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Domitila Barros tem nome inspirado em líder que combateu a ditadura

Domitila Barros no Complexo do Alemão - Caio Viegas
Domitila Barros no Complexo do Alemão Imagem: Caio Viegas

de Ecoa, em São Paulo (SP)

07/05/2023 06h00

"Você conhece a Domitila Barrios?", essa foi uma das inúmeras perguntas que Domitila fez a Dania Mendez quando ela chegou à casa do Big Brother Brasil vinda do reality "La casa de los famosos".

Fora do BBB, muitas pessoas entenderam como se a sister estivesse se referindo a si mesma, o que não foi o caso. Domitila Barros ganhou esse nome da mãe em homenagem à líder sindicalista Domitila Barrios.

Quem foi Domitila Barrios

Domitila Barrios  - Reprodução - Reprodução
Domitila Barrios participou do documentário A Dupla Jornada (1975), da cineasta brasileira Helena Solberg. O longa-metragem conta a história de mulheres trabalhadoras em fábricas e em minas na América Latina.
Imagem: Reprodução

Na década de 1930 e 1940, a maioria das mulheres na Bolívia trabalhava em casa, cuidando das crianças, cozinhando e cumprindo outras tarefas domésticas. Muitas eram analfabetas e não podiam e nem conseguiam ter uma carreira fora de casa.

Foi nesse cenário que Domitila Barrios Chungara nasceu, em 7 de maio de 1937.

Devido a isso, ela teve uma educação formal limitada, o que não a impediu de ser autodidata e aprender observando o ambiente no qual estava inserida, uma área de mineração estatal.

Tanto o pai quanto o esposo — com quem ela viria a ter sete filhos — eram trabalhadores de minas. Domitila, então, começou a se envolver nos problemas das condições de trabalho dos mineiros locais, chegando a participar da organização dos trabalhadores da Mina Siglo 20, de extração de estanho.

Assim, foi uma das fundadoras do Comitê das Donas de Casa, uma organização que se destacou por lutar por melhores condições para os trabalhadores das minas, como a diminuição da jornada de trabalho e aumento de salário.

Domitila era líder contra autoritarismo

Cinco mulheres foram o suficiente para fazer tremer a ditadura da Bolívia. Elas foram até uma das principais praças da cidade de La Paz, na Bolívia, para iniciar uma greve de fome. O movimento cresceu tanto que chegou a atingir cerca de 1.300 pessoas.

O objetivo de Angélica Flores, Aurora de Lora, Luzmila de Pimentel, Nelly de Panigua e Domitila Barrios era um só: derrubar o governo do general Hugo Banzer, que governava o país por meio de uma ditadura militar (1971-1978).

Domitila Barrios e ao fundo Che Guevara  - Reprodução - Reprodução
Domitila Barrios de Chungara fundou uma escola na cidade de Cochabamba, na Bolívia, em meados dos anos 1980. A escola foi criada com o objetivo de oferecer educação para crianças de famílias pobres e trabalhadoras, que muitas vezes não tinham acesso à educação formal.
Imagem: Reprodução

Essa não foi a primeira luta contra ditaduras encampada pela líder operária Domitila Barrios.

Entre as inúmeras manifestações mineiras que aconteceram na Bolívia, uma se destacou e mudou sua vida.

Conhecida como Massacre de San Juan, uma manifestação com cerca de 20 mil trabalhadores terminou com pelo menos 16 mortes após a forte repressão das forças militares.

O ano era 1979 e, na ocasião, apesar de não estar envolvida diretamente com o protesto, Domitila e seu marido foram presos, mas conseguiram escapar e fugiram para o exílio.

Essa, contudo, não foi a primeira vez que a boliviana seria presa. Durante o regime militar que governou o país entre 1964 e 1982, Barrios foi presa diversas vezes e chegou a ser torturada passando meses na prisão, onde sofreu diversas formas de violência e abuso, incluindo espancamentos, choques elétricos e humilhações.

Como sua xará, Domitila também era feminista

II Conferência Mundial sobre a Mulher em Copenhague, 1980 - Reprodução ONU - Reprodução ONU
II Conferência Mundial sobre a Mulher em Copenhague, 1980
Imagem: Reprodução ONU

Em 1975, aconteceu a 1ª Conferência Mundial da Mulher, no México, organizada pela ONU. Durante o evento, Domitila Barrios sentiu um incômodo ao ver as discussões serem protagonizadas majoritariamente por mulheres brancas e acadêmicas.

Em seu discurso, Barrios saiu em defesa dos direitos das mulheres e dos povos indígenas da Bolívia e da América Latina. Ela defendeu a necessidade de uma maior participação das mulheres na política e destacou a importância da solidariedade internacional na luta pelos direitos das mulheres em todo o mundo.

Na segunda conferência, ela também esteva presente. Mas enquanto Domitila viajava para Copenhague, na Dinamarca, a Bolívia voltava a sofrer um novo golpe de Estado.

Sua participação, então, ficou marcada pela defesa da luta dos povos indígenas e dos trabalhadores da Bolívia, além das denúncias de violações dos direitos humanos cometidas pelo regime militar na Bolívia.

Domitila também destacou a importância da participação das mulheres na luta pelos direitos humanos e na política, bem como na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Quando voltou do exílio em 1982, após o fim do regime militar e a restauração da democracia na Bolívia, Barrios continuou sua luta em defesa dos direitos das mulheres no país.

O legado de Domitila

Domitila Barrios de Chungara morreu de câncer de pulmão, na cidade de Cochabamba, em 13 de março de 2012, aos 74 anos. Ao longo de sua vida e como homenagem póstuma recebeu diversas premiações e reconhecimentos por sua luta pelos direitos dos trabalhadores e pelos direitos humanos. Alguns dos mais importantes são:

  • Prêmio da Paz de 1980, concedido pela Unesco, em reconhecimento à sua luta pelos direitos humanos e pela democracia na Bolívia.
  • Prêmio Right Livelihood, conhecido como "Prêmio Nobel Alternativo", em 1985, em reconhecimento à sua liderança na luta pelos direitos humanos e pela justiça social na América Latina.
  • Prêmio Nacional de Direitos Humanos da Bolívia, em 2013, concedido pelo governo boliviano em reconhecimento à sua trajetória como líder sindical e ativista pelos direitos humanos.
Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferente do que foi apresentado anteriormente no título da matéria, Domitila Barrios não foi uma guerrilheira, mas sim uma líder do movimento mineiro e contra a ditadura boliviana. Também foi retirado do texto o nome de Marcelo Quiroga Santa Cruz como marido de Domitila Barrios.