'Crianças têm fome': na Terra Yanomami, hospital mira indígenas isolados
Desde o dia 14 de abril, a comunidade indígena Surucucu, em Roraima, tem acesso a um novo complexo móvel hospitalar, aliado importante na luta contra a crise humanitária que vem afetando os Yanomami. Instalada em tempo recorde, a iniciativa integra a Missão SOS Yanomami, da ONG Expedicionários da Saúde (EDS), que reúne profissionais de todo o país no amparo à saúde indígena, fortemente castigada por problemas como malária, desnutrição e problemas respiratórios, como consequência do avanço do garimpo ilegal em suas terras.
Em conversa com Ecoa, Marcelo Moraes, coordenador de Marketing da ONG e responsável pela operação SOS Yanomami, destacou a urgência de mobilizações como essa, que têm como principal alvo a recuperação de crianças e outras populações vulneráveis.
"Tem um enfermeiro que voltou de lá e nos contou como está a situação, bem triste. Muitos casos de malária e, agora, uma onda de covid-19. O Conselho Indigenista de Roraima divulgou que, em janeiro, 1,8 crianças Yanomami de até cinco anos estavam morrendo por dia. E tem todo um trabalho de recuperação dos casos de verminose", afirma.
10 mil indígenas yanomamis beneficiados
Equipada com sala de triagem, urgência, apoio hospitalar, consultórios e laboratórios de análise, a unidade móvel beneficiará moradores da própria aldeia, além de comunidades vizinhas, um público estimado em 10 mil pessoas, o equivalente a um terço da população Yanomami.
Com custo de R$ 5 milhões, a obra foi realizada a partir de doações de empresas privadas, em sua maioria ligadas à área de saúde. Além da construção do hospital, estão sendo realizadas obras de infraestrutura, como fossas sanitárias, poços artesianos, além da instalação de caixas d'água e de geradores de energia, visando garantir condições mínimas de sobrevivência às equipes de saúde no local.
"Teremos uma equipe multidisciplinar com pediatra, infectologista, clínico geral, médico intensivista, ultrassonografista, equipe de enfermagem, técnicos de laboratório, coordenação do hospital, equipe logística e de obras. Num futuro próximo estudaremos a possibilidade de levar outros especialistas como, por exemplo, ginecologistas. A ideia é que, depois, o Estado possa seguir com os atendimentos", diz.
'Quando o indígena deixa de caçar, as crianças sentem fome'
O hospital quer solucionar o máximo de problemas possíveis, evitando o deslocamento da população. "Nosso objetivo é evitar, ao máximo, o deslocamento para grandes cidades do estado, onde o sistema de saúde já está colapsado. Os casos muito graves serão encaminhados para Roraima pela aeronave do Comitê de Emergência em Saúde (COE) ou do pelotão de emergência do Exército Brasileiro", complementa Marcelo.
Embora tenha ganhado maior atenção midiática nos últimos meses, a crise humanitária na terra Yanomami não é recente. Em 2022, em uma das expedições de saúde a comunidades isoladas na Amazônia, a ONG já havia detectado uma grave crise sanitária na região.
"Por causa da invasão do garimpo, a malária se alastrou muito. Quando o indígena deixa de caçar, as crianças sentem fome. Por outro lado, quando se retira os garimpeiros, surge outra demanda, uma vez que eles oferecem alimento em troca de mão obra", diz Marcelo. O espaço realizará consultas, exames, pequenos procedimentos e internações. Além disso, contará com uma sala de emergência para receber casos graves e providenciar a remoção para a capital Boa Vista.
Os desafios logísticos da operação
Iniciadas em fevereiro, as obras exigiram uma logística apurada, já que os materiais de construção e equipamentos foram transportados de Boa Vista, em uma aeronave Caravan, que pertence ao COE, até a pista do pelotão de fronteira, localizado na comunidade Surucucu, onde o acesso por terra é inviável.
De lá, seguiram com o equipamento até o polo base do Distrito Sanitário Especial Indígena. Deste ponto até a unidade móvel de saúde, o trajeto leva 1,5 km e é feito de quadriciclo. Neste pequeno avião foram transportados gerador de energia, quadriciclo, triciclo, biodigestor, além de outros equipamentos.
A missão também contou com o apoio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que realizou um recenseamento na aldeia e cedeu a aeronave para o transporte de alguns equipamentos. Os equipamentos que servem para a montagem do hospital partiram das bases de distribuição, localizadas em Campinas (SP) e Manaus (AM).
Após saírem de um voo comercial em Campinas, as equipes de saúde e de obras seguem até Boa Vista, de onde fretam um taxi aéreo, geralmente com capacidade para oito pessoas, até a unidade móvel de saúde. Com o avanço da operação, os custos vão ficando ainda mais altos. "A gente sabe que não dá para contar sempre com transporte aéreo do governo, por isso o táxi aéreo, com um custo médio de R$ 15 mil por viagem", explica Marcelo.
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