'Poeta dos escravos', ele denunciou as crueldades da escravidão em textos
É difícil encontrar alguém que nunca ouviu falar do "poeta dos escravos", como também é conhecido o escritor negro Castro Alves, um dos principais nomes da literatura brasileira.
"Deus! ó Deus! onde estás que não respondes? / Em que mundo, em qu'estrela tu / 'escondes / Embuçado nos céus?". Os versos são do poema "Vozes d'África", escrito por Castro Alves, um dos principais textos a incluir as pessoas negras na literatura produzida no Brasil.
Na narrativa deste texto, por exemplo, o autor lamenta as violências cometidas contra os africanos escravizados em terras brasileiras.
Quem foi Castro Alves, o 'poeta dos escravos'
Antônio Frederico de Castro Alves chegou ao mundo em Curralinho, atual cidade de Castro Alves, na Bahia, em 14 de março de 1847.
Filho do médico e professor Antônio José Alves e de Clélia Brasília da Silva Castro, em 1854, Castro Alves se mudou para Salvador com a família quando o pai foi convidado para lecionar na Faculdade de Medicina.
Suas biografias dão conta de que desde pequeno, ele demonstrou paixão pela poesia. Em 1860, com apenas 13 anos, recitou seu primeiro texto em público durante uma festa na escola.
Em 1863, junto com a família, foi morar no Recife, onde Castro se preparou para entrar na faculdade de Direito. Na cidade, participou de grandes momentos históricos e chegou a fundar uma sociedade abolicionista, junto a Rui Barbosa e outros intelectuais da época.
Entre idas e vindas na faculdade e nas cidades de Salvador, Recife e São Paulo, onde concluiu a graduação no Largo São Francisco, o poeta começou a publicar suas poesias e, com isso, a ganhar importância — mas logo saiu de cena, já que morreu com apenas 24 anos, em julho de 1871, vítima de tuberculose.
Amor e abolição
Castro Alves é autor de poemas de amor como "Boa Noite" e "Adormecida", escreve textos de cunho nacionalista como a "Ode ao Dois de Julho", data cívica importante na Bahia, quando se comemora a independência do Brasil.
Foi também tradutor de Lord Byron, de Victor Hugo, dentre outros. "Há muitos temas em Castro Alves", destaca o professor do Departamento de Letras Modernas do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (IBILCE) da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Pablo Simpson.
Apesar de sua amplitude de assuntos, o tema principal, contudo, é o abolicionismo.
"Depois da estreia de sua peça 'Gonzaga' em 1867, que tem como um de seus núcleos dramáticos dois escravizados, pai e filha, separados há muitos anos, Castro Alves escreve talvez o maior conjunto de poemas abolicionistas do romantismo brasileiro, publicados em 1883 no livro 'Os Escravos', doze anos após a sua morte", ressalta o especialista.
Os textos "Vozes d'África" e "Navio negreiro", por exemplo, publicados em folhetos, já em 1878, tiveram desde a sua circulação enorme repercussão, a ponto de Afrânio Coutinho [um importante crítico literário] afirmar ter sido Castro Alves, no que diz respeito à poesia abolicionista, um dos primeiros que o Brasil ouviu.
Ainda de acordo com o professor, a poesia de Castro Alves continua relevante nos dias atuais já que a sociedade brutal do século XIX, com seus modos de exclusão e violência racistas, é ainda a que se vive hoje.
Poesia da vida real
Castro Alves é considerado uma das figuras mais proeminentes do movimento Romântico, já que ele criou uma poesia que estava sensível às questões sociais de sua época e defendia as grandes causas da liberdade e da justiça.
Nos escritos, expôs a crueldade da escravidão e pediu liberdade, dando ao Romantismo um caráter social e revolucionário, como se pode ler nos poemas "Vozes d'África" e "Navios Negreiros", da obra "Os Escravos" (1883).
Pablo Simpson diz que é sempre difícil estabelecer um nexo entre a vida e a obra de um escritor, sobretudo ao saber que o poeta morreu muito cedo. "E, ainda mais, diante de uma obra que começa cedíssimo: há registros de leituras públicas com 15 anos".
De acordo com o pesquisador, a poesia de Castro Alves surge em um espaço de crescente oposição ao regime escravista tanto no âmbito político, nas faculdades de direito de que foi aluno, no Recife e em São Paulo, quanto no âmbito poético.
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