Bactérias que comem plástico podem resolver o problema do lixo no planeta?
Você fica assustado de olhar para a imagem da ilha de plástico que flutua pelo Pacífico? A tensão aumenta quando paramos pra pensar que ela é muito maior que aquilo, mas grande parte é invisível, composta de microfragmentos de materiais que chegam ao mar.
O caos é tanto que partículas de plástico já foram achadas no ambiente mais limpo e estéril do mundo, a placenta que abriga o feto durante a gestação. É isso: você pode ter comido plástico antes mesmo de nascer.
Mas uma das soluções apontadas por cientistas para acabar com o problema são as bactérias que degradam plástico, micro-organismos invisíveis capazes de acabar com o lixo. Mas será que, se soltos ali no meio do oceano, dariam cabo de todas as garrafas PET, redes de pesca, canudos e toda sorte de lixo colorido?
A professora Ellen Aquino Perpétuo, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), é bióloga especializada em resíduos e poluentes e afirma que não ainda. "O problema está instalado e é gigantesco. No começo dos estudos, em 2016, uma colônia de bactérias degradava 60 microgramas de PET em seis semanas - isso é menos que um grão de arroz", ela diz.
Ou seja: uma colônia toda ainda não teria dado conta de degradar nem 10 minúsculos e brilhantes pedacinhos de glitter que você usou no último Carnaval.
Estudos estão sendo aprimorados
A bactéria, descoberta no Instituto de Tecnologia de Kyoto, no Japão, é capaz de quebrar moléculas e digerir plástico usando duas enzimas, a petase e metase. Como precisam de carbono para produzir energia, algumas espécies são capazes de utilizar o plástico como fonte desse nutriente. Isso foi descoberto em um centro de reciclagem com 250 garrafas PET, água e lama.
Bárbara Rani-Borges, pós-doutoranda no Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), diz que o processo de degradação é incrível, mas como os próprios cientistas responsáveis por este estudo disseram na época, não era (e continua não sendo) viável em larga escala.
"A degradação do plástico por bactérias pode variar dependendo da espécie, das condições ambientais e das propriedades do plástico em questão. Não é possível estipular a real quantidade e velocidade", diz.
Embora o conceito seja promissor, ainda há muitos desafios a serem superados antes que essa tecnologia possa ser implementada em escala suficiente para ter um impacto significativo na redução do acúmulo do lixo. Somente em 2020, a produção global de plásticos atingiu a marca de 367 milhões de toneladas.
As bactérias não dão conta do volume. E ainda tem consequências: a quebra de materiais plásticos pode gerar subprodutos prejudiciais ao ambiente.
Podem surgir químicos tóxicos, como aditivos que são usados no processo de fabricação dos plásticos, e gases de efeito estufa.
Bárbara Rani-Borges, química
Há muita gente investindo nos estudos para que um dia a bactéria seja uma realidade alcançável. Na Universidade do Texas, tem se estudado enzimas capazes de acelerar a degradação. Na França, há trabalhos voltados para a decomposição do plástico até o nível da molécula, o que facilitaria sua reconstrução para fazer novos produtos.
E tem mais futurismo em jogo: há cientistas do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) mandando plástico e bactérias para o espaço, para ver como eles funcionam em um ambiente com gravidade zero e alta radiação UV.
Mas então o que fazemos com o plástico?
A redução do lixo plástico é urgente. Derrubar a produção do material é o primeiro passo para que as enzimas possam agir no imenso volume de lixo que já existe no planeta.
"Ainda estamos engatinhando nesse quesito. Porém, podemos olhar para os países que estão fazendo o que funciona. E uma das maneiras mais rápidas e efetivas é banir o plástico de uso único, seja por meio de conscientização ou regulação", ela diz.
Enquanto as bactérias não acabam com a Ilha do Pacífico...
- Recicle! Ecoa preparou umas dicas simples para você começar em casa;
- Há indústrias que transformam resíduos em novos produtos de maior valor. Por exemplo, garrafas plásticas podem ser transformadas em roupas, tapetes ou mobiliário.
- Outra tecnologia é o uso de plásticos biodegradáveis e de plásticos verdes. Os biodegradáveis são capazes de se decompor naturalmente em materiais mais simples e não prejudiciais ao meio ambiente, por meio de processos biológicos em condições específicas de temperatura e umidade.
- Já os plásticos verdes são produzidos a partir de fontes renováveis, como amido de milho, cana-de-açúcar, mandioca, entre outros. Eles são considerados "verdes" porque essas fontes renováveis de matéria-prima são renováveis e, em teoria, são menos prejudiciais ao meio ambiente do que os plásticos produzidos a partir de fontes fósseis, como o petróleo. Mas é importante notar que os plásticos verdes não são biodegradáveis e poluem o ambiente, sim.
- Há também o desenvolvimento de tecnologias para remoção de plásticos que já se encontram no ambiente. Funciona para partículas grandes, mas não com microplásticos. Como são praticamente invisíveis, a remoção é um desafio e tanto.
- Lembre-se também de que há resíduos inevitáveis, como o tubo de uma pasta de dentes. Mas há outros, como talheres de plástico, que podem ser evitados. A mudança de hábito pode vir aos poucos.
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