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98 anos de Malcolm X: Ativista pregava autodefesa de negros contra brancos

Wikimedia Commons
Imagem: Wikimedia Commons

19/05/2023 06h00

Há 98 anos, em 19 de maio de 1925, nascia em Omaha, no estado do Nebraska, Estados Unidos, o ativista Malcolm Little, que ficou popularmente conhecido por Malcolm X.

Considerado uma das personalidades de maior influência para o movimento Black Power, difundido entre o final da década de 1960 e início da década de 1970, ele lutou por direitos civis da população negra defendendo o nacionalismo negro e ideias que, décadas depois, ainda contribuem para a luta antirracista.

"Muito do que Malcolm X colocou ainda é reiterado, no sentido de que a comunidade negra precisa se proteger, uns ajudando os outros. Por exemplo, se você forma advogados negros, você defende pessoas negras. São redes, porque há um diagnóstico de que o racismo ainda continua e ele é estrutural", observa a professora Mary Anne Junqueira, do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP).

Mais radical que MLK

Em uma época marcada por uma segregação racial violenta, Malcolm X tinha um projeto mais radical do que o proposto por outro famoso líder negro, o pastor Martin Luther King, nascido no estado da Georgia, sul do país.

Malcolm X - Commons - Commons
Único encontro de Martin Luther King (à esq) com Malcolm X, se deu em 1964
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Enquanto Luther King acreditava que os negros deveriam buscar a integração à sociedade estadunidense, Malcolm X era a favor do desenvolvimento da própria comunidade negra em diferentes aspectos, como na economia e religião, com negros trabalhando com e para os negros.

A professora Mary Anne explica que essa ideia, baseada no nacionalismo negro, também era a perspectiva pela qual advogava a Nação do Islã, organização que Malcolm X conheceu nos anos 1940.

Ele chegou a dizer que não era norte-americano, era negro.

Mary Anne Junqueira, professora da USP

"Malcolm se colocava contra as bases dos valores americanos. E ele percebeu rapidamente como o problema era estrutural contra os negros. Por isso, a ideia era que se você conseguisse algum lugar na sociedade, por menor que fosse, deveria se voltar para os negros e não para os brancos", pontua.

O ativista também era a favor do enfrentamento dos brancos por meio da autodefesa, uma postura até então diferente do pacifismo pregado por Luther King.

Pai morto, mãe internada

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Malcolm X era a favor do desenvolvimento da própria comunidade negra baseada no nacionalismo negro
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Quando criança, Malcolm viu a família ser destruída por conta da segregação racial. O pai, um pastor batista, foi morto por supremacistas quando o ativista tinha 6 anos de idade. Sozinha, a mãe de Malcolm teve um colapso mental e foi internada em um hospital psiquiátrico. Os oito filhos, incluindo Malcolm, precisaram então ser entregues a orfanatos.

A partir desse episódio, a vida de Malcolm ainda passaria por importantes transformações que ajudariam a moldá-lo enquanto ativista. Em 1946, após se envolver com roubo e tráfico de drogas em Boston, foi preso e condenado a 10 anos de detenção.

Na cadeia, teve contato pela primeira vez com a Nação do Islã, grupo político e religioso criado na década de 1930, que integrava o movimento negro e tinha como representante Elijah Muhammad.

Malcolm se aprofundou nos ensinamentos do grupo e, quando deixou a prisão em liberdade condicional, sete anos depois, tornou- se um dos principais incentivadores da Nação do Islã.

Adotou a letra "X" no lugar do sobrenome Little, por entender que, devido à diáspora africana, Little era o sobrenome de quem havia escravizado seus antepassados.

A atuação de Malcolm foi tão importante que não só foram estabelecidos diversos templos pelo país, mas o número de membros da Nação do Islã aumentou de 500 para 30 mil ao longo de uma década de trabalho.

O ativista também escrevia artigos em que defendia as ideias da organização. "Ele se notabilizou muito porque também era um orador notável, extremamente carismático, que conseguia mobilizar massas. Acabou se tornando a figura de maior visibilidade da Nação do Islã, no momento em que o movimento negro estava crescendo", assinala Mary Anne.

Luta contra o racismo

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Em 1964, o ativista visitou Meca, na Arábia Saudita, e teve contato com muçulmanos brancos
Imagem: Commons

A ligação de Malcolm com a organização de Elijah Muhammad, entretanto, perdeu força quando o ativista tomou conhecimento sobre casos de corrupção e adultérios praticados por Elijah.

Desapontado, em 1964, Malcolm rompeu com o movimento e fundou outra organização, a Muslim Mosque Inc. (Associação da Mesquita Muçulmana). No mesmo ano, viajou para países africanos e também visitou Meca, na Arábia Saudita, onde teve contato com muçulmanos brancos.

Voltou para os Estados Unidos convertido ao islamismo sunita. Foi quando adotou o nome de El Hajj Malik El-Shabazz e fundou a Organização da Unidade Afro-Americana, para a qual o inimigo não era o branco, mas o racismo.

Para Malcolm X, o problema do racismo, por sua vez, estava diretamente ligado ao capitalismo. "Malcolm se opunha a Martin Luther King, mas também tentou se aproximar dele depois", pontua a professora da USP.

Ele foi um ativista muito interessante porque foi se modificando durante a vida.

Mary Anne Junqueira, professora da USP

Mas essa fase foi breve. Em 21 de fevereiro de 1965, o líder foi baleado por três homens em um auditório onde faria uma palestra, no Harlem, em Nova York. Alvejado por mais de 10 tiros, ele não resistiu aos ferimentos. A autoria do assassinato foi associada à Nação do Islã. Ele deixou a esposa Betty Shabazz e seis filhos.

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