É verdade que usar glitter faz mal? E qual melhor forma de tirar do corpo?
Mais um Carnaval e o debate está de volta: é verdade que o glitter faz mal ao meio ambiente? Pode ou não pode usar?
Em resumo, o glitter pode, sim, fazer mal à natureza. O problema está relacionado à própria composição do material, que é um microplástico feito de filme poliéster PET, revestido de alumínio e outra camada de plástico.
Hoje, para se ter uma ideia, cerca de 92% de todo o plástico que existe na superfície do oceano é microplástico, estima a organização não-governamental britânica Environmental Investigation Agency (EIA).
Mas que tipo de prejuízos podem ser causados por esse produto? E o tamanho desse impacto? Ecoa ouviu especialistas para responder essa e outras questões sobre o assunto.
Por que o glitter pode fazer mal ao meio ambiente?
Professora do curso de engenharia ambiental da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), Rafaela da Silva Limons da Cunha explica que o glitter é formado por plástico, metal e outros aditivos para dar cor ao produto.
Por ser cortado em partículas muito pequenas, com menos de 5 milímetros, esse material, quando escorre por ralos, não é removido facilmente pelo sistema de tratamento de esgoto. "O destino final acaba sendo rios e oceanos. Como um plástico leva anos para se degradar, isso não se decompõe rápido, pode ser ingerido pela fauna marinha e interferir em toda a cadeia alimentar aquática", observa.
Qual o impacto do glitter no meio ambiente?
O problema, exemplifica Rafaela, começa com a infiltração de microplásticos como o glitter no ecossistema aquático.
Os estragos causados pelo produto seguem a ordem da cadeia alimentar, com a ingestão do microplástico por algas, plânctons e peixes, até chegar aos seres humanos que consomem o animal contaminado.
"Alguns estudos indicam que essa ingestão de plástico está ligada a disfunções hormonais que afetam tanto a flora e a fauna quanto os seres humanos. Um exemplo disso seria uma dificuldade de crescimento ao longo dos anos dos diferentes tipos de seres marinhos, além da morte desses animais", pontua a engenheira ambiental.
No final dessa cadeia alimentar, os seres humanos também estão bastante expostos a esses contaminantes. Microplásticos já foram encontrados em pulmões, fígados, baços e rins humanos.
"Um estudo detectou recentemente microplásticos nas placentas de recém-nascidos. A extensão total do impacto disso na saúde humana ainda é desconhecida", frisa Bruno Yamanaka, especialista do Instituto Akatu.
O glitter biodegradável é uma alternativa mais sustentável?
Apesar de não ser produzido com plástico, o glitter biodegradável nem sempre será a opção mais segura para o meio ambiente, pondera a professora Rafaela.
Ela comenta que já existem estudos indicando que mesmo a versão ecológica, com materiais como celulose, pode ser prejudicial. Isso porque o produto poderia acumular poluentes.
Professora da Coordenadoria Especial em Oceanografia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Alessandra Larissa Fonseca chama atenção ainda para o preço do glitter biodegradável, que nem sempre é acessível a todos os foliões. "A indústria, em si, não dá outra opção que não seja econômica", assinala.
Como, então, aproveitar a folia sem colocar o meio ambiente em risco?
A professora Alessandra pontua que uma alternativa para minimizar o impacto do descarte do glitter em grande quantidade é evitar retirá-lo do corpo e rosto diretamente na água, como no banho.
A recomendação é usar algum tipo de resíduo para fazer essa remoção, como algodão e lenços umedecidos, e descartá-lo no lixo.
"Pelo menos, evitamos que isso fique na natureza, circulando e sendo fragmentado", diz ela, ao considerar, no entanto, que embora o glitter seja prejudicial ao meio ambiente, há atividades que geram resíduos plásticos em escalas muito superiores no mundo todo diariamente e que também precisam ser discutidas. É o caso da agricultura, que gera 1,3 bilhão de toneladas de plástico por ano no ambiente marinho.
Ainda no campo das alternativas, outra possibilidade é a substituição da purpurina tradicional por condimentos, como pó de urucum e páprica, recomenda Rafaela da Silva Limons da Cunha. "O glitter comestível, usado na decoração de bolos e doces, feito com gelatina em pó e corante comestível, também poderia ser uma opção", indica.
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