'A abelha me deu um carro': Reúso de cera muda vida de apicultores na PB
Para muitos empreendedores, combinar lucro com a preservação do meio ambiente é um desafio. O jovem apicultor Delfino Oliveira, 29, do município de Esperança, na região do Polo da Borborema (PB), ensina que essa combinação é mais que possível.
Há três anos, ele passou a reaproveitar a cera de abelha alveolada e eliminou o resíduo da sua cadeia produtiva de mel, tornando-a ambientalmente sustentável. Além disso, ele se livrou da despesa com a compra do produto em terceiros, que custa, em média, R$ 70 o quilo.
A cera alveolada é proveniente do opérculo, um tampo construído pelas abelhas sobre os favos para sinalizar que o mel já está em ponto de coleta, ou seja, que alcançou de 18% a 20% de umidade. Antes disso, sempre que precisava limpar e renovar o apiário, Delfino descartava o opérculo no solo e comprava a cera de terceiros — um tipo de negócio em que todos saíam perdendo, do bolso do agricultor ao meio ambiente.
"Além de economizar dinheiro, [a tecnologia] aprimorou a produção, porque, a partir do momento que eu preciso da cera, eu tenho ela. A cera alveolada também melhora a qualidade da abelha, porque evita parasitas que causam doença no apiário. A gente limpa e nasce aquela abelha forte, saudável", afirma.
Além de limpa, tecnologia é barata e segura
Para produzir 1 kg de cera, uma colmeia robusta, com um enxame de cerca de 70 mil abelhas, consome 6 kg de mel. Reaproveitando a cera alveolada, o mel que as abelhas precisariam consumir para produzir o produto, desta vez, será colhido pelo apicultor, aumentando a produção. Delfino diz que já chegou a pagar R$ 90 por 1 kg de cera. Para fugir do alto preço, na busca por ceras mais baratas, muitos apicultores compram produtos sem saber que são adulterados com parafina, por exemplo. Por essa razão, produzir a própria cera, além de barato, também é seguro, já que o apicultor conhece sua procedência.
Foi em seu intercâmbio, na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), unidade de Bananeiras, que Delfino descobriu a tecnologia de reaproveitamento do produto. No encontro com técnicos da universidade, ele e outros jovens produtores de mel aprenderam que, no lugar do descarte, havia um caminho bem mais proveitoso para o opérculo. Graças a sua participação na Rede de Jovens Apicultores da Região da Borborema, onde foram adquiridos os equipamentos de beneficiamento, o jovem produtor pôde dar início ao beneficiamento.
Da produção ao comércio, o uso sustentável da cera
A experiência de Delfino como apicultor começou cedo, aos 12 anos, quando ganhou de presente duas colmeias de abelha uruçu. Desde então, passou a produzir mel e enxames para comercializar. Há quatro anos, ele aprendeu a lidar com a abelha italiana, que aperfeiçoou sua produção.
Mas como funciona todo o processo? "É bem simples", diz ele. Envolve as etapas de derretimento do produto, resfriamento e modelagem no formato de lâmina com pequenos alvéolos impressos. Além de servir à produção, que é feita uma vez ao ano no período de limpeza do apiário, a cera também é comercializada nas redondezas.
Uma das estratégias de sustentabilidade da Rede de Jovens Apicultores, da qual Delfino faz parte, é o fundo rotativo solidário. Nesta modalidade, os jovens criam uma poupança e decidem, coletivamente, como investirão os recursos na compra de equipamentos para ampliar a produção de mel e de todos os integrantes. Dessa forma, foram adquiridos roupões e os equipamentos de beneficiamento da cera, além de outros itens necessários à produção do mel. A gestão e o uso desses equipamentos são compartilhados entre os produtores.
Com o mel e o favo de sua produção comercializados nas feiras orgânicas, em quitandas, Delfino chega a produzir anualmente 1,8 tonelada de mel em 18 coletores, o que dá uma média de 100 kg de mel por cada coletor. Com essa renda, o jovem apicultor consegue pagar o carro e a moto utilizados na entrega das frutas, verduras e legumes produzidos.
"Todo ano, eu emplaco carro e moto, faço revisão dos meus transportes, tudo com dinheiro do mel. E o que sobra é investido em equipamento, roupa e na alimentação. Quando chega o período de escassez, tem que estar alimentando os enxames", finaliza Delfino, orgulhoso com a tecnologia limpa e produtiva que, hoje, ele vê florescer no quintal de casa.
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