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Enfrentando racismo, ela fundou a escola de samba mais antiga de São Paulo

Madrinha Eunice - Arquivo pessoal
Madrinha Eunice Imagem: Arquivo pessoal

De Ecoa, em São Paulo (SP)

21/02/2023 06h00

Chegou o dia de saber quem será a escola de samba campeã do Carnaval paulistano. Uma delas, no entanto, não está na competição do grupo especial, mas carrega o título de agremiação mais antiga em atividade em São Paulo.

A Lavapés nasceu em 1937, graças a uma figura pioneira: Madrinha Eunice. "Na década de 1930 tinha muita discriminação com mulheres e negros. E ela, com toda sua firmeza e altivez, montou uma escola", disse Rosemeire Marcondes, neta de Madrinha Eunice, a Ecoa.

Rose destaca o espírito de liderança da avó e o respeito que as pessoas tinham por ela: "Foi uma mulher maravilhosa, que educou mais de 40 crianças, afilhadas dela. Ela sempre gostou de criança por perto, ajudou e cuidou de todo mundo".

madrinha eunice - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Madrinha Eunice
Imagem: Arquivo pessoal

Quem foi Madrinha Eunice?

Filha de escravizados libertos, Deolinda Madre, a Madrinha Eunice, nasceu em 1909 em Piracicaba, no interior paulista. Se mudou para a capital ainda criança e se instalou no bairro da Liberdade, região central de São Paulo.

Estudou até o quarto ano do primário e, ainda nova, passou a vender limões em uma banquinha. Chegou a ter quatro bancas de venda de frutas na região da Sé.

"Quando chegava o fim do ano, ela juntava o dinheiro de novembro, dezembro e janeiro para fazer o Carnaval e sustentava todos nós com o dinheiro das vendas de limão", lembra Rose.

Deolinda frequentava com a família o samba de Pirapora, encontro da comunidade negra e do samba rural paulista no município de Pirapora do Bom Jesus, e os festejos carnavalescos do Brás.

Quando Madrinha Eunice se encantou pelo Carnaval carioca

Mas o que a inspirou a criar uma agremiação foi a festa carioca: em 1936, ela conheceu o Carnaval da Praça Onze e voltou encantada.

Fundou a Lavapés com familiares e amigos e a escola foi a maior campeã do Carnaval paulistano nos anos 1940 e 1950.

Segundo a neta, Deolinda chegou a compor sambas e adorava cantar. Ela lutou pela oficialização e reconhecimento do Carnaval paulistano e era a única mulher no comando de uma escola naquela época. Quando o marido, conhecido como Chico Pinga, pediu que ela escolhesse entre ele e a escola, ela ficou com o samba e preferiu se separar.

A historiadora Marília Belmonte destaca o legado de Madrinha Eunice para o Carnaval de São Paulo e seu papel comunitário fundamental na Liberdade e na baixada do Glicério, bairros negros:

"O protagonismo feminino sempre existiu dentro do samba e do Carnaval. Figuras como Madrinha Eunice precisam ser vistas como construtoras do Brasil, da cidade e do nosso patrimônio cultural", disse Belmonte a Ecoa.

Escultura de Deolinda Madre, conhecida como Madrinha Eunice, no bairro da Liberdade - Rovena Rosa/Agência Brasil - Rovena Rosa/Agência Brasil
Escultura de Deolinda Madre, conhecida como Madrinha Eunice, no bairro da Liberdade
Imagem: Rovena Rosa/Agência Brasil

A estátua de Madrinha Eunice em São Paulo

Madrinha Eunice morreu em abril de 1995, de complicações decorrentes do diabetes. Em sua homenagem, uma estátua dela está localizada na Praça da Liberdade, em São Paulo (SP).

Criada pela artista Lídia Lisboa, a estátua em bronze de 1,7 metro de altura por 60 centímetros "dança" de saia rodada, turbante, colares e pulseiras nas proximidades do local onde, há 86 anos, Madrinha Eunice criou a escola de samba mais antiga de São Paulo ainda em atividade.