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Comida grátis: restaurante começou nas ruas e doa 42L de sopa em 30 minutos

Ação na Praça Marechal distribui cerca de 150 porções de caldo de feijão em um dia  - Rivaldo Gomes/UOL
Ação na Praça Marechal distribui cerca de 150 porções de caldo de feijão em um dia Imagem: Rivaldo Gomes/UOL

De Ecoa, em São Paulo (SP)

15/03/2023 06h00

Quem para e observa o movimento nas imediações da Praça Marechal Deodoro, região central de São Paulo, às terças-feiras por volta das 18h30 vê uma cena peculiar. Um pequeno grupo de pessoas sai a pé do número 102 da Rua Brigadeiro Galvão carregando dois panelões de alumínio, uma mesa dobrável e uma mala com copos, guardanapos e outros apetrechos.

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Voluntários do Cozinha PCA levam sopa para realizar distribuição na Praça Marechal, no centro de SP
Imagem: Rivaldo Gomes/UOL

Eles caminham duas quadras e montam sua pequena estrutura na praça, um dos locais de concentração da população de rua no centro de SP, e distribuem cerca de 150 porções de caldo de feijão a quem se aproxima: pessoas em situação de rua, entregadores de aplicativo, trabalhadores da limpeza urbana, desempregados.

A ação social, chamada Cozinha PCA, teve início em junho de 2021. Ela conta com doações, o apoio de voluntários e de comércios da região para se manter. Em janeiro de 2023, seus criadores inauguraram um restaurante, o Ocupa Cozinha, dando uma sede — o número 102 da Brigadeiro Galvão — e uma fonte financeira ao projeto.

Ecoa acompanhou a primeira ação do ano na praça. Em um dia chuvoso, a distribuição durou cerca de uma hora, atraindo dezenas de pessoas.

Havia quem estivesse recebendo a sopa pela primeira vez e quem já conhecesse o projeto, como Juracy Silva Santos, que viveu na rua por 12 anos e agora está num centro de acolhimento: "Essa sopa já matou muito a minha fome. É um trabalho muito bonito, eles vêm até debaixo de chuva".

'O Brasil piorou'

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Cozinha PCA atende população de rua, trabalhadores e desempregados
Imagem: Rivaldo Gomes/UOL

Localizada entre os bairros Santa Cecília e Campos Elíseos, no entroncamento entre a Av. São João e a Angélica e ladeada pelo elevado João Goulart, o Minhocão, a praça Marechal Deodoro se tornou símbolo do crescimento da população de rua em São Paulo. A prefeitura registrou um aumento de 31% nesse contingente entre 2019 e 2021, período marcado pela pandemia de covid-19.

Uma faixa com a frase "O Brasil piorou" era vista na praça em 2022, em meio às barracas e ao acúmulo de lixo, segundo reportagem da Folha de S.Paulo. No início de 2023, as barracas foram removidas e a praça reformada, levando a população de rua a se concentrar embaixo do Minhocão.

Durante a pandemia, esse cenário chamou a atenção dos moradores dos bairros adjacentes à praça.

"Todo mundo [do projeto] mora por aqui e tem uma relação de andar muito a pé, de bicicleta ou pegar o transporte e sempre passar pelas mesmas pessoas todos os dias, em estado de muita vulnerabilidade", diz a Ecoa Daniela Sfeir, cozinheira e sócia do Ocupa Cozinha.

Sfeir se tornou voluntária poucos meses depois que os amigos Nicolas Caratori e Alexandre Martins fizeram a primeira ação na praça, em junho de 2021.

"É um trampo que tem que ser feito porque existe um vácuo do Estado", diz Caratori. Segundo ele, o projeto fez contato com a prefeitura ao longo desses dois anos em busca de autorização e apoio, mas a responsabilidade foi jogada de uma secretaria para outra.

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Os 42 litros de sopa costumam se esgotar em pouco tempo: até meia hora
Imagem: Rivaldo Gomes/UOL

Com o tempo, ouvindo as demandas das pessoas da praça, a distribuição do caldo de feijão começou a tomar a forma que tem hoje: se tornou semanal, passou a ocorrer às terças - um dos dias mais "vazios" de ações para a população de rua no local -, e às 18h30 em função da entrada nos albergues municipais.

"A gente não vê a ação social como uma caridade, mas sim como um trabalho coletivo e principalmente de bairro"
Daniela Sfeir, cozinheira

No início, a distribuição durava de duas a três horas. Mas logo a fama do caldo da praça se espalhou e os 42 litros passaram a ser vertidos em até meia hora. "Tem cada vez mais gente, principalmente famílias", diz Sfeir.

Um obstáculo para aumentar a quantidade de sopa distribuída é que "faltam braços" no projeto. Atualmente, o Cozinha PCA conta com quatro voluntários fixos e alguns eventuais que tocam a ação, do preparo do caldo de feijão à distribuição das porções na praça. O projeto abre inscrições para quem quiser participar todas as terças pela manhã em seu perfil no Instagram.

Casa própria

Os dois panelões distribuídos semanalmente pelo Cozinha PCA custam em média R$150 para serem preparados. Mas essa conta já chegou a dar o dobro e as doações nem sempre cobriam tudo.

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Nicolas Caratori na entrada do Ocupa Cozinha, inaugurado em 25 de janeiro na Barra Funda
Imagem: Rivaldo Gomes/UOL

Com a inflação dos alimentos, eles tiveram que chegar a uma receita enxuta para manter o custo nesse patamar. "A gente estava tirando dinheiro do nosso bolso, precisou cortar gastos para que a ação continuasse", diz Dani Sfeir.

Eles também criaram outra estratégia de arrecadação de fundos: ocupar cozinhas de bares e restaurantes próximos nos períodos em que estivessem ociosas.

Daí veio o nome do recém-inaugurado Ocupa Cozinha, voltado para atender uma clientela do bairro com um cardápio composto basicamente por pratos feitos. Aberto desde 25 de janeiro, o restaurante agora "ocupa" um sobrado colorido na Barra Funda.

Segundo a cozinheira Dani Sfeir, a ideia é que o restaurante e a ação na praça avancem juntos. Os criadores do projeto pretendem ampliar os dias de distribuição de comida e fundar uma associação.

Serviço:
Ocupa Cozinha
De quarta a sexta das 12h às 15h e 19h às 23h
Sábado das 12h às 16h e 19h às 23h
Rua Brigadeiro Galvão, 102 (próximo ao metrô Marechal Deodoro)

Pix: 24.938.260/0001-70
Contato de voluntários pelo Instagram: @cozinhapca