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Empreendedora, ela quer mostrar que a tecnologia também é lugar de mulher

Única mulher no setor de tecnologia onde trabalhava, Iana Chan decidiu agir para mudar esse cenário no país - Divulgação/PrograMaria
Única mulher no setor de tecnologia onde trabalhava, Iana Chan decidiu agir para mudar esse cenário no país Imagem: Divulgação/PrograMaria

Lara Castelo

Colaboração para Ecoa, em São Paulo (SP)

29/05/2023 03h59

Mulheres ainda são minoria na tecnologia. Mas, se depender da empreendedora Iana Chan, 34, esse cenário há de mudar.

Após sentir na pele a desigualdade que atinge as mulheres do segmento, a jornalista e programadora decidiu criar a PrograMaria, startup de impacto social que oferece cursos, oficinas, palestras e organiza eventos com o objetivo de profissionalizar e incluir mais mulheres na tecnologia.

Na trajetória de Iana, o interesse pelo tema começou logo cedo. Quando adolescente, aprendeu sozinha a fazer o design web de blogs que ela mesma criava.

Apesar disso, a falta de referências femininas na área a fez pensar duas vezes antes de decidir trabalhar com programação. "Pensei: o que eu vou fazer no meio de um monte de homem? Então, acabei indo para o jornalismo", lembra.

De acordo com o relatório Global Gender Gap, do Fórum Econômico Mundial, para cada cinco pessoas com diploma no setor de tecnologia da informação e comunicação (TIC), somente uma é mulher.

Na mesma linha, pesquisa realizada pela plataforma de recrutamento Revelo mostrou que apenas 12% das vagas de desenvolvedores de softwares são ocupadas por mulheres.

'Não pertencia àquele lugar': o início do PrograMaria

Já formada, Iana seguia carreira na comunicação quando decidiu investir no antigo sonho, o de estudar tecnologia. Em 2014, ela deu o pontapé inicial, como gestora de projetos no setor de TI da empresa em que trabalhava. Mesmo assim, algo ainda parecia fora de lugar — ela era a única mulher naquele ambiente.

"Tive uma sensação de não pertencer àquele espaço", conta. Foi então que, juntamente com outras quatro amigas, ela decidiu criar um clube onde pudessem trocar informações, aprender mais sobre tecnologia e, o mais importante, se apoiar. Era o início da PrograMaria, que, anos depois, alcançaria a marca de 55 mil pessoas impactadas por seus eventos, além de 11 mil alunas inscritas nos cursos.

A startup PrograMaria já realizou mais de 50 ações na área de tecnologia, impactando cerca de 55 mil mulheres  - Divulgação/PrograMaria - Divulgação/PrograMaria
A startup PrograMaria já realizou mais de 50 ações na área de tecnologia, impactando cerca de 55 mil mulheres
Imagem: Divulgação/PrograMaria

Uma 'rede de apoio' a mulheres da tecnologia

Segundo a CEO, o principal objetivo da PrograMaria é capacitar e mostrar para as mulheres que elas podem ocupar cargos na área de tecnologia.

Para isso, a startup se concentra em duas frentes: formação, com cursos onlines de programação para iniciantes, e engajamento e conexão com a comunidade.

A partir de palestras e projetos, em sua maioria gratuitos, a PrograMaria conecta mulheres a empresas do ramo. "Ao todo foram mais de 50 eventos, onlines e presenciais, como mentorias coletivas, apresentação de cases, jornadas de conteúdo, entre outros".

Ministrados por mulheres, os cursos vão muito além do conhecimento técnico na área, segundo Iana. "Falam sobre temas como diversidade e insegurança. Queremos construir uma rede de apoio para as astronautas [apelido carinhoso dado às alunas]".

Apesar dos conteúdos serem gravados, as participantes podem conversar por meio de fóruns de debate, via Telegram ou Discord, plataforma voltada para o universo gamer.

Hoje formada por uma equipe de sete mulheres que atuam em comunicação, operações e gerência, a PrograMaria recebe em torno de 200 alunas por turma, de diferentes regiões brasileiras, além de residentes no exterior.

No momento da inscrição, é possível escolher entre três opções distintas de valores — nas mais caras, a aluna contribui com o fundo de bolsas destinado àquelas que não podem pagar.

'O olhar de julgamento era nítido': incluindo pessoas trans

Na seleção das bolsas, mulheres que estão em situação de vulnerabilidade social, trans, travestis e negras têm prioridade.

"Não dá para falar em diversidade contando só com mulheres brancas e cisgênero. Queremos promover diversidade e isso impacta todas as nossas decisões, desde as instrutoras chamadas para ministrar os cursos até a seleção das bolsas", afirma Iana.

Uma das beneficiadas pelas bolsas foi Úrsula Ariel, 35, mulher trans que, apesar do sonho de trabalhar com tecnologia, encontrou um mercado de trabalho cheio de barreiras. "Não conseguia emprego fixo. Sempre que tentava, o olhar de julgamento era nítido nos recrutadores", conta.

Mulher trans, Úrsula Ariel superou o preconceito para seguir carreira no mercado de tecnologia - Arquivo pessoal/Úrsula Ariel  - Arquivo pessoal/Úrsula Ariel
Mulher trans, Úrsula Ariel superou o preconceito para seguir carreira no mercado de tecnologia
Imagem: Arquivo pessoal/Úrsula Ariel

Desestimulada, Úrsula passou a fazer bicos com faxina para sobreviver e, somente em 2021, após o conselho de uma amiga, decidiu buscar cursos na sua área de interesse, até encontrar a PrograMaria.

Hoje formada pela startup, ela atua como designer de produtos em uma multinacional. "A PrograMaria, além de conhecimentos técnicos, me abriu portas profissionais", diz.

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