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O que a morte de Beto Freitas e os escravizados nas vinícolas têm em comum

De Ecoa, em São Paulo

08/04/2023 06h00

No dia 19 de novembro de 2020, dois seguranças terceirizados da Empresa Vector, espancaram Beto Freitas, de 40 anos, até a morte dentro de uma loja da rede Carrefour de Porto Alegre (RS), após supostos desentendimentos dele com uma atendente do caixa. Beto era um homem negro e morreu um dia antes da data em que se celebra o Dia da Consciência Negra no Brasil.

A rede Carrefour se eximiu de qualquer responsabilidade sobre a morte uma vez que os seguranças que mataram Beto Freitas não eram seus funcionários. Como uma espécie de mea culpa, foi firmado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) segundo o qual o Carrefour se comprometeu a destinar R$ 115 milhões a diversas ações.

"O TAC foi assinado por uma série de organizações da sociedade, como o Ministério Público Federal, o Ministério Público do Rio Grande do Sul, o Ministério do Trabalho, a Defensoria Pública do RS, Defensoria Pública da União", diz o jornalista Pedro Borges, da Alma Preta Jornalismo, que acompanha o caso desde o início. "No meu ponto de vista, nenhuma dessas entidades deveria ter aceitado isso" (a partir de 06:24 do arquivo acima).

Neste episódio de Papo Preto, Borges conta bastidores e desdobramentos do caso. "Desde o começo, nenhum movimento do Carrefour foi feito por um peso na consciência. Os movimentos foram feitos de uma maneira matemática muito bem calculada para evitar a perda de patrimônio e de recursos da rede", diz a partir de 04:41 do arquivo acima.

O jornalista diz que o desfecho do caso de Beto Freitas é o mesmo do que teve o caso das três vinícolas implicadas na denúncia de trabalho análogo à escravidão no Rio Grande do Sul. Ele diz que para grandes empresas acaba "valendo a pena" fazer exploração do ponto de vista financeiro.

"Essas empresas têm lucros exorbitantes em cima da exploração de trabalhadores e fazem pensando que um dia talvez possam ser auditados. Se forem, poderão ajustar um termo de conduta, que é mais barato para a empresa do que pagar os trabalhadores" (a partir de 15:55 do arquivo acima).

O jornalista diz que o processo da morte de Beto Freitas escancara o "caráter racista e classista do judiciário brasileiro". "Para uma empresa de CNPJ poderoso é possível negociar os seus crimes. Um cidadão que vem na rua e tira a vida de outra pessoa não tem a possibilidade de assinar um termo de ajustamento de conduta, vai responder e vai ser preso".

Papo Preto é um podcast produzido pelo Alma Preta, uma agência de jornalismo com temáticas sociais, em parceria com o UOL Plural, um projeto colaborativo entre o UOL, coletivos e veículos independentes. Novos episódios vão ao ar todas as quartas-feiras.

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