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Óleo de cannabis ou óleo de oliva? Teste ajuda a evitar golpes

Fabiano Soares e James Kava, criadores da Reaja - Kleber Holanda/Divulgação
Fabiano Soares e James Kava, criadores da Reaja Imagem: Kleber Holanda/Divulgação

De Ecoa, em São Paulo

06/02/2023 06h00

Desde 2015, uma dupla de químicos de Curitiba (PR) fornece um produto único no Brasil e que auxilia na redução de danos do uso de drogas: testes colorimétricos para a identificação de diferentes tipos de substâncias.

Com os reagentes da empresa Reaja Soluções Colorimétricas, a amostra de uma substância muda de cor para indicar a presença de determinada droga, como cocaína, LSD, MDMA e anabolizantes.

O objetivo é saber o que está sendo consumido. Será que o óleo vendido na internet é, de fato, à base de cannabis ou apenas um pouco de azeite de oliva?

A tática se enquadra na estratégia de saúde pública de redução de danos, que privilegia a educação e autonomia sobre o uso de drogas. Apesar da aplicação potencial em substâncias ilícitas, os reagentes são totalmente legais e têm sido empregados até mesmo pela polícia.

Segundo um dos fundadores da Reaja, James Kava, a realização dos testes é pensada para um cenário de regulamentação das drogas, mas convive com o proibicionismo.

"Melhor que educar contra as drogas é educar sobre as drogas. A gente já viu que educar contra não funcionou e educar sobre não significa necessariamente que se precise consumir mais", defende Kava.

'Revolucionou o mercado da cannabis no Brasil'

Os kits fabricados pela Reaja ganharam uma importância ainda maior com o avanço do uso da cannabis medicinal no Brasil.

Em 2018, a empresa passou a oferecer reagentes para testar a presença dos componentes da planta - primeiro do CBD e depois do THC. Com isso, os testes se tornaram uma ferramenta usada por pacientes, médicos e associações contra fraudes, que proliferaram no mercado paralelo com a promessa de fornecer o medicamento de forma menos burocratizada e mais barata.

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Reagentes para CBD e THC comercializados pela Reaja
Imagem: Divulgação

Consultora canábica e mãe de uma paciente com Síndrome de Down e autismo em tratamento com o óleo de cannabis há quatro anos, Cris Palacios conheceu a Reaja em um momento em que estava disposta a recorrer a qualquer saída pelo bem do tratamento da filha, Valentina.

Os testes colorimétricos permitiram que ela verificasse todos os diferentes óleos que a filha já tinha tomado e, com base na composição, entender por que não haviam surtido o resultado esperado. Ela também conseguiu kits para doar a outros pais que, como ela, buscavam o medicamento ideal para seus filhos e se tornavam presas fáceis de golpistas.

Em 2021, segundo Kava, os testes contribuíram para "desmascarar" uma conta de Instagram pujante que dizia vender produtos medicinais à base de cannabis.

"Foi importante para a maturação do mercado canábico brasileiro, um momento pedagógico pra todo mundo entender que não se deve comprar qualquer coisa de cannabis.", afirma.

A Reaja também se faz útil na prática clínica de médicos que prescrevem cannabis. É o caso do clínico geral Renan Abdalla, que atende em Curitiba: "No consultório, eu sempre tenho a Reaja em mãos", diz a Ecoa. "Ele é importante principalmente quando o paciente compra um óleo mais artesanal, quando compra pela internet um óleo que não tem verificação ou um produto de uma empresa nova que a gente ainda não tem confiança".

Identificar a presença ou ausência de CBD e THC faz diferença porque cada componente tem uma ação e é indicado para determinadas doenças. O CBD é usado por exemplo para ansiedade, depressão, insônia e crises convulsivas, enquanto o THC é prescrito para Alzheimer, Parkinson, dor crônica e para aliviar efeitos colaterais da quimioterapia.

"A Reaja sem dúvida revolucionou o mercado da cannabis aqui no Brasil, ajudou muitas famílias e a nós médicos."
Renan Abdalla, clínico geral

'A cannabis chegou pra ficar'

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Os químicos Fabiano Soares e James Kava, sócios fundadores da Reaja
Imagem: Divulgação

Químicos formados pela Universidade Federal do Paraná, James Kava e Fabiano Soares foram militantes da Marcha da Maconha de Curitiba por anos antes de criarem a Reaja.

A empresa surgiu com a proposta de subsidiar coletivos de redução de danos que atuam em festas, onde oferecem um local de acolhimento com informações sobre drogas e a possibilidade de testar substâncias para prevenir riscos.

James ainda atuava como educador em um projeto com adolescentes em vulnerabilidade social e em uso abusivo de drogas quando a Reaja começou, na edícula da casa de Fabiano. Hoje eles vendem pelo site em média 300 a 400 kits de reagentes ao mês, para todo o Brasil. O kit para a cannabis é o segundo mais vendido, tem saída contínua e fez aumentar as buscas pela empresa.

"É um processo irreversível, a cannabis chegou pra ficar. Agora a gente tem que saber educar esse discurso para que possa ser feita a regulamentação de outras substâncias", diz Kava.