Topo

No litoral de SP, escola arrecada doações para alunos: 'Perderam tudo'

Voluntários preparam marmitas para distribuir na comunidade atingida pela chuva em Boracéia. - Rebeca Freitas
Voluntários preparam marmitas para distribuir na comunidade atingida pela chuva em Boracéia. Imagem: Rebeca Freitas

Rebeca Freitas

Colaboração para Ecoa, em Bertioga (SP)

23/02/2023 06h00

Um grupo que compõe o quadro de funcionários da Escola Municipal de Ensino Infantil e Ensino Fundamental (EMEIF) de Boracéia, em Bertioga, se uniu neste carnaval para ajudar pessoas que perderam seus bens em decorrência das chuvas que atingem o litoral norte do estado de São Paulo desde o último sábado (18). Segundo o Centro Nacional de Previsão de Monitoramento de Desastres (Cemaden), os índices acumulados são de 683 mm de chuvas em Bertioga, recorde nacional. O governo estadual decretou estado de calamidade pública na cidade.

- Como ajudar vítimas das enchentes do litoral norte?

Há famílias que ficaram sem roupas e água, além de terem colchões e eletrodomésticos, como geladeiras e fogões, completamente danificados. Graças a união de algumas professoras, agentes escolares e amigos, o restabelecimento de dignidade nesse primeiro momento pós-danos foi levado a algumas famílias da região prejudicada.

Um grupo voluntário formado por cerca de 15 pessoas está levando marmitas com comida caseira e oferecendo colchões e roupas, para que essas famílias que perderam quase tudo, não fiquem completamente vulneráveis. O grupo é composto por pessoas com amor às crianças afetadas pela tragédia, que são alunos da escola em que a maioria trabalha.

O endereço dessas crianças e de responsáveis são ruas sem nome e sem asfalto. A área popularmente chamada de "invasão" era originalmente mata e, conforme os moradores, a vegetação foi aberta a mão, formando uma comunidade que abriga aproximadamente 700 pessoas.

"A minha casa ficou bem alagada, perdi tudo. Mas graças a Deus e a vocês, que estão ajudando bastante, estou me recuperando aos pouquinhos", conta Pedrina dos Santos Meireles, que mora na área há dois anos e viu seus móveis e objetos ficarem embaixo d'água.

1 - Rebeca Freitas - Rebeca Freitas
Pedrina ao lado do filho, Miller, recebendo doação de marmita e água.
Imagem: Rebeca Freitas

Na área alagada, casas de madeirite, algumas delas vedadas nas laterais e no teto com sacos de lixo e lonas. Com as chuvas, as ruas de barro ficaram lamacentas e as condições precárias expõem os moradores a diversas doenças, como dengue e verminoses.

A agente escolar Regina Filomena, compõe o quadro de funcionários da EMEIF Boracéia e tem contato frequente com a comunidade que cerca o local. Ela relata que com a pandemia, muitas pessoas perderam seus empregos, o que triplicou o número de habitantes na comunidade.

"Essas pessoas estão lá não porque querem. Qualquer terreno é caro. Elas estão lá porque não podem construir em outros lugares", diz a educadora que acompanha alunos com neurodiversidades ou deficiência em sala de aula.

Iniciativa que vem do coração

2 - Rebeca Freitas - Rebeca Freitas
Arquibancada do ginásio da EMEIF Boracéia abriga roupas e alimentos.
Imagem: Rebeca Freitas

Uma das grandes aliadas pela mobilização de voluntários e arrecadação de doações foi a professora Claudinéia Freire, responsável pelo corpo docente da EMEIF Boracéia.

Claudinéia contou a Ecoa que tudo começou com uma publicação em suas redes sociais no domingo (19) pedindo a colaboração de pessoas próximas, com a arrecadação de doações. Logo, o poder público cedeu a quadra da escola em que ela trabalha para que ali virasse um ponto de armazenamento e retirada de donativos. O grupo já arrecadou colchões, roupas, 500 litros de água e 200 quilos de alimentos

Muitas roupas, sapatos, alimentos e fraldas foram entregues a cerca de 100 pessoas que passaram pela EMEIF Boracéia na segunda-feira de carnaval (20). Foram mais de oito horas de trabalho dos voluntários, que se mantiveram ativos em busca de ajudar as pessoas que transitaram pelo ginásio da escola.

"Não temos mortos em Boracéia, mas temos pessoas que perderam tudo. Estou aqui para receber e dar um aconchego para essas pessoas que estão chorando", afirmou Claudinéia, que atua há 19 anos na educação em Boracéia.

A ajuda ganhou reforços quando a dona de um estabelecimento local cedeu a cozinha de sua lanchonete para a confecção de marmitas. A empresária Joyce Ribeiro atendeu ao pedido dos voluntários de prontidão. "Eles estavam arrecadando alimentos, mas perceberam que as pessoas não tinham onde cozinhar. O mínimo que posso fazer é ceder meu espaço para colaborar de alguma forma", explica Joyce.

3 - Rebeca Freitas - Rebeca Freitas
Barracos de madeirite foram invadidos pela água das chuvas
Imagem: Rebeca Freitas

Além de contribuir com o espaço de seu estabelecimento, Joyce também foi responsável por arrecadar fundos com os vizinhos do condomínio fechado onde a lanchonete fica. Cerca de R$ 2.100,00 foram levantados em doações feitas através do pix. Esses recursos vão para a compra de carnes para marmitas e de fardos de água.

O município de Bertioga também conta com outros pontos de arrecadação. Confira:

Pontos de arrecadação em Bertioga:

Fundo Social de Solidariedade - R. Valter Pereira Prado, 121, Centerville

Centro Comunitário Vila do Bem Chácaras - Rua São Gonzalo, s/nº, Chácaras

Capela Nossa Senhora Rainha dos Anjos -Rua dos Lanares 301, quadra A, Guaratuba

Vila do Bem Boraceia - Av. Henrique Arcuri, 99, Balneário Mogiano

Casa da Cultura - Av. Tomé de Souza, 130, Centro

Pousada Clariô - Av. Anchieta, 10675, Jardim Indaia