mundo. "Virei ativista pela natureza para mudar a indústria predadora da moda", diz a CEO da Queen Co Renata Lima.
Outra empresa ativa na área é a Baked Brain. Ao saber da tradição milenar das mulheres fiadoras de cânhamo no Nepal, Larissa Miyazato viajou ao país localizado no sudeste asiático. A empreendedora caminhou pela região do Himalaia para achar a tecelagem da sua marca de bags. O local é tão isolado, numa montanha de 3.500 metros de altitude ,que é impossível levar uma máquina industrial até lá. Todo equipamento é centenário e feito à mão.
As nepalesas utilizam o único cânhamo no mundo extraído da cannabis em estado bruto, sem controle da quantidade de THC.
Ontem seda, hoje cânhamo
E até os grandes "players" têm adicionado o cânhamo aos tecidos tradicionais. A Vicunha é a tecelagem pioneira em jeanswear à base de cânhamo no país."Tivemos um input do time sobre a trend mundial e o crescimento na utilização desta fibra no mundo", afirma Renata Guarniero, gerente de marketing da Vicunha.
Marcas, como Osklen, Reserva, Origens, UMA, Flavia Aranha, Highstil e Orbô, já incorporaram o material em algumas de suas peças.
Consciência e sustentabilidade
Preocupação social e com o meio ambiente fazem parte das iniciativas dessas iniciativas da moda canábica. A produção da Baked Brain é 100% feminina com mão de obra local em um ateliê que utiliza energia fotovoltaica e não gera poluentes. Pesquisas de novas fibras para regeneração de biomas e uso de descartes agrícolas para transformação têxtil estão em desenvolvimento pela Queen Co.
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