Fake news kids? Como combater mentiras divulgadas para crianças na internet
Quando Miguel, de 9 anos, apareceu usando óculos escuros dentro de casa chamou a atenção da família, não só pelo curioso fato, mas pela justificativa. "Ele disse que tinha visto que se ficasse o dia inteiro de óculos escuros desenvolveria visão noturna", lembra Lygia Freitas, mãe do garoto.
O conteúdo enganoso que chegou a Miguel, por meio da internet, é um exemplo de desinformação online, uma das oito grandes ameaças às crianças, conforme destacou a diretora executiva do Unicef, à época, Henrietta Fore, em carta aberta publicada em 2019.
Lidar com falsos conteúdos, como correntes de mensagens enganosas e das deepfakes (tecnologia que usa inteligência artificial para criar vídeos falsos), no contexto das infâncias, tem sido um desafio crescente. Se até adultos caem nas fake news, como podemos evitar que as crianças sejam vítimas dessas mentiras?
Juliana Cunha, diretora da Safernet Brasil, aponta alguns caminhos. A Safernet é uma organização que promove o uso seguro da internet. Juliana diz que é preciso equipar crianças e adolescentes com recursos e capacidades críticas para processar o conteúdo que consomem.
Ela recomenda que "as famílias se guiem por autoridades de referência, chequem informações em mais de uma fonte e exercitem um ceticismo emocional e crítico, para evitar cair na armadilha de tomar decisões baseadas no medo e pânico".
A desordem informacional alimenta dúvidas relacionadas aos cuidados com as crianças dentro e fora do ambiente digital, tal como a circulação de fakes que colocam em xeque a eficácia da vacinação infantil contra a covid-19 — mesmo diante de uma grave crise sanitária mundial.
Juliana destaca que essas mentiras impactam no modo como as pessoas passam a desacreditar em instituições e autoridades. "Esse ambiente de suspeita generalizada e ataque às instituições, como poder público, imprensa e mesmo a ciência, tem um efeito perverso de deixar as pessoas ainda mais propensas a se agarrarem em falsas certezas", evidencia.
O lugar da educação
Para Maeve, de 9 anos, o trabalho realizado junto à escola foi fundamental para identificar, de maneira prática, conteúdos falsos. Foram realizadas atividades sobre checagem de fatos, a fim de apresentar fontes confiáveis.
Karina Gabrielle, mãe da garota, diz que o diálogo também acontece em casa: "Ensinamos onde pesquisar conteúdo escolar, sobre sites confiáveis, a usar as plataformas de vídeos de maneira consciente. Ela assiste alguns criadores, mas sempre estamos conversando a respeito, ensinamos também a tirar proveito, foi assim que ela aprendeu a desenhar", detalha.
Dentro de um aplicativo de bate-papo (projetado inicialmente para comunidades de jogos), Aiyê, de 12 anos, e um grupo de amigos da mesma idade, debatem, diariamente, sobre temas diversos. Durante o período eleitoral, por exemplo, os conteúdos suspeitos eram verificados por eles na própria sala do aplicativo. "De certa forma, eles estão criando guetos que têm uma possibilidade de viver uma partilha que é bem interessante e que tem sim informações. É um ambiente de debates ", conta Patrícia Antunes, mãe do garoto.
Há 14 anos, Carla Pinheiro é professora da educação infantil. Para ela, é fundamental fortalecer os laços entre escola/família/comunidade, a fim de conquistar abertura para o diálogo. Certa vez, Carla foi questionada se estava "pregando ideologia de gênero na escola". Ela diz que o responsável tinha a pretensão de se informar, contudo, estava embasado em um pensamento equivocado.
"Busquei entender a compreensão dele sobre o tema, a partir de uma conversa bem tranquila, trazendo como trabalhávamos. Perguntei sobre as motivações para o questionamento, explicando que as crianças brincavam com brinquedos diversos", afirma, ressaltando a importância da escuta no combate às fake news, especialmente quando lidamos com crianças.
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