Conhecido como casamenteiro, Santo Antônio começou pregando para... peixes
Dos três santos católicos celebrados no mês de junho, ele é talvez o mais popular. Para muitos, porque ele é casamenteiro e são incontáveis as simpatias que o envolvem para se encontrar o amor verdadeiro. Para outros, ele é o santo dos milagres e da compaixão.
Mas, afinal, quem foi este homem batizado com o nome de Fernando quando nasceu na cidade de Lisboa, Portugal, mas que se consagrou santo com o nome de Antônio de Pádua, cidade onde morreu, na Itália?
Nobre e estudioso
Fernando Antônio de Bulhões nasceu na capital portuguesa, em 15 de agosto de 1195. De família burguesa, teve acesso a boas escolas e livros e demonstrava muito interesse pelos estudos.
Aos 18 anos de idade decidiu ingressar na vida religiosa e procurou o Mosteiro de São Vicente de Fora, na cidade de Coimbra, também em Portugal. Lá, se tornou cônego regular agostiniano.
Naquela época, aprendeu os ensinamentos de Santo Agostinho, considerado por estudiosos o principal teólogo do cristianismo e também um dos melhores filósofos.
Em 1220 conheceu a Ordem Franciscana, sentiu-se atraído pela humildade e simplicidade com que viviam e pregavam e decidiu se juntar a eles. Para marcar a sua mudança de vida, de agostiniano para franciscano, deixou para trás o nome de batismo e adotou o nome Antônio.
Como franciscano, pregou em Portugal, na França e na Itália, e se destacou por ser habilidoso e carismático em seus sermões. Atraia multidões por onde passava.
Tal talento o levou a ser convidado para entrar no Capítulo Geral da Ordem Franciscana pelo próprio fundador, São Francisco de Assis. Sua vida foi breve, no entanto, e ele morreu aos 36 anos de idade na cidade de Pádua, na Itália, em 13 de junho de 1231, vítima de uma tuberculose.
Por sua dedicação à fé e sua capacidade de realizar milagres, Antônio foi canonizado um ano após sua morte, em 1232, pelo Papa Gregório 9º.
Pregação aos peixes
O talento da oratória de Santo Antônio era inegável. Era comum que todas as pessoas parassem para ouvi-lo, mas nem sempre foi assim. Conta-se que houve um tempo em que as pessoas não davam tanta importância aos seus sermões, e por isso Antônio foi pregar para os peixes.
De acordo com a lenda, estes peixes saíram do mar para ouvi-lo e, a partir daí, Antônio despertou o interesse e a conversão das pessoas à palavra divina.
"Ele é o Santo da Palavra. Além de levar os ensinamentos do Evangelho, levava o pão simbolizando não só o alimento, mas também o pão da vida, que é o conhecimento, aos mais pobres e famintos. Todo dia ele levava o alimento, e esse pão se multiplicava", explica o padre Edemilson Gonzaga de Camargo, pároco da Paróquia Santo Antônio da Vila Brasilândia, de São Paulo.
Casamenteiro
Padre Camargo conta que na época em que Antônio viveu, as mulheres só podiam se casar se a família pagasse um dote ao futuro marido, que era geralmente uma grande quantia de dinheiro, cujo objetivo era garantir ao casal um início de vida próspera e feliz.
As mulheres pobres não conseguiam o dote para se casar e Santo Antônio então começou a doar o dinheiro que recebia em esmolas e doações a estas mulheres, dando a elas a oportunidade de se casarem.
Edemilson Gonzaga de Camargo, padre
E essa é uma das explicações para ele ter ganhado a fama de casamenteiro.
O religioso explica ainda que o tradicional bolo que é servido nas festas em celebração a Santo Antônio é símbolo da elevação espiritual. "As pessoas se sentem felizes quando comem um doce, e é essa a sensação que elas têm quando falam com Jesus. O bolo nada mais é do que essa palavra de Jesus em forma de alimento."
Já as famosas medalhinhas de Santo Antônio figuram como uma "sorte extra" encontrada por quem mais precisa, indicando uma intersecção de Santo Antônio para realizar o milagre de encontrar o par perfeito e levá-lo ao altar. "Mas tudo depende da fé da pessoa", lembra o padre.
Da mesma forma, os pães que são abençoados nas festas do santo levam a multiplicação da palavra de Jesus e do alimento, aqui literalmente. Já a criança no colo dele representa o Menino Jesus.
Sincretismo religioso
Santo Antônio abdicou das posses e riquezas para levar a palavra de Deus durante a sua vida religiosa. Seu reconhecimento perdura até hoje. No catolicismo ele é conhecido por alguns como Santo Antônio de Lisboa, por ter nascido naquela cidade, mas para outros, ele é Santo Antônio de Pádua, local onde morreu, na Itália.
Na associação às religiões africanas, figura como Ogum. Quem explica essa última relação é Pedro Teotónio Pereira, coordenador do Museu de Lisboa - Santo António.
Ele explica que no século 15, os portugueses chegaram ao Reino do Kongo, na região que engloba parte da atual Angola, República do Congo, República Democrática do Congo e Gabão, e os missionários cristãos estabeleceram uma presença religiosa, resultando em um sincretismo religioso entre o catolicismo e as crenças e rituais africanos.
No século 17, o Reino do Kongo começou a enfrentar desafios, o que levou ao surgimento de movimentos populares cristãos em busca de soluções espirituais. "Um desses movimentos foi o Antonionismo, liderado por Kimba Vita, que afirmava que a salvação do Kongo estava na africanização da Igreja Católica", diz.
O movimento foi desfeito pelas tropas do rei do Congo, e Kimba Vita acabou condenada à morte. "Nesse contexto, a figura de Santo Antônio, conhecido localmente como ToniMalau, tornou-se importante, sendo associado à proteção contra doenças, infelicidade e ataques inimigos."
Pereira conta ainda que a devoção a Santo Antônio também foi trazida pelos negros escravizados para o Brasil, onde o sincretismo com as religiões afro-brasileiras ocorreu, como a associação de Antônio com Ogum.
Festividades
Santo Antônio é tão popular em Portugal que todos os anos, durante o mês de junho, a Associação de Turismo de Lisboa realiza um dos eventos mais esperados por turistas e cidadãos locais em sua homenagem.
No Brasil, Santo Antônio está, junto com São Pedro e São João, no centro das festas que são realizadas durante o mês de junho por todo o país. As paróquias que levam o nome dele também preparam festejos especiais. Geralmente, realizam trezenas do dia 1º ao dia 13, data de sua morte, quando há a celebração de missas com distribuição de pães e bolo.
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