Topo

Tempestades no sul e crise econômica: El Niño pode atrapalhar sua vida

Getty Images
Imagem: Getty Images

Bárbara Poerner

Colaboração para Ecoa, em Florianópolis (SC)

14/07/2023 06h00

O El Niño é um fenômeno natural caracterizado pelo aquecimento acima do comum das águas do Oceano Pacífico equatorial. Embora pareça uma definição muito técnica e distante do nosso cotidiano, "precisamos entender que [ele] altera a vida de milhares de pessoas em muitos locais do planeta", explica a meteorologista do Climatempo Josélia Pegorim.

O fenômeno data do século 19, continua ela. O nome, em espanhol, foi dado por pescadores do Peru. Ao notarem que o mar estava mais quente do que o normal, afastando e diminuindo a incidência dos peixes, eles escolheram chamar o acontecimento de "el niño", em uma referência ao menino Jesus.

Como algo distante influencia no Brasil?

Mas como um mudança oceânica pode interferir em lugares que nem são banhados pelo Pacífico?

"Os oceanos e a atmosfera estão sempre conversando, e como a atmosfera é um fluido, isso acaba refletindo em outras áreas do globo. Existem as chamadas teleconexões, que acabam trazendo esses efeitos", acrescenta Desirée Brandt, meteorologista da empresa Nottus.

Esse alto aquecimento no Pacífico equatorial causa mudanças na circulação de ventos, distribuição de umidade e na forma como vai chover em vários locais do mundo. As preocupações de entidades e cientistas é que algumas regiões podem ficar mais úmidas do que o normal, outras muito secas, elevando o risco de catástrofes ambientais.

El niño - Carlos Garcia Granthon/Fotoholica Press/LightRocket via Getty Images - Carlos Garcia Granthon/Fotoholica Press/LightRocket via Getty Images
Em Punta Hermosa, praia de Lima (Peru), moradores limpam lama deixada por chuvas causadas pelo El Niño
Imagem: Carlos Garcia Granthon/Fotoholica Press/LightRocket via Getty Images

Eventos extremos também acontecerão no Brasil?

Com o El Niño, a atmosfera fica mais quente. É esse um dos pontos de conexão com as mudanças do clima. O fenômeno é natural, mas suas implicações podem se somar às realidades já agravadas pelo aquecimento global.

Tudo isso aumenta as ondas de calor, que já mataram mais de 166 mil pessoas no mundo entre 1998 e 2017, conforme a Organização Mundial de Saúde.

Com o aumento de gases de efeito estufa que nós estamos jogando nas atmosferas, as ondas de calor estão mais frequentes.

Josélia Pegorim, meteorologista

E tendem a crescer: entre os anos 2000 e 2016, o número de pessoas expostas a ondas de calor aumentou aproximadamente em 125 milhões.

No Brasil, o fenômeno deve provocar chuvas intensas na região sul do país. A explicação técnica, segundo a meteorologista do Climatempo, é que oceanos mais quentes ajudam a injetar mais água na atmosfera, e isso estimula a formação de mais chuva.

El niño - Divulgação/CMBRS - Divulgação/CMBRS
Fortes chuvas e passagem de ciclone deixaram casas alagadas no Rio Grande do Sul
Imagem: Divulgação/CMBRS

Como no inverno as precipitações já são esperadas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, o aumento pluvial pode agravar o risco de enchentes e deslizamentos.

Josélia destaca que é importante ampliar as informações sobre o que se deve ou não fazer em momentos como esse. A Defesa Civil busca atuar nesse sentido.

El Niño influencia no seu bolso?

As alterações climáticas causadas pelo El Niño influenciam da saúde à economia. Estudos mostram como regiões afetadas pelo fenômeno tiveram ativações de doenças 2,5% a 28% maiores durante os anos com os eventos, e mostram os impactos no decrescimento econômico de alguns países. Desirée explica que é importante saber como ele irá afetar os pólos agrícolas do nosso país.

Em grande parte do Brasil, o fenômeno muda a qualidade da chuva. Por exemplo, existe o risco da queda de granizo, o que traz enorme prejuízo para as lavouras.

Desirée Brandt, meteorologista

Essas variações podem causar aumento do preço de alguns alimentos, já que a agricultura precisa de condições específicas para se desenvolver.

Josélia acrescenta, ainda, que nosso comportamento é alterado pelo tempo lá fora. Ou seja, se temos mais dias de calor e menos dias frios, a tendência é que roupas de inverno não sejam a escolha de compras de muitos brasileiros. A conta de luz também pode aumentar devido ao uso intensivo de eletrodomésticos como o ar-condicionado e a geladeira.

A meteorologista ressalta, no entanto, que o El Niño não é como uma frente fria, que tem uma temporalidade específica e é possível prever a sua chegada. "As pessoas não ficam se perguntando quando ele vai chegar. Ele não chega, você não vai fazer um café para tomar com ele à tarde."

*

Um fazendeiro excêntrico cria um safári africano, uma cidade famosa por seus caixões? Em "OESTE", nova série em vídeos do UOL, você descobre estas e outras histórias inacreditáveis que transformam o Centro-Oeste brasileiro. Assista:

Siga Ecoa nas redes sociais e conheça mais histórias que inspiram e transformam o mundo
https://www.instagram.com/ecoa_uol/
https://twitter.com/ecoa_uol