Com técnica própria, professora já aprovou 100 mil alunos em universidades
O desejo nunca realizado de ser médica na África, a vontade de contribuir de forma marcante com a educação e a força de vontade para despertar o senso crítico nos estudantes moveram uma professora pernambucana que hoje é sinônimo de competência em redação no Brasil.
Atualmente com três mil alunos presenciais e 55 mil à distância, Fernanda Pessoa, 42 anos, começou a mudar a vidas das pessoas em uma salinha alugada atrás de um açougue.
Natural do Sertão pernambucano, a educadora é um agente transformador que acumula 100 mil ex-alunos aprovados em universidades do Brasil e do exterior.
Apenas em 2023, mais de três mil alunos dos cursos de Fernanda foram aprovados nas principais universidades do país.
O Grupo Educacional Fernanda Pessoa é particular, mas realiza um trabalho social, com um programa de bolsas integrais sob o critério de renda.
Apenas na modalidade presencial, 1.300 alunos estudam no curso de forma gratuita.
A Ecoa, a professora explicou que desde pequena queria ser médica no continente africano, mas alguns acontecimentos mudaram sua trajetória.
Fernanda foi mãe solo aos 15 anos. Filha de um professor de escola pública e de uma dona de casa, a urgência em sustentar a filha a obrigou a fixar os pés em seu estado, mas não a impediu de planejar sua contribuição para a educação.
"Comecei a vender biscoitos com uma receita que criei e, depois de um tempo, consegui iniciar a Licenciatura em Letras, com habilitação em Português. Aprendi a dar aulas dando aulas. Pedia a meus professores para auxiliá-los em outras universidades, enquanto vendia biscoitos", conta ela.
Pensamento crítico
A educadora diz que, aos poucos, foi desenvolvendo o seu próprio método de ensinar redação, que sempre se incomodou com o fato de o ensino tradicional, em sua grande maioria, não ser estimulante e atraente.
"Decorar não é aprender. Acredito que estimular a busca pelo conhecimento e a formação do pensamento crítico é fator fundamental para o desenvolvimento dos estudantes e foi a isso que me propus desde o início", ressaltou.
Minhas técnicas de ensino pretendem apresentar conhecimento de várias áreas, sem fórmulas prontas.
Fernanda Pessoa, educadora
A ideia de montar um curso foi sendo amadurecida aos poucos. Ela trabalhou como professora em muitas escolas, mas tinha problemas por não concordar sempre com os formatos de ensino.
No ano de 2000, alugou uma sala para dar aula, um espaço atrás de um açougue, para a sua primeira turma com 13 alunos, dos quais oito eram bolsistas e os demais pagavam R$ 50.
E foi o início do que viria a ser um dos mais reconhecidos cursos de redação do país.
"A sala era alugada e eu precisei continuar vendendo meus biscoitos para poder bancar aquilo. As turmas foram crescendo. Cinquenta alunos no outro ano, mais 50 no outro e fui alugando espaços maiores", lembrou.
A principal meta do curso, destaca ela, é fazer com que os alunos sejam capazes de argumentar sobre qualquer tema proposto nas provas de vestibular e na vida.
A metodologia parte do conhecimento como ferramenta a partir do estudo sobre várias áreas, como filosofia, sociologia, atualidades e todos os tipos de Arte.
A minha escola é o mundo.
Fernanda Pessoa, educadora
Mais de 100 mil alunos aprovados
De acordo com a empresária, o curso cresceu de forma muito orgânica no presencial, no boca a boca. Ela lembra que as pessoas viam os resultados e indicavam para os amigos. Isso fez com que o crescimento fosse exponencial a cada ano. Ela diz que o curso online mantém a mesma competência.
"Muitos momentos foram marcantes, mas, quando começamos a ter uma aprovação de destaque nos cursos de Medicina e Direito em Pernambuco, foi memorável. A comemoração foi enorme e significativa porque representava a assertividade no método da Redação Colorida. Outro momento especial foi quando surgiu o vestibular da Faculdade Pernambucana de Saúde e mais de 90% do listão de Medicina eram alunos do curso", revelou
Ao longo de seus 25 anos de carreira, Fernanda Pessoa acumulou mais de 100 mil ex-alunos que entraram na universidade. Atualmente, o curso tem mais de três mil alunos presenciais e, na modalidade virtual, são 55 mil, espalhados pelo Brasil todo. A média de aprovação anual no Enem é de três mil estudantes. Só neste ano, foram 301 alunos em primeiro lugar em cursos de diversas universidades.
A relação da professora e seus alunos é de carinho e confiança, que se desenvolve no decorrer das aulas e permanece após eles saírem do curso. Ela diz que já perdeu a conta de quantas formaturas já prestigiou. "Eles fazem questão de me chamar e eu faço mais questão ainda de ir. No dia dos resultados, fazemos festa para receber os aprovados, tiramos fotos, gravamos vídeos? fazemos farra", disse.
Da escola pública para os EUA
Alan Silva, 18 anos, aluno de escola pública e bolsista integral do curso durante os últimos três anos, prestou vestibular e foi aprovado na Universidade de Northwestern, uma das mais concorridas de Chicago, nos Estados Unidos.
O jovem, natural da zona rural de Brejo Santo, no interior do Ceará, considera que o ensinamento da professora foi primordial.
"Ela me ensinou a pensar de uma maneira que eu nunca tinha imaginado que fosse possível. Ela traz um conteúdo interdisciplinar mágico, ensina com um brilho nos olhos, um amor pelo que ela faz. Fazer parte do curso trouxe resultados em todos os aspectos da minha vida. Dos vestibulares às olimpíadas de conhecimentos.E se eu não tivesse sido bolsista, não teria essas oportunidades", celebra.
Já Davi Mário, 27, morador de Gravatá, cidade do agreste de Pernambuco, descobriu um tumor cerebral, em 2011, e o médico disse para ele esquecer qualquer ideia de faculdade. Após um ano do diagnóstico, duas cirurgias depois, retirou o tumor e se recuperou. Decidiu ser médico.
Prestou vestibular nove anos seguidos e, em 2023, passou para medicina na Universidade Católica de Pernambuco. Davi foi bolsista do curso de Fernanda de 2015 até este ano.
"Eu tenho tanta coisa boa para falar. Tem as aulas de artes, que abriram tanto minha cabeça. No primeiro contato, meu primeiro ano de cursinho, lembro como eram montadas as fotografias das viagens de Fernanda, o material didático que é feito com tanto carinho, todo colorido e com uma qualidade tão boa, material de literatura... coisa que eu não tive nem contato na escola ", destacou.
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