Tartaruga robô? Em PE, biólogos têm ideia inusitada para salvar tubarões
No arquipélago de Fernando de Noronha, uma réplica de tartaruga marinha está servindo de isca artificial para atrair tubarões-tigre.
A tática faz parte de um estudo do Projeto Tubarões e Raias de Noronha, que, em parceria com o ICMBio Noronha, quer entender melhor o comportamento desses peixes.
Ameaçada pela pesca predatória, a espécie de tubarões, que tem em Noronha um de seus poucos refúgios em águas brasileiras, também tem sido alvo de incidentes envolvendo banhistas na região.
Para entender como os tubarões-tigre enxergam a presa e a atacam, drones e câmeras aquáticas e subaquáticas estão sendo utilizados para capturar os momentos de aproximação e possíveis ataques do animal.
Do tamanho de uma tartaruga jovem, a réplica, que foi produzida pelo pesquisador Alexandre Rodrigues, é feita de espuma vinílica acetinada (EVA). Nas águas de Noronha desde o dia 15 de fevereiro, a pesquisa tem duração prevista de, pelo menos, dois anos.
Com os resultados do estudo, os pesquisadores querem propor a proteção de áreas de reprodução e alimentação dos tubarões, além de atualizar os planos de manejo voltados ao local.
Com um melhor entendimento de como se comportam esses animais — incluindo sua movimentação e táticas de caça —, o projeto também deve aprimorar a segurança do arquipélago, ao minimizar o encontro entre tubarões e pessoas — a Baía do Sueste é um famoso destino de turistas para banho e mergulho.
Desde janeiro do ano passado, a praia encontra-se fechada para banho, devido a um incidente, próximo à areia, envolvendo um ataque de tubarão-tigre a uma criança de oito anos, que teve a perna amputada. Recentemente, a baía também suspendeu as atividades de mergulho devido à presença constante de tubarões-tigre na região.
Segundo Bianca Rangel, bióloga e coordenadora do projeto Tubarões e Raias de Noronha, a pesquisa é inédita no arquipélago, mas o uso de réplicas de presas para atrair tubarões já é uma prática utilizada em diversos estudos internacionais.
"O mais clássico, usado por pesquisadores e documentaristas, é utilizar focas de borracha que ficam na superfície da água para atrair e estudar o comportamento de tubarões-branco", diz Bianca, que também é pesquisadora do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP).
Única espécie de tubarão que mordeu humanos em Fernando de Noronha, os tubarões-tigre acabam confundindo os banhistas com suas presas, as tartarugas. "Outro fator importante (para os incidentes) é que o Sueste é uma região muito turva, ou seja, o tubarão entra para se alimentar (das tartarugas) e não consegue enxergar bem", destaca Rangel.
Como funciona a pesquisa?
A tartaruga falsa fica presa a uma boia em um ponto fixo. Em horários aleatórios, mas sempre com a presença de luz solar, equipamentos de filmagem são utilizados para monitorar a presença de tubarões. A captação das imagens é do cinegrafista Fabio Borges.
O trabalho leva em conta algumas variáveis, como altura da maré, luminosidade, transparência da água, cobertura de nuvens, presença de água de mangue, entre outros fatores que podem ou não influenciar o comportamento dos tubarões. Tudo está sendo analisado pelos pesquisadores.
Até o momento, por motivos que ainda serão explicados pela pesquisa, os tubarões-tigre que se aproximaram da réplica de tartaruga não partiram para o ataque. "Talvez precisaremos fazer adaptações na tartaruga, como fazê-la imitar o movimento natural desse réptil ou mesmo mudar sua coloração para atrair o tubarão", pontua a bióloga, destacando a importância dessa mordida para a continuação da pesquisa
Por que esse tipo de pesquisa é importante?
Fernando de Noronha é um dos poucos refúgios para tubarões-tigre em águas brasileiras. Fora das áreas protegidas, eles são pescados constantemente para o comércio de carne e nadadeiras. No Brasil, são comercializados como "cação".
Do ponto de vista da conservação, é essencial entender o comportamento de espécies ameaçadas e que cumprem um importante papel ecológico. Ricardo Araújo, analista ambiental e chefe do setor de pesquisa do ICMBio Noronha, afirma que os dados coletados podem, eventualmente, viabilizar a abertura da Baía do Sueste para banho — e, se for caso, indicar a melhor época do ano para isso.
"Queremos entender o quanto o Sueste é utilizado pelos tubarões, sua frequência e quais tipos de animais estão por lá, além do período do ano. Pode ser que, em alguns momentos, o manejo da área seja de paralisação das atividades recreativas ou fazê-las de forma alternativa. E, claro, essa decisão deve levar em conta outros fatores como turbidez da água, abertura do mangue, entre outros", afirma.
Com a conclusão da pesquisa, o projeto deve disponibilizar as imagens também para uso educativo, mostrando-as aos visitantes da ilha, que poderão ter a experiência de estar, virtualmente, no mar do Sueste.
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