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Você comeria carne de mamute extinto? Empresa recria comida contra abate

Giacomo Vicenzo*

de Ecoa em São Paulo (SP)

29/03/2023 06h00

Fazer uma almôndega com a carne de um mamute extinto há milhares de anos já é uma realidade em 2023.

A comida feita de carne de mamute-lanoso foi recriada em laboratório pela Vow, empresa australiana de alimentos e cultivo de carne. A novidade, apresentada na noite de ontem (28) no museu de ciências Nemo, de Amsterdã, é um experimento para mostrar que é possível consumir proteína animal sem abate.

A criação foi feita com a sequência de DNA da mioglobina de mamute, que é uma proteína muscular que dá sabor à carne. Outras poucas lacunas foram preenchidas com DNA de elefante.

O passo seguinte foi, então, colocar a sequência em células-tronco de uma ovelha. Ao todo, o experimento deu origem a 20 bilhões de células utilizadas para criar a carne de mamute.

"Foi ridiculamente fácil e rápido. Fizemos isso em algumas semanas. Inicialmente, a ideia era produzir carne de dodô, mas as sequências de DNA necessárias não existem", explicou o professor Ernst Wolvetang, do Instituto Australiano de Bioengenharia da Universidade de Queensland, que trabalhou em parceria com a empresa, em entrevista ao The Guardian

Almôndega de mamute feita pela empresa Vow - Aico Lind/Studio Aico - Aico Lind/Studio Aico
Almôndega de mamute feita pela empresa Vow
Imagem: Aico Lind/Studio Aico

Corrida por carnes feitas em laboratório

A Vow não é a única na corrida da carne de laboratório, há dezenas de empresas desenvolvendo proteína animal recriada de células de frangos, porcos e de bovinos.

A diferença é que a companhia australiana tem se dedicado a combinar células de espécies não convencionais para criar a sua carne de laboratório. Entre os exemplos, estão búfalos, crocodilos, peixes e até mesmo cangurus.

Por que o mamute? A escolha por recriar células do mamute se deu porque, como afirma Tim Noakesmith, cofundador da Vow, o animal é "símbolo da perda de diversidade e mudança climática". Segundo os responsáveis pela ideia, o propósito alertar para o que a produção em larga escala de carne, a caça e as mudanças nos habitats naturais dos bichos e no clima global podem causar a uma espécie.

Os últimos mamutes morreram há 4 mil anos. O motivo é uma combinação de caça pelas populações humanas e instabilidades climáticas geradas por períodos de resfriamento global.

Produção sem metano e com pouco uso de água e energia

Mas será que tudo isso é mesmo sustentável? Para Wolvetang, professor que trabalhou no estudo, essa é uma saída ética e ambiental. Mas ele entende que inicialmente as pessoas sintam desconfiança com esse tipo de carne criada em laboratório.

Em todo o mundo, a agropecuária usa uma extensa quantidade de terra e água, além de gerar grandes emissões de metano — ao contrário da carne criada em laboratório.

A empresa Vow ainda afirma que a energia usada em seus laboratórios é de fonte renovável e que não utiliza o soro bovino fetal em seus produtos comerciais, que é produzido por meio do feto de gados.

Nas prateleiras, a primeira carne cultivada a ser comercializada pela Vow será a codorna japonesa, que tem expectativa de estar nos restaurantes de Cingapura ainda neste ano.

No entanto, a carne de mamute ainda permanecerá longe dos pratos, sendo feita apenas como um experimento e uma forma de provar que é possível encontrar alternativas para o consumo de carne convencional.

"Não vemos essa proteína há milhares de anos. Portanto, não temos ideia de como nosso sistema imunológico reagiria quando o comêssemos. Mas se fizéssemos de novo, certamente poderíamos fazê-lo de uma maneira que o tornasse mais palatável para os órgãos reguladores", completa Wolvetang.

*Com informações do The Guardian.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Os mamutes foram extintos há milhares de anos, diferentemente do informado anteriormente no início do texto 'milhões'. E como referenciado no decorrer da matéria, que aponta que os últimos mamutes morreram há 4 mil anos.