É possível 'ressuscitar' um rio? Limpeza no interior de SP chama atenção
Uma professora na cidade paulista de São José do Rio Preto salvou da "morte" o principal rio do município. Em São Paulo, o rio Pinheiros também tem sido "ressuscitado". Mas como é possível salvar rios que pareciam condenados para sempre?
Como detectar um rio enfermo?
O ser humano é o maior causador da "morte de rios". Diversos fatores contribuem para esse cenário: as mudanças climáticas, a ocupação desordenada das margens, as modificações nos leitos, a destruição de nascentes e a poluição por esgoto. Assim, os animais desaparecem, pode haver crescimento excessivo de algas, diminuição no fluxo de água, mau cheiro e lixo boiando.
Os passos para salvar um rio
Para salvar um rio da morte, José Carlos Mierzwa, professor do departamento de Engenharia Hidráulica, lista alguns métodos.
- Mata ciliar: é a vegetação em torno do rio. A mata controla quanta terra e detritos vão para no fundo dos rios
- Conservação: preferencialmente, a mata ciliar deve ser de vegetação nativa e com margens de pelo menos 50 metros intocadas
- Assoreamento: pode ser um processo natural, mas é acelerado pelo homem. A vegetação descontrolada ou o desmatamento aterram o rio com lama e plantas aquáticas. É preciso retirar o material
- Não poluir: evitar o lixo no rio é o principal método para salvá-lo da morte. É o caso do rio Pinheiros, em São Paulo
Os casos do rio Preto e do rio Pinheiros
Em São José do Rio Preto, a organização ecológica liderada pela professora Elizabete Silva Caballero conseguiu salvar o rio Preto, que corta áreas centrais e empresta seu nome ao município. Aparentemente, usando uma receita simples: barrar o esgoto lançado nas águas do rio e direcioná-lo para estações de tratamento.
Antes candidato a "rio Tietê" - em alusão ao trecho altamente poluído do rio na capital paulista -, o trabalho de recuperação teve início nos anos 1980 e foi concluído após mais de três décadas. Hoje, cerca de 90% do esgoto produzido pelos mais de 450 mil moradores é tratado.
Elizabete morreu no acidente do voo 3054 da TAM, quando a aeronave colidiu com um prédio em São Paulo, em 2007. Para mais informações, assista ao segundo episódio de Oeste.
Técnica que deu errado.
Em São Paulo, R$ 160 milhões de reais foram usados para tentar salvar o rio Pinheiros a partir da flotação, técnica que usa boias para agrupar e retirar o lixo da água. O método é apropriado para lagos, mas insuficiente para um rio com 25 km de extensão, alertaram especialistas na época. Incapaz de segurar fezes e urina, o corpo d'água permanece contaminado.
Técnica que está dando certo.
Até os anos 1970, o rio Pinheiros era utilizado para competições aquáticas, natação e banho. No entanto, devido ao crescimento da cidade, decisões do governo, falta de controle no planejamento urbano e de saneamento básico da capital, o rio foi condenado.
A limpeza do Pinheiros era uma promessa dos governos tucanos em São Paulo, incluindo o atual vice-presidente e ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e foi sustentada por mais de uma década. Durante a gestão do então governo João Doria, em 2022, foi adotado um método semelhante ao utilizado em São José do Rio Preto.
De acordo com o projeto, mais de 500 mil imóveis (cerca de 3 milhões de pessoas) foram conectados à rede de esgoto paulistana, e até 2022, foram removidas 46 mil toneladas de lixo, segundo o governo estadual.
Embora não seja possível mergulhar e a água do Pinheiros nunca mais seja potável, o objetivo principal é eliminar o mau cheiro, permitir a navegação e utilizar as margens para atividades comerciais, como bares, cafés e restaurantes.
No ano passado, a equipe de reportagem de Ecoa navegou pelo rio, que já não apresentava mau cheiro, tinha águas transparentes, mas ainda tinha fezes flutuando.
O saneamento básico é um dos maiores desafios do Brasil: aproximadamente 34,1 milhões de domicílios brasileiros, o equivalente a 49,2% do total nacional, não tinham acesso a esgotamento sanitário por rede e mais de 2,2 mil municípios, 39,7% do país, não contavam com esse serviço em 2017, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas)
Outra técnica
Em outra região, na Paraíba, os indígenas Potiguara estão salvando o rio Aterro, que passa pelas aldeias indígenas de Aldeia do Forte e Tambá, no município de Baía da Traição. No passado, a prefeitura canalizou parte do rio, prejudicando seu fluxo natural e a capacidade de arrastar detritos.
Com um trabalho lento e gradual, as comunidades indígenas estão realizando o desassoreamento do rio, removendo resíduos do leito com o uso de ferramentas.
"Minha motivação é fazer com que meu pai veja o rio novamente e também permitir que minha filha de 7 anos o veja", acrescenta Ismael Santos, um dos colaboradores atuantes na aldeia indígena. O rio foi se abrindo, aparecendo e, hoje, os indígenas já retiram os detritos com água na cintura.
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