'Bom maestro' de Marina Silva, ele criou fundo que hoje tem R$ 5,4 bilhões
"Ele é especialista em colocar coisas difíceis de pé. Sabe ser um bom maestro", assim a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, descreveu Tasso Azevedo, o engenheiro florestal, consultor e empreendedor social que está por trás de algumas das mais importantes iniciativas brasileiras.
A declaração foi feita em janeiro deste ano, quando Tasso foi premiado como um dos 16 Inovadores Sociais do Ano em cerimônia no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça. A Fundação Schwab reconheceu o trabalho do MapBiomas, uma rede colaborativa co-fundada e coordenada por Tasso.
Criada em 2015 e formada atualmente por organizações não governamentais, empresas de tecnologia e universidades em 14 países, a iniciativa tem como objetivo monitorar o uso da terra, promover gestão sustentável de recursos naturais e combater a crise climática.
Os mapas e relatórios do MapBiomas são disponibilizados na internet e usados por pesquisadores para produzir trabalhos científicos e por empresas privadas e órgãos governamentais para auxiliar na tomada de decisões.
Este ano, por exemplo, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) negou 58 pedidos de empréstimos, que somavam R$ 24,8 milhões, porque seriam destinados a imóveis rurais com desmatamento ilegal verificado com a ajuda do MapBiomas.
Criação do Fundo Amazônia
Quando tinha apenas 30 anos de idade, Tasso foi convidado por Marina Silva para integrar a equipe do Ministério do Meio Ambiente do primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Tornou-se diretor do Programa Nacional de Florestas, trabalhou na criação da Lei de Gestão de Florestas Públicas, de 2006, e dirigiu o Serviço Florestal Brasileiro, que faz a gestão das florestas públicas no Brasil.
Veio de Tasso a ideia de criar o Fundo Amazônia em 2008, que voltou com o novo governo de Lula (PT) e tem caixa de mais de 5,4 bilhões.
Por meio do fundo, atualmente composto por recursos de Noruega, Alemanha e Petrobras e gerido pelo BNDES, os doadores pagam por resultados de redução das emissões de gases de efeito estufa oriundas do desmatamento no país.
"Se o Brasil reduz o desmatamento na Amazônia em relação à média dos últimos 10 anos, a Noruega paga cinco dólares para cada tonelada de carbono que foi reduzida de emissões", explica o especialista.
Principal fonte que mede a poluição gerada em países
Em 2008, uma visita às florestas do Canadá fez com que o engenheiro mudasse o foco da atuação para agir de maneira mais incisiva pelo clima.
"Vi milhares de hectares de florestas morrendo em pé. As árvores eram comidas por dentro pelas larvas do 'besouro do pinho'. Antes o inverno rigoroso matava os bichos, com o aquecimento global começou a haver uma infestação", recorda. "Saí de lá impactado e pensei que, se algo assim acontecer na Amazônia, estamos ferrados", alerta.
Tasso deixou o Serviço Florestal e foi assessorar o então ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, para formar a posição brasileira na Conferência do Clima em Copenhague, em 2009.
Mais tarde, quando a ministra da pasta era Izabella Teixeira, o engenheiro atualizou os dados sobre as emissões de gases de efeito estufa do país, gerando a série histórica de 1990 a 2011.
"Isso foi importante porque não tínhamos ideia do quanto o Brasil estava emitindo. As últimas informações eram de seis anos antes".
Por conta da necessidade de manter os dados atualizados, Tasso propôs à rede de ONGs Observatório do Clima a criação do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases do Efeito Estufa (SEEG), apontada pelos especialistas como a melhor fonte sobre a poluição gerada pelo Brasil.
No Brasil, explica o especialista, 75% das emissões de gases de efeito estufa vêm do uso da terra, por meio da agricultura, da pecuária e do desmatamento. Isso faz o país ser o quinto maior emissor de gases de efeito estufa no mundo, atrás apenas de China, EUA, Rússia e Índia.
"Esses quatro países estão aí porque 70% das emissões deles vêm da queima de combustíveis fósseis para geração de energia e transporte. O Brasil até vai bem nessa área porque tem muita energia renovável e etanol. Nosso problema é o uso da terra. Precisávamos de dados detalhados sobre isso", conta.
Santander, BNDES e governo usam Mapbiomas
Em 2015, em parceria com o Google, foi lançado o MapBiomas, que mostra a evolução do uso do solo de cada pedaço do país por meio de mapas feitos com a ajuda de satélites e computação em nuvem.
"Inventamos um novo jeito de fazer mapas: o Brasil tem 9,6 bilhões de pedacinhos de 30 por 30 metros e contamos a história de cada um. Por exemplo, se uma área era floresta e virou pasto, ela emitiu carbono. Se ela era pasto e virou plantio de eucalipto, ela capturou carbono. Tudo isso está registrado ali", explica.
Tanto o MapBiomas como o SEEG são baseados no conceito de trabalho em rede, com dados disponibilizados gratuitamente na internet, assim como os códigos, que são abertos e podem ser usados por qualquer pessoa.
A plataforma tem mais de 250 mil usuários por ano, que utilizam as informações para mais de 200 aplicações diferentes.
Instituições como o Banco do Brasil, o BNDES, a Caixa Econômica Federal e o Santander usam o MapBiomas para negar crédito a quem está desmatando.
A Fiocruz utiliza as informações para direcionar a vacinação de febre amarela. Já o levantamento do MapBiomas sobre as pistas de pouso no território yanomami é fundamental para que autoridades fechem o espaço aéreo usado por garimpeiros que atuam na região.
Seguindo o exemplo do Brasil, outros países também criaram redes para monitoramento e provisão de informações para melhor gerir seus recursos naturais.
"Para cada país que se interessa, a gente dá um treinamento. Aí eles criam redes locais e produzem os mapas locais. Hoje existem iniciativas do MapBiomas em todos os países da América do Sul e também na Indonésia", aponta Tasso.
Segundo o engenheiro, o impacto do MapBiomas não é dado diretamente pelo produto que a rede gera, mas por quem usa as informações produzidas por ela. "Quanto mais gente usa, maior é o nosso impacto. E o nosso objetivo é ter o maior impacto possível."
Na grande lista de trabalhos de Tasso, ainda está a criação do Instituto de Manejo e Certificação Florestal (Imaflora), a maior organização do gênero no hemisfério sul.
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