Esperma congelado e só 2 fêmeas: a batalha pra salvar rinoceronte 'extinto'
Súdan, o último rinoceronte-branco-do-norte macho, foi sacrificado em março de 2018, aos 45 anos, após sofrer uma piora em seu quadro de saúde. Agora, restam apenas dois animais da subespécie: duas fêmeas, neta e filha de Súdan — sendo uma delas infértil e a outra incapaz de se reproduzir sozinha.
A última esperança aos descendentes de Súdan está em um laboratório. Cientistas querem reproduzir a espécie in vitro com o material genético armazenado de diversos rinocerontes-brancos-do-norte.
O que a ciência já fez?
Há anos um consórcio de cientistas e de especialistas para preservar a fauna se esforça para salvar o rinoceronte-branco-do-norte, utilizando técnicas inovadoras.
Uma equipe internacional de cientistas é responsável pelo procedimento de procriação assistida inédito em rinocerontes. Em 2018, eles coletaram em zoológicos europeus mais de 80 ovócitos de fêmeas de rinocerontes-brancos-do-sul, dos que restam cerca de 20 mil exemplares selvagens no sul da África.
Os óvulos foram fecundados in vitro, alguns com esperma congelado de rinocerontes-brancos-do-norte e outros com esperma de seu primo do sul, nos laboratórios da sociedade italiana Avantea.
Os embriões híbridos resultantes se desenvolveram até a etapa de blastocisto. Eles foram congelados para uma possível implantação em fêmeas da subespécie do sul no futuro.
Cerca de um ano depois, veterinários extraíram com sucesso os ovócitos das duas últimas fêmeas de rinoceronte-branco-do-norte. O resultado: dois embriões de rinoceronte-branco-do-norte, que seriam mantidos em nitrogênio líquido a uma temperatura muito baixa para serem transferidos para uma mãe portadora em um futuro próximo.
No entanto, ainda existem obstáculos: nenhuma das duas fêmeas vivas de rinoceronte-branco-do-norte que vivem em Ol Pejeta (Quênia) conseguiu terminar uma gravidez com sucesso. Fatu sofre de lesões degenerativas no útero e Najin sofre uma fragilidade nos membros posteriores, incompatível com uma gravidez.
Um caminho seria implantar os embriões em fêmeas de rinocerontes-brancos-do-sul, mas a técnica ainda não foi desenvolvida.
Se os cientistas conseguirem trazer de volta essa espécie, também significará esperança para mais de 42 mil animais atualmente listados como ameaçados, bem como para mais de 1 milhão de espécies de plantas e animais que estão previstas para desaparecer.
Caça ilegal
Em seu meio natural, os rinocerontes sofrem com poucos predadores, devido a seu tamanho e a sua pele espessa. Mas as supostas virtudes medicinais atribuídas na Ásia a seu chifre alimentaram nos anos 1970 e 80 uma implacável caça ilegal que dizimou o rinoceronte-branco-do-norte em Uganda, República Centro-Africana, Chade, República Democrática do Congo e no atual Sudão do Sul.
Em 2008, o rinoceronte-branco do norte já era considerado extinto em estado selvagem.
*Com reportagens publicadas em 04/07/2018, 23/08/2019, 25/11/2019 e 18/05/2023
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