O que é uma onda de calor? 61 mil pessoas morreram por isso na Europa
Mais de 61 mil pessoas morreram de calor na Europa durante o verão de 2022, de acordo com um vasto estudo publicado nesta segunda-feira (10) na Nature Medicine.
O verão de 2022 foi o mais quente registrado até hoje na Europa, com sucessivas ondas de calor que causaram recordes de temperatura, seca e incêndios florestais.
Os cientistas analisaram dados de temperatura e mortalidade para o período 2015-2022 em 823 regiões de 35 países europeus, com uma população total de mais de 543 milhões de pessoas.
No total, a análise revela que, entre 30 de maio e 4 de setembro de 2022, ocorreram 61.672 mortes atribuíveis ao calor na Europa.
O que é onda de calor?
Basicamente, uma onda de calor ocorre quando se tem uma massa de ar quente estacionária sobre uma determinada localidade, explica o cientista do Clima Alexandre Araújo Costa, professor na Universidade Estadual do Ceará (UECE).
Essa situação bloqueia a chegada de massas de ar polar e mantém a temperatura elevada na região.
Ainda que esse seja um fenômeno que existe naturalmente, o deslocamento para temperaturas mais altas tem tornado a situação mais preocupante.
Não podemos mais chamar de fenômeno natural porque essa onda de calor vem turbinada pelo aquecimento global, que joga o pico de temperatura alguns graus acima. Uma onda que não seria mortal há décadas, hoje, traz riscos mais acentuados".
Alexandre Araújo Costa, cientista do clima
O que as mudanças climáticas têm a ver com onda de calor?
Lanfredi analisa que são diversos os fatores envolvidos na ocorrência de ondas de calor. O aquecimento global é um deles e não deve ser descartado, uma vez que o que se tem verificado não são fenômenos isolados.
"Se começamos a ter várias ondas de calor pipocando ao longo do hemisfério norte ou atingindo áreas muito grandes, temos um componente natural, mas também temos ação antropogênica", diz.
Costa observa que a situação crítica no hemisfério norte já vinha sendo motivo de alerta de cientistas há anos em função do aquecimento global.
O professor sustenta que relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) mostram isso de forma nítida ao apontar um aquecimento, em média, de 1,8ºC em regiões continentais.
"Mudanças que parecem modestas na temperatura média já implicam alterações substanciais na probabilidade estatística de eventos de onda de calor", argumenta.
Mais ondas de calor para o futuro
Segundo Costa, eventos que poderiam acontecer a cada 50 anos estão cinco vezes mais frequentes, com uma ocorrência a cada década, em média. "O mais dramático é que a cada décimo de grau que a temperatura avança, essa proporção aumenta exponencialmente", salienta.
Ondas de calor intenso podem levar a problemas como desidratação severa, desequilíbrio de biomas, secas, incêndios e mortes.
"Os incêndios envolvem um efeito devastador na fauna e flora, além de mais emissão de carbono. A ausência de enfrentamento do problema pode nos colocar em um momento em que o aquecimento global ganha força própria", destaca Costa.
E o Brasil? Vai ter onda de calor?
"A princípio, deveríamos esperar no máximo alguns veranicos no inverno. Às vezes as pessoas se surpreendem com eventos de frio extremo, mas não deveriam. Todas as estáticas mostram nitidamente que os recordes de frio estão mais raros que os de calor. No conjunto das estações meteorológicas no mundo, os eventos de calor extremo estão mais frequentes", reforça o professor Alexandre.
Doutorando no Programa de Meteorologia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IGA/USP), o pesquisador Isaque Saes Lanfredi acrescenta que as ondas de calor podem ocorrer tanto no hemisfério sul quanto no hemisfério norte.
A diferença é que por ter uma região com mais terra essas mudanças são mais intensas no hemisfério norte do que em comparação ao hemisfério sul.
Qual o caminho para frear essas mudanças no clima?
Ambos os pesquisadores consultados acreditam que faltam políticas públicas para reduzir emissões de gases e, logo, frear o aquecimento global. A mudança precisa vir urgentemente.
"A população mundial está aumentando e a necessidade de energia como um todo vai aumentar também", alerta Lanfredi.
Costa, por sua vez, afirma que o melhor que se pode fazer agora é contenção de danos, o que significa abandonar combustíveis fósseis e encerrar outras fontes de emissão, como o desmatamento.
*Com informações da AFP
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