Não para de espirrar? Até sua rinite pode ser culpa do aquecimento global
Uma análise divulgada pela Climate Central, uma organização sem fins lucrativos que difunde trabalhos e notícias sobre o clima, mostrou recentemente que o aquecimento global está por trás do aumento das temporadas de alergia.
Nos Estados Unidos, entre 1970 a 2021, essas temporadas aumentaram, em média, 15 dias em 200 cidades. A situação afeta cerca de 25% da população que sofre com rinites e outros problemas respiratórios no país.
O prolongamento desse período ocorre porque, com uma janela maior entre as últimas temperaturas mais frias da primavera e as primeiras temperaturas mais frias do outono, as plantas têm mais tempo para florescer e liberar pólen, um dos indutores de alergia.
Para se ter uma ideia, entre 1990 e 2018, a contagem de pólen aumentou 21% nos Estados Unidos, segundo a Climate Central.
No Brasil, embora as estações do ano não sejam tão marcadas quanto no hemisfério norte, o aquecimento global também tem gerado prejuízos para a saúde de quem é sensível ao pólen e depende de anti-histamínicos.
Situação no Sul é pior
Membro da Comissão de Biodiversidade, Poluição e Clima da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Abai), a médica Raquel Prudente de Carvalho Baldaçara avalia que a situação quanto a esses alérgenos é pior no Sul do país, onde são comuns pólens de plantas da família das gramíneas.
Ainda assim, a sensibilização ao pólen já foi identificada em outras regiões, como no estado de Tocantins, mesmo que isso não fosse esperado para uma área tropical.
Percebemos que as mudanças climáticas e a poluição podem interferir nas estações polínicas e aumentar a sensibilização de determinada população.
Raquel Baldaçara, médica alergista
Nesses casos, lembra a especialista, pode haver o risco ainda de reatividade cruzada entre diferentes tipos de pólens de plantas da vegetação local.
A médica explica que a presença de poluentes na atmosfera pode irritar a mucosa respiratória e favorecer processos inflamatórios que aumentam a sensibilização por pólen. Além disso, o dióxido de carbono, por exemplo, pode aumentar a capacidade reprodutiva das plantas e modificar a estrutura dos pólens.
Essa mudança tem relação direta com a saúde de quem é exposto a esse ambiente. "Isso faz com que os pólens se tornem partículas com diâmetro menor ainda, que podem penetrar nas vias áreas inferiores com mais facilidade, desencadeando crises de asma, rinite, rinoconjuntivite alérgica", pontua.
Tempestades intensificam problema
Nesse cenário, até as tempestades podem ter efeito negativo junto aos alérgicos, diferentemente do que se pensava anos atrás. Segundo a médica da Abai, acreditava-se que a quantidade de pólen na atmosfera fosse reduzida com as chuvas.
"Hoje sabe-se que, por alterações osmóticas, o pólen em contato com a água pode liberar rapidamente alérgenos em partículas muito pequenas e que também podem atingir as vias aéreas inferiores", explica.
A especialista alerta que, com o aquecimento global e a incidência de chuvas intensas em diferentes regiões do planeta, as mudanças no clima podem levar ainda a uma "epidemia de asma", aumentando consideravelmente as internações decorrentes desse problema de saúde.
Interferência no planejamento das cidades
Esse tipo de problema pode demandar ações que ultrapassam providências na área da saúde e alcançam a esfera do planejamento das cidades e meio ambiente, analisa a engenheira civil Luciene Pimentel, professora do Programa de Pós-Graduação em Gestão Urbana (PPGTU) da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Por conta disso, talvez as espécies ou a forma de arborização usada não sejam mais as mesmas daqui a alguns anos.
Luciene Pimentel, engenheira
Ela lembra também dos "cânions urbanos". Nessa configuração das cidades, edifícios com muitos andares são enfileirados em ambos os lados da rua, o que favorece a concentração de pólen e poluentes nesses "corredores". Esse tipo de construção também deve ser repensado.
"Estamos vendo situações que nunca tínhamos visto antes, como secas e chuvas excepcionais, como as que ocorreram no litoral Norte de São Paulo recentemente. Mesmo que tenhamos acordos climáticos mundiais para descarbonização, é preciso ser ágil na busca de ações e medidas para conviver com isso", assinala a engenheira.
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