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Eletricista leva energia solar a favela do Rio e reduz conta de luz em 30%

Eletricista leva energia solar a favelas do RJ - Lucas Landau/UOL
Eletricista leva energia solar a favelas do RJ
Imagem: Lucas Landau/UOL

Carolina Vaisman

Colaboração para Ecoa, no Rio de Janeiro (RJ)

08/05/2023 06h00

Quando tinha 19 anos, Adalberto Almeida saiu de Guarabira, cidadezinha a cerca de 100 quilômetros de João Pessoa (PB), com destino ao Rio de Janeiro. A intenção era ficar apenas um ano na capital fluminense para sondar as oportunidades.

Foram tantos caminhos novos se abrindo que ele nunca mais voltou para sua cidade natal. Fixou residência no Rio e hoje, aos 45 anos, é uma das figuras mais conhecidas do Morro da Babilônia, no Leme, zona sul da cidade.

Foi no Rio de Janeiro que Adalberto completou o Ensino Médio - até então só constava a 6ª série do Fundamental em seu histórico escolar. Arrumou um emprego de serviços gerais em um condomínio no Leme e, como fazia as vezes de zelador, podia morar no prédio.

"Neste momento, eu senti que precisava ir além. Eu já tinha conseguido me formar na escola e sabia que poderia ter uma profissão", conta Adalberto.

E foi além. Matriculou-se em um curso profissionalizante de elétrica residencial e predial no Senai. O conhecimento adquirido na área fez com que ele mudasse de emprego, desta vez para uma loja de assistência elétrica no mesmo bairro.

"Comecei a frequentar as residências e os moradores passaram a me conhecer e a gostar do meu trabalho. Mais do que isso: sabiam que podiam confiar em mim."

O eletricista Adalberto Almeida - Lucas Landau/UOL - Lucas Landau/UOL
O eletricista Adalberto Almeida
Imagem: Lucas Landau/UOL

Energia solar parecia longe da realidade

Com os preços dos alugueis nas alturas, Adalberto escolheu morar no Morro da Babilônia e foi lá que construiu sua família. Está junto com a mãe de seus três filhos há 15 anos. Há oito meses, oficializaram a união no civil.

Em 2015, uma nova oportunidade bateu à sua porta: o francês Augustin Butruille e o belga Pol Dhuyvetter, ambos engenheiros, começaram a idealizar a Revolusolar na Babilônia e convidaram Adalberto para ajudar na instalação de painéis para aproveitar os numerosos dias de sol.

A boa fama de Adalberto e seu trabalho feito com esmero foram fundamentais para que os dois estrangeiros o procurassem. "Naquele momento, um mundo novo surgiu para mim. Sei que muitos brasileiros nem faziam ideia disso e das energias renováveis", diz o eletricista.

A partir daí a parceria estava firmada e novos desafios surgiram. Com a ajuda dos engenheiros e da Solarize, Adalberto fez um curso de instalação de painéis solares. A conquista foi imensa: ele tornou-se o primeiro eletricista instalador de placas solares em favelas do Rio de Janeiro. A usina de geração de energia solar do morro da Babilônia leva o nome dele.

"Eu sabia que era possível captar energia solar, mas achei que ainda fosse algo muito distante da nossa realidade", diz.

O eletricista Adalberto Almeida - Lucas Landau/UOL - Lucas Landau/UOL
O eletricista Adalberto Almeida
Imagem: Lucas Landau/UOL

Redução na conta de luz

Após se formar no curso, Adalberto virou voluntário na ONG Revolusolar, sediada no mesmo morro. Ele foi o responsável pela instalação de 60 módulos fotovoltaicos no telhado da Associação de Moradores da comunidade, distribuídos a 35 famílias, cerca de 140 pessoas. Isso significa uma redução, em média, de 30% dos gastos com a conta de luz.

Funciona assim: as famílias beneficiadas fazem parte da Cooperativa Percília e Lúcio de Energias Renováveis - que tem esse nome em homenagem a duas históricas lideranças comunitárias, Tia Percília e Lúcio Bispo. O valor mensal pago por cada família, cerca de R$ 50, compõe um fundo comunitário, cujos recursos são usados em novas instalações.

Para este ano, o projeto é que mais onze famílias sejam beneficiadas com os 9,1 kw/h que serão instalados em breve. "Além da redução do gasto com a conta de luz, o nosso trabalho pretende educar os moradores sobre as vantagens e os benefícios das energias renováveis, como a solar.

A ideia é que este novo modelo de energia seja sustentável economicamente também. A cooperativa é um negócio social, gerido pelos próprios moradores", explica Adalberto, que foi homenageado anos atrás com uma placa, fixada em uma das paredes da Associação de Moradores. "Fizeram uma surpresa pra mim e fiquei muito emocionado", lembra o eletricista.

A usina de geração de energia solar do morro da Babilônia leva o nome de Adalberto - Lucas Landau/UOL - Lucas Landau/UOL
A usina de geração de energia solar do morro da Babilônia leva o nome de Adalberto
Imagem: Lucas Landau/UOL

Conhecimento compartilhado

O trabalho voluntário de Adalberto não para por aí. Ele achou que seria justo compartilhar o conhecimento adquirido e hoje é o responsável pela capacitação profissional de novos instaladores de painéis solares.

Ao longo de quase cinco anos, foram mais de 30 alunos formados, com diploma que é reconhecido em todo território nacional. "É muito gratificante levar o conhecimento adiante", afirma.

No próximo mês, terá início uma nova leva de alunos. Será a terceira, já que durante o período de pandemia, foi preciso cancelar algumas turmas devido ao isolamento. As turmas são compostas por cerca de 12 alunos, majoritariamente do sexo masculino.

A ideia é que os grupos sejam formados por metade de mulheres e por outra metade de homens, mas a realidade é que nem sempre é fácil atender a este critério. "As mulheres são igualmente capazes, mas acho que esta profissão ainda é pouco difundida. No início, as pessoas se assustam, pois é um trabalho cansativo, sim. É preciso andar em cima de telhados, ter alguma força braçal, pois as placas não são leves e, além disso, aguentar ficar um pouco - ou bastante - exposto ao sol e ao calor. Porém, é muito legal!"

"Sou muito feliz pela oportunidade que tive e quero que novas pessoas também tenham uma chance", diz.

O eletricista Adalberto Almeida - Lucas Landau/UOL - Lucas Landau/UOL
O eletricista Adalberto Almeida
Imagem: Lucas Landau/UOL

Voluntário com orgulho

Como o diploma conferido no curso é reconhecido e válido em todo o Brasil, os alunos adquiriram um conhecimento específico e também podem trabalhar como eletricistas residenciais, cobrando uma diária que pode chegar a R$ 200, segundo ele.

Recentemente, Adalberto foi promovido e agora tem o cargo de coordenador técnico da ONG. É responsável por supervisionar todos os projetos de instalação. "Foi incrível ver todo esse cenário se transformando ao meu redor. E eu fiz e continuo fazendo parte dele", diz.

Ele continua passando o conhecimento adiante: o curso, que começará em breve, tem duração de dois meses. A grade curricular é completa: aulas teóricas, práticas, de segurança e até de psicologia, em que fala sobre emoções e saúde mental - tema fundamental para os dias atuais.

"O trabalho voluntário mudou a minha vida e minha forma de ver o mundo. Serviu para educar meus filhos, para transmitir valores que considero importantes. O trabalho voluntário forma cidadãos, gera emprego e muda vidas", diz.

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O eletricista Adalberto Almeida
Imagem: Lucas Landau/UOL

'Mudei meu rumo'

A argentina Natalia Nazario, 35 anos, mora no Brasil há dez anos, sendo três deles na Babilônia. Trabalhava como garçonete, mas com o início da pandemia e o turismo diretamente afetado, perdeu o emprego. Na época, alugava uma kitnet e foi lá que conheceu Adalberto, quando ele foi chamado para um reparo elétrico.

"Contei para ele que não sabia o que aconteceria, pois a pandemia estava acabando com meus planos. Precisava fazer algo. Ele me levou para trabalhar com ele como ajudante, pois eu tinha conhecimentos básicos", conta.

Uma das turmas de formação para instalador solar estava para começar e Adalberto fez a inscrição de Natalia. "Desde então, mudei meu rumo e hoje sou eletricista. Tenho meus clientes e também trabalho com os painéis fotovoltaicos. A energia solar fez uma mudança linda na minha vida, pois é o futuro. É bom estar aprendendo logo cedo para passar adiante este conhecimento."