Grupo que jogou sopa em quadro de Van Gogh não descarta ação no Brasil

O grupo ambiental mais temido do momento na Europa tem receio de protestar no Brasil. Mesmo assim, não descarta a hipótese de uma ação por aqui.

A afirmação é da enfermeira Kathryn West, integrante do controverso Just Stop Oil ("apenas pare com o petróleo", em tradução livre). O grupo protesta de forma polêmica contra a exploração de combustíveis fósseis no Reino Unido, um dos maiores emissores desses gases poluentes no mundo.

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Em outro de 2022, o JSO lançou sopa de tomate contra um quadro de Van Gogh, em Londres. Houve revolta e até simpatizantes ambientalistas foram contra o método.

Kathryn não descarta uma ação similar no Brasil, mas se sentiria mais insegura.

"Eu me preocuparia com um protesto [desse tipo] no Brasil", diz. "Só de ler as notícias, imagino que os riscos seriam maiores devido às ameaças e assassinatos violentos de ativistas ambientais na Amazônia", acrescenta.

As autoras da ação contra o quadro "Girassóis", de Van Gogh, foram presas e condenadas por danos ao patrimônio. Outro casal também foi multado ao equivalente a R$ 6 mil por jogar tinta em um quadro do pintor John Constable.

Nem sempre, porém, são tão assertivos. A maioria dos atos envolve usar cola para se grudar em ruas ou em molduras de obras de arte. As abordagens foram duramente criticadas pela opinião pública, mas também encontraram simpatia.

A queima dos combustíveis fósseis para produção de energia emite grande quantidade de CO2, um dos gases mais liberados na atmosfera em todo o mundo e responsável pela poluição do meio ambiente e aquecimento global.

Just Stop Oil: Quem são e o que fazem

O grupo justifica a tática por ter tido cartas e marchas ignoradas pelo governo britânico. Assim, decidiram ser mais chamativos.

O primeiro ataque de repercussão foi em julho passado, quando dois manifestantes colaram as mãos na moldura de uma cópia "A Última Ceia", de Leonardo da Vinci.

Em ataques como esse, os manifestantes sabem que há vidros de proteção sobre as telas, diz Kath. "É quase uma arte performática", diz. Os juízes interpretam diferente.

Os dois autores da cola no Da Vinci foram multados com o equivalente a R$ 4 mil. São riscos altos para quem tem uma vida comum. Segundo Kath, os colegas são professores, universitários, balconistas, médicos e há um piloto de avião. As multas são individuais e pagas com vaquinhas.

Kathryn, 32, é enfermeira na rede pública de saúde britânica. Em 2018, ela se irritou com uma manifestação que a impedia de chegar ao trabalho, mas o incômodo durou pouco tempo.

Em breve, ela vai depor por ter interrompido uma rua de Londres em outubro. A possibilidade de prisão é mínima, mas é possível que receba uma multa salgada. "Essa é a parte chata e desagradável entre tudo que estamos fazendo", diz.

Mas funciona ser agressivo?

Segundo ela, o Just Stop Oil se baseia no ditado: "falem bem, falem mal, mas falem de mim". Nesse ponto de vista, a estratégia parece dar certo.

"O que parece perigoso é um mero espetáculo, não é a realidade", escreveu um historiador da arte e ativista ambiental contrário ao grupo no jornal The Guardian. "A emergência climática é maior e mais urgente do que as modestas mudanças da nossa política convencional", rebateu outro colunista.

O Extinction Rebellion, também conhecido por ações ambientais contundentes, anunciou em janeiro que iria interromper as ações devido às repercussões negativas. O Just Stop Oil não intimidou e expandiu as ações para o Reino Unido, Alemanha e Austrália.

No Brasil, vida fácil

Caso lancem sopa em um quadro no Brasil, teriam vida fácil. A Folha de S. Paulo mostrou que é fácil entrar com enlatados em museus importantes, como o Masp e o Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC).

Se a tática está funcionando para pressionar Reino Unido? Kath diz que, ao contrário, o governo tentou endurecer penas contra manifestações e fechamentos de rua. O projeto não foi aprovado pelos parlamentares, mas o recado foi dado.

"Nós já estamos enfrentando ondas de calor com mais de 40 graus no Reino Unido, o que pode não ser tão incomum no Brasil, mas aqui é um recorde nunca antes visto", diz.