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5 mil 'piscinas' de esgoto despejadas na natureza causam morte de crianças

Casa de Márcia, na Vila Emater, em Maceió, fica em rua de terra sem saneamento  - Carlos Madeiro/UOL
Casa de Márcia, na Vila Emater, em Maceió, fica em rua de terra sem saneamento Imagem: Carlos Madeiro/UOL

Da Redação

De Ecoa, em São Paulo (SP)

24/05/2023 06h00

Todos os dias, mais de mil crianças com menos de cinco anos de idade morrem no mundo devido a doenças causadas por falta de água potável, saneamento e higiene.

O dado, divulgado neste ano pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), revela como a falta de água tratada pode ser destrutiva para a vida dos mais vulneráveis, ameaçando a oferta de nutrição adequada, saúde e educação.

No Brasil, país em que quase 35 milhões de pessoas ainda não têm acesso à água tratada e 100 milhões vivem sem coleta de esgoto, o problema afeta especialmente a saúde infantil, levando à morte de crianças por doenças relacionadas à veiculação hídrica, como diarreia e esquistossomose, além de milhares de internações.

Somente em 2021, foram 128 mil internamentos, sendo 45 mil deles, o equivalente a um terço, relacionados a crianças menores de cinco anos. Desse total, 30 mil ocorreram nas regiões Norte e Nordeste, onde o déficit de saneamento básico é maior.

Mas por que, em 2023, a água tratada ainda não está disponível para todos no Brasil? Como a falta desse serviço pode prejudicar as crianças? Ecoa ouviu especialistas para explicar essas e outras questões sobre o assunto.

Como a falta de água tratada afeta a saúde das crianças?

O tratamento de água é um dos componentes do que conhecemos como saneamento básico, que abrange a captação, tratamento e distribuição de água, além da coleta e tratamento de esgoto.

A falta desses serviços pode levar à contaminação por doenças como esquistossomose, dengue, leptospirose e diarreia, que é a segunda maior causa de morte de crianças menores de 5 anos no mundo segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).

Segundo o Instituto Trata Brasil, estima-se que no país sejam despejados, diariamente, cerca de 5.500 piscinas olímpicas de esgoto sem tratamento na natureza.

"A contaminação pode ocorrer, por exemplo, quando uma criança toma água contaminada, está brincando próximo a valas de esgoto a céu aberto ou tomando banho em rios contaminados e tem contato com patógenos que trazem essas doenças", diz Luana Pretto, presidente executiva do instituto.

O cuidado também é especialmente necessário com crianças menores de 1 ano, que estão sujeitas à contaminação em momentos como o preparo de uma mamadeira.

"Por isso, o estímulo às políticas de aleitamento materno são importantes, pois ajudam a ter um leite isento de contaminação", afirma o médico pediatra e intensivista Carlos Frederico Oldenburg Neto.

Quase 35 milhões de pessoas ainda não têm acesso à água tratada no Brasil - iStock - iStock
Quase 35 milhões de pessoas ainda não têm acesso à água tratada no Brasil
Imagem: iStock

Por que ainda não há saneamento para todos?

Somente em 2021, 65 crianças menores de 5 anos morreram vítimas de doenças de veiculação hídrica, como a diarreia, no Brasil. Além dos casos fatais, essas doenças também causam prejuízos no desenvolvimento cognitivo de muitas outras.

Segundo Luana, o país ainda carece de uma visão do saneamento como saúde preventiva. "Ao levar o serviço até as pessoas, economizo com saúde e ainda proporciono qualidade de vida para que possam se desenvolver, gerar renda", diz.

Sancionado em 2020, o Marco Legal do Saneamento Básico estabelece que, até 2033, 99% da população brasileira deve ter acesso à água potável e 90%, acesso a tratamento e coleta de esgoto. Mas os investimentos estaduais não têm correspondido às expectativas.

"O país investiu R$ 82 por ano por habitante em saneamento, enquanto na região Norte apenas R$ 50 por pessoa, por ano. Isso demonstra que o tema não está sendo priorizado como deveria. Para atingir as metas do Marco Legal, teríamos que investir R$ 200 por habitante por ano na área", calcula Luana.

Três soluções para reduzir a mortalidade de crianças

Para o médico Carlos Frederico Oldenburg Neto, há três ações principais no sentido de reduzir a mortalidade de crianças, sobretudo as menores de 1 ano: infraestrutura de saneamento, ações públicas de saúde e saneamento, além da educação dos cuidadores.

Como destaca Luana, ainda que os investimentos em infraestrutura levem, em média, três anos para começarem a gerar efeitos, não há outra saída.

"A regra é simples: o aumento em investimento em saneamento se traduz em obras, que se traduzem em maior percentual da população com acesso à água e tratamento de esgoto. Quanto maior esse percentual, menor serão as contaminações por doenças de veiculação hídrica", afirma.

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