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Cientistas criam pele artificial para evitar teste de cosméticos em animais

Divulgação USP
Imagem: Divulgação USP

Ed Rodrigues

Colaboração para Ecoa, no Recife

16/03/2023 06h00

Cientistas da Universidade de São Paulo (USP) criaram uma pele artificial, produzida por bioengenharia, que se mostrou eficiente para ser usada em testes que avaliam a segurança e a eficácia de medicamentos e cosméticos.

A criação tem o objetivo de eliminar testes em animais, uma pauta que vem sendo discutida há anos. A pele artificial já passou por testes que comprovam a eficácia. Os resultados foram divulgados na revista Bioprinting e confirmam a similaridade de desempenho.

A Ecoa, a professora Silvya Stuchi Maria-Engler, titular do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, explicou que, após a reconstrução da pele humana em laboratório e sua validação, ela pode ser utilizada para as mais variáveis aplicações.

"Por exemplo, uma empresa cosmética obteve um novo princípio ativo que apresentou um grande potencial antioxidante. Porém ainda não se sabe se este efeito vai ocorrer quando aplicado sobre a pele humana, assim podemos verificar qual a eficácia desse efeito antioxidante. Além disso, podemos verificar se esse ativo tem capacidade de permear na pele, se ele não causa algum tipo de resposta inflamatória irritativa ou qualquer tipo de lesão, e assim, verificamos também a sua segurança", explicou.

Testes mais aprofundados

Uma vantagem de utilizar esses modelos de pele reconstruídos em laboratório, segundo a cientista, é que se pode aprofundar no estudo dos efeitos de substâncias a um nível de biologia molecular, que não era realizado nos testes tradicionais.

Pele - Divulgação USP - Divulgação USP
A 'pele artificial' permite testes ainda mais aprofundados de produtos
Imagem: Divulgação USP

Por exemplo, os testes de irritação usando animais eram tradicionalmente feitos em coelhos com o pelo raspado (teste de Draize), após a aplicação de uma substância de característica irritante ou corrosiva desconhecida, se anotava a resposta que se ocorria visualmente, como vermelhidão ou lesões cutâneas.

Já com os modelos de pele humana feitos em laboratório, aponta a professora, após a aplicação das substâncias é possível estudar qual o processo molecular envolvido para a ocorrência de uma irritação ou corrosão.

"Outro exemplo é comparar filtros solares que já têm seu fator de proteção solar (FPS) e verificar qual deles não causa lesões no DNA após irradiação ultravioleta. Também podemos simular doenças como dermatite atópica ou câncer de pele e testar a eficácia de potenciais medicamentos para a cura dessas doenças", ressaltou.

Alternativa é mais precisa

Os modelos de pele humana in vitro já substituem completamente inúmeros testes que antes eram realizados em animais e, em muitos casos, são muito mais precisos, segundo a professora.

Para a indústria cosmética, de acordo com Silvya Stuchi, a utilização dos testes alternativos como os testes in vitro com modelos de pele 'artificial', testes clínicos, modelos computacionais, e muitos outros disponíveis substituem totalmente a necessidade do uso de animais.

Essa substituição é uma tendência mundial a ser aplicada nas mais diversas áreas no futuro, como para a indústria farmacêutica e química

Silvya Stuchi, professora da USP

A pesquisadora diz que nos Estados Unidos o órgão que regula as leis das áreas farmacêuticas e alimentícia, o FDA (Food and Drug Administration), requer a implementação de novos métodos alternativos para a completa substituição do uso de animais em para a pesquisa e desenvolvimento de medicamentos até 2023, como uma forma melhorar a capacidade de prever o risco humano e a eficácia de muitos medicamentos.

No mundo científico, cada nova descoberta obtida é publicada em alguma revista científica. No entanto, para que descoberta seja válida, ela precisa ser reprodutível por outros grupos de pesquisa. Assim, todos os artigos publicados em revistas científicas descrevem a metodologia, materiais e ingredientes utilizados em cada processo.

Pele - Divulgação USP - Divulgação USP
Os modelos de pele humana in vitro já substituem totamente inúmeros testes que eram realizados em animais
Imagem: Divulgação USP

Empresas já utilizam

O modelo de epiderme ou pele humana contendo outras camadas da pele foi sendo aprimorando ao longo do tempo, até chegar nos dias de hoje, quando os testes de segurança e eficácia de produtos de consumo, como da indústria química, farmacêutica ou cosmética pode ser realizado com relevância e similaridade aos obtidos na pele humana.

"Os resultados são, em muitos casos, até superiores aos resultados obtidos utilizando animais. Para validar esse modelo de pele humana reconstruído em laboratório, ou seja, verificar se ele responde adequadamente a produtos químicos como na pele humana, nós fazemos uma grande quantidade de testes, como por exemplo, a aplicação de substâncias de referência internacionalmente classificadas como corrosivos, irritantes ou não irritantes", destacou.

Após validados, os modelos de pele podem ser utilizados para verificar tanto a segurança quanto a eficácia de produtos de consumo, como os cosméticos. "Muitas indústrias cosméticas já utilizam e realizam estes testes de seus cosméticos utilizando seus próprios modelos de pele humana in vitro, como por exemplo L'Oréal, Natura e Boticário, no Brasil", concluiu.