'Fico relaxada': Como produtos naturais têm ajudado pessoas na hora do sexo

Há sete anos, Cynthia Trindade realizou uma cirurgia de endometriose - mesmo procedimento que a cantora Anitta passou no meio de 2022 para tratar as fortes dores que a doença causa.

Após a operação, no entanto, a paulistana começou a ter dificuldades para ter relações sexuais por sentir muitas dores vaginais. Assim, Cynthia passou a testar diferentes métodos para amenizar a dor, mas só há um ano, quando conheceu produtos sustentáveis, foi que conseguiu resolver o problema.

Mencionado desde os anos 2000, o eco sex é um termo que busca demonstrar a importância de estender os cuidados com o meio ambiente para a escolha de produtos eróticos sustentáveis, em grande parte recicláveis, biodegradáveis e feitos à base de ingredientes naturais.

No Brasil, a chegada desses tipos de produtos é recente. Em 2013, a onda de preservativos veganos, por exemplo, teve início com iniciativa da empresa estadunidense Glyde, seguida por Einhorn, em 2019.

A terapeuta sexual e fisioterapeuta pélvica Andrea Dell'Aquil, que foi quem receitou esses produtos para Cynthia, explica que internacionalmente é mais comum encontrar pessoas que começaram a usá-los por questão ambiental, mas no Brasil a adesão por esse motivo ainda é tímida.

A doutora, no entanto, percebeu que esses produtos ecológicos podem ser grandes aliados no tratamento de pessoas com vagina que sentem desconfortos na hora do sexo.

Produtos não naturais podem causar problemas à saúde da mulher

"Sentia uma demanda gigante de produtos que me dessem segurança de que essas mulheres não teriam mais problema", diz dra. Andrea.

Nesse sentido, os produtos naturais revelaram-se como uma solução, sem causar outros problemas e atuando como um elemento de autocuidado para a saúde da mulher, auxiliando de maneira mais eficiente no estímulo sexual.

Após ter conhecido, em 2019, os produtos naturais da marca Feel, a terapeuta comenta que foi um divisor de águas na sua profissão e também pessoalmente.

Ela começou a usar os produtos ao fazer um teste para combater a "candidíase de réveillon", como chama, em referência ao fato de que quando viajava para a praia no início do ano, sempre sofria com a infecção.

Após o primeiro uso do óleo calmante, feito de melaleuca, óleo de coco, camomila, lavanda e vitamina E, desde então ela não teve mais a reação. A partir daí, decidiu inserir nas orientações de suas pacientes o uso de produtos naturais para diferentes fins, seja para tratar uma doença ou para auxiliar na prática sexual.

Em seu consultório, os produtos que Andrea mais costuma receitar são todos da marca Feel:

• óleo calmante;
• lubrificante hidratante íntimo;
• excitante íntimo.

Além desses, a marca também trabalha com vibradores mais ecológicos. "Todos os produtos são recarregáveis via USB para evitar o uso de pilhas e baterias descartáveis. E nossos modelos são à prova d'água para facilitar a higienização e manutenção. Além disso, fazemos a compensação para reciclar todas as nossas embalagens", diz Marília Ponte CEO e co-fundadora da Feel.

Para ela, assim como produtos naturais de skin care se popularizaram nos últimos anos, os de cuidados íntimos agora passam por uma procura crescente, são, como ela aposta, a "próxima nova onda".

Produtos tradicionais costumam agradar só quem tem pênis

Os lubrificantes comuns, geralmente saborizados, disponíveis no mercado costumam alterar o pH da vulva. Essa alteração pode irritar a pele da vagina, resultando na fragilização da imunidade e na mudança da flora pélvica.

"Nossa vulva não é um hortifruti para ter sabor de uva ou de morango, e, além disso, a partir do momento que você coloca sabor, isso pode desencadear o processo de uma candidíase ou de uma vaginose".

Outros problemas causados por lubrificantes não naturais são o surgimento de secreção e coceira. "E aí a gente retrocede absolutamente no tratamento" no caso de pessoas com vagina que têm pouca lubrificação natural.

Para ela, isso acontece muito porque os produtos tradicionais são pensados apenas para o prazer de quem tem pênis, por causa de uma preocupação específica de facilitar a penetração - o que muitas vezes acaba resultando em grandes dificuldades de pessoas com vagina sentirem prazer.

Produtos ecológicos com mais lubrificação

Apesar do uso de produtos eróticos sustentáveis parecer mais como um estilo de vida, doutora Andrea explica que são melhores opções porque produtos não naturais para lubrificação ou estímulo de prazer sexual não só não resolvem o problema de secura ou pouca lubrificação vaginal, como também causam consequências negativas para suas pacientes, gerando um problema a mais na saúde de quem tem vagina.

No caso de Cynthia, os produtos não naturais que testou nos últimos sete anos secavam muito rápido e eram desconfortáveis para o sexo oral, por exemplo, já que têm uma cola e formam uma espécie gosma na boca.

Agora, utilizando lubrificantes sustentáveis ela consegue realizar exercícios passados pela fisioterapeuta pélvica, importantes para auxiliar no tratamento.

Diferente do lubrificante sintético, o natural usado por ela não causa ressecamento em razão da proposta de ser também um hidratante, e possibilita uma experiência positiva no sexo oral pois não gruda na boca e tampouco tem sabor.

"Eu fico relaxada, me sinto segura e forte por viver coisas tão gostosas que eu não me permitia antes", comenta Cynthia. E acrescenta que só topou contar sua experiência para inspirar outras mulheres em casos semelhantes ao seu.

Foi com o uso diário do produto que pela primeira vez conseguiu realizar um exame de ultrassom transvaginal, aos 41 anos.

Apesar de ainda sentir algum desconforto, Cynthia espera que o tratamento com o uso de produtos naturais, com avanços já percebidos por ela, traga mais resultados para que ela possa voltar a ter relação sexual com penetração sem sentir qualquer desconforto.

Vegetariana há 4 anos, ela relata nunca ter pensado em introduzir produtos naturais para o seu tratamento, mas se sente feliz pelos resultados que têm obtido e por adequar o tratamento à prática sustentável que adotou como filosofia de vida para o bem-estar.