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Os feitos de cientistas brasileiras que impactam sua vida e você nem sabia

O Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência é celebrado neste 11 de fevereiro. - Montagem
O Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência é celebrado neste 11 de fevereiro. Imagem: Montagem

De Ecoa, em São Paulo (SP)

11/02/2023 06h00

Só 28% dos pesquisadores no mundo são mulheres, estima a Unesco. Desde 1903, ano em que Marie Curie foi a primeira mulher laureada, apenas 17 delas ganharam o Prêmio Nobel em física, química ou medicina. No Brasil hoje, mesmo sendo maioria, mulheres quase nunca chegam às posições mais altas do mundo acadêmico.

Foi com o objetivo de combater barreiras que impedem mulheres de se desenvolver em áreas científicas - como a discriminação e expectativas sociais que afetam a qualidade da educação que recebem - que a ONU instituiu em 2016 o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, celebrado neste 11 de fevereiro.

Apesar das dificuldades, pesquisadoras mulheres estão por trás de contribuições transformadoras em áreas como climatologia, genética, química, história, educação e psiquiatria, e são sempre lembradas na cobertura de Ecoa:

Ela criou produto para tirar óleo das praias do Nordeste

Retrato de Leonie Asfora Saruboo uma das cientistas mais influentes do mundo. Dentre suas pesquisas, está um biodetergente que ela desenvolveu e que foi usado na remoção dos óleos que vazaram de um navio grego e atingiram as praias do Nordeste, em agosto de 2019. - Ricardo Labastier/UOL - Ricardo Labastier/UOL
Retrato de Leonie Asfora Saruboo uma das cientistas mais influentes do mundo. Dentre suas pesquisas, está um biodetergente que ela desenvolveu e que foi usado na remoção dos óleos que vazaram de um navio grego e atingiram as praias do Nordeste, em agosto de 2019.
Imagem: Ricardo Labastier/UOL

A cientista pernambucana, Leonie Sarubbo está em um grupo seleto: está entre os 2% dos pesquisadores mais influentes do mundo. A façanha foi medida pelo Índice World Scientist and University Rankings 2023, que avalia o desempenho e o valor agregado à produção científica.

O motivo? Há mais de 20 anos trabalhando na área química, Leonie criou um detergente que retirou óleo de praias do Nordeste em 2019. Um dos atributos da invenção é a capacidade de remover o óleo sem afetar os animais que vivem no entorno.

Ela sequenciou o genoma da SARS-COV-2

Jaqueline Goes, que atuou ao lado de Ester Sabino no mapeamento do coronavírus - Fernando Moraes/UOL - Fernando Moraes/UOL
Jaqueline Goes, que atuou ao lado de Ester Sabino no mapeamento do coronavírus
Imagem: Fernando Moraes/UOL

A cientista Jaqueline Goes de Jesus foi uma das primeiras biomédicas a sequenciar o genoma do SARS-COV-2, que teve um papel fundamental para a ciência e no desenvolvimento das vacinas para a covid-19. E isso em tempo recorde: foram 48 horas para conseguir o sequenciamento do vírus.

Nascida em Salvador, Jaqueline é biomédica, doutora em patologia humana e pesquisadora. Pelo feito, o reconhecimento veio em forma de homenagens na Assembleia Legislativa da Bahia, virou personagem da Turma da Mônica e até boneca Barbie.

Ela inventou programa de computador que consegue diagnosticar esquizofrenia

A neurocientista Natália Mota - Allan Lira/UOL - Allan Lira/UOL
A neurocientista Natália Mota
Imagem: Allan Lira/UOL

Natural de Fortaleza e radicada em Natal há mais de 20 anos, a neurocientista Natália Mota foi a única cientista sul-americana indicada ao prêmio Nature Research Award de 2019.

Membro do laboratório Sono, Sonhos e Memória do Instituto do Cérebro da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), o reconhecimento veio por causa do projeto que desenvolve desde 2016, em que, a partir de um programa de computador, consegue reduzir o tempo do diagnóstico de esquizofrenia, que geralmente leva dois anos — o trabalho contribui para antecipar tratamentos e controlar o distúrbio.

Ela fez estudo pioneiro sobre efeitos psíquicos do racismo

A psiquiatra e psicanalista Neusa Santos Souza - Lea Freire/Acervo pessoal - Lea Freire/Acervo pessoal
A psiquiatra e psicanalista Neusa Santos Souza
Imagem: Lea Freire/Acervo pessoal

Muito antes da reforma psiquiátrica dos anos 2000, a médica e ativista baiana Neusa Santos Souza já adotava práticas humanizadas de tratamento, como a arte terapia.

Sua pesquisa sobre os impactos psíquicos do racismo também foi pioneira: a dissertação "Tornar-se negro: As vicissitudes do negro brasileiro em ascensão social" foi publicada em livro em 1983, mas ainda é pouco discutida nas graduações.

Referência obrigatória no estudo das consequências psicológicas do racismo na saúde mental de pessoas negras, o estudo ficou anos fora de circulação e só foi reeditado em 2021, apagamento que também tem relação com o racismo e o machismo.

Ela revolucionou o estudo dos Quilombos no Brasil

A historiadora, cientista social e militante negra Beatriz Nascimento (1942-1995) - REPRODUÇÃO/ORI - REPRODUÇÃO/ORI
A historiadora, cientista social e militante negra Beatriz Nascimento (1942-1995)
Imagem: REPRODUÇÃO/ORI

Quando chegou na universidade, Beatriz se incomodou com o "eterno estudo sobre o escravo" no curso de história. Para ela, essas pesquisas faziam parecer que a população negra só tinha existido como mão de obra escravizada no país.

Como pesquisadora, ela defendeu a necessidade de uma história centrada na visão afro-brasileira e deixou um importante legado de pensamento sobre quilombos - tema que estudou por 20 anos, indo até a África para investigar suas raízes -, mulheres negras e resistência negra. Também escreveu e narrou o documentário "Ôrí", sobre a trajetória dos movimentos negros no Brasil nos anos 1970 e 1980, que a tornou mais conhecida.