Jacarés gigantes que engoliram perna de bióloga também viram isca no AM
O jacaré-açu, espécie que arrancou a perna de uma bióloga na reserva Mamirauá, na região amazônica do Médio Solimões, pode chegar a até seis metros. Apesar do tamanho, é usado como isca por seres humanos, o que coloca em risco a vida dos maiores jacarés da Amazônia.
Em 2009, a bióloga Deise Nishimura era estagiária no Projeto Boto, onde realizava monitoramento da espécie, no estado do Amazonas. Em um período de rio baixo, ela foi abocanhada por um jacaré-açu chamado Doroteia. O animal a puxou para a água e rodopiou, uma ação feita para afogar, cansar e facilitar o desmembramento de presas.
Deise se desvencilhou ao cutucar os olhos sensíveis do açu, mas uma das pernas foi decepada. Momentos depois, a perna foi recuperada por indígenas, que mataram jacarés para encontrá-la e, posteriormente, enterrada. A história foi narrada pelo podcast Rádio Novelo.
A vida do jacaré-açu é ameaçada pelo seu uso como isca para o "urubu dos rios", um peixe chamado piracatinga. Caçadores ilegais caçam, cortam a cabeça e caudas dos jacarés para atrair os peixes, que são vendidos por valores altos em países como a Colômbia.
Mas esse uso não é o único algoz na vida dos açu.
É comum que a espécie seja morta de maneira preventiva por ribeirinhos, que os vêem como ameaças, especialmente devido às dimensões e à agilidade dentro d'água.
Não à toa, é um gigante quando comparado com o jacaré-do-Pantanal, um dos mais comuns no país, que alcança pouco mais de 2 metros de comprimento. Também é comum que a carne do jacaré seja vendida ilegalmente como se fosse carne de pirarucu.
Projeto monitora espécie
Na mesma região onde Deise perdeu a perna, mais de um instituto faz o monitoramento dos jacarés-açu. Esse foi o motivo para identificar qual jacaré havia sido o autor da mordida.
Entre os institutos está o Mamirauá, que monitora e também faz o manejo sustentável com comunidades locais para a produção de carne de jacaré.
Assim, eles puderam estabelecer um sistema de rastreio da produção, estimativa da população e também diminuir o tráfico de carne ilegal. O trabalho é feito com populações ribeirinhas, que também usufruem da renda com as vendas.
Segundo um estudo do ICMBio, os jacarés-açu, massivamente caçados entre as décadas 30 e 80, foram aumentando a população ao longo das últimas duas décadas graças ao esforço conjunto que impediu o tráfico do couro e com o aumento da rede de monitoramento.
Entre 2005 e 2012, último ano dos dados, a população de jacarés-açu aumentou em 13% somente em uma das reservas monitoradas pelo órgão estatal, no Amazonas.
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