Papo Preto #123: Crianças pretas e periféricas na literatura infantil

As crianças do primeiro livro de história escrito pelo ilustrador Renato Cafuzo são negras e moram na favela. Isso porque, para ele, uma vez que as pessoas pretas e periféricas estão tendo oportunidade para publicar seus trabalhos elas devem usar o espaço para falarem de suas realidades. 'Histórias sem crianças brancas já existem muitas, há muito tempo. Se somos nós que estamos produzindo conteúdo de fato, acho que temos que falar sobre a gente", diz.

Neste episódio do Papo Preto, Cafuzo fala sobre o livro 'Moleque Piranha' e da importância da representatividade e identificação de crianças negras e periféricas com a literatura infantil. Esse é seu primeiro livro como escritor - já tem outros como ilustrador - e irá compor o acervo de 20 bibliotecas comunitárias da Baixada Fluminense e mais de 50 escolas no Complexo da Maré.

"Gosto muito do termo 'moleque piranha', que vem do funk e é uma brincadeira de poder aproveitar um elemento cultural que a favela produziu, nunca ia sonhar que ele pudesse se tornar um material voltado para criança, mas é assim que começa a história, meio que dando um 'sustinho' para quem vai ler", diz a partir de 08:25 do arquivo acima.

O livro traz também uma homenagem à vereadora assassinada Marielle Franco, que era também do Complexo da Maré, onde Cafuzo vive."Eu achei que as pessoas não iam notar, mas ficou nítido para quem pegou no livro. A professora eu a chamo de Tia Mari no texto e na hora de desenhar eu tentei fazê-la muito parecida com a história em quadrinhos dela, que o Instituto Marielle Franco publicou há um tempo" (a partir de 17:04 do arquivo acima).

"Nunca tive muita proximidade com a Marielle, eu a conhecia de encontrar em um evento ou outro, mas quando aconteceu o que aconteceu isso atravessou a vida de muita gente e foi um impacto para mim também. Acho que ela atravessa todo mundo da Maré, é uma identidade muito marcante", conclui o escritor.

Papo Preto é um podcast produzido pelo Alma Preta, uma agência de jornalismo com temáticas sociais, em parceria com o UOL Plural, um projeto colaborativo entre o UOL, coletivos e veículos independentes. Novos episódios vão ao ar todas as quartas-feiras.

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