Você sabe quem é o secretário das Periferias de Lula? 'Um sobrevivente'
O movimento de vendas em um beco no Quênia fez Guilherme Simões, 38 anos, lembrar o frenesi da Rocinha. Secretário das Periferias do Ministério das Cidades, ele chefiou a agenda da delegação brasileira na Assembleia Geral da ONU-Habitat, no início de junho no país africano.
O grupo participou de espaços diplomáticos para "restabelecer relações perdidas nos últimos quatro anos", mas também conheceu realidades e iniciativas populares de Kibera e Mathare, favelas da capital Nairobi.
Em Mathare, por exemplo, em resistência ao alto índice de violência policial, moradores plantam árvores em homenagem às pessoas assassinadas.
Criado na zona sul de São Paulo, Guilherme assumiu a recém-criada Secretaria Nacional de Periferias. A partir do "Caravana das Periferias" - uma ação do Ministério das Cidades que tem como objetivo mobilizar agentes que atuam em territórios periféricos - viaja o Brasil para conhecer projetos inspiradores de diferentes quebradas.
"Kibera lembra muito o Cocaia [no distrito do Grajaú, zona sul da capital paulista], em 1992", conta o secretário. Na margem da represa Billings, entre bodes e cabritos, ele e os vizinhos jogavam bola na rua de terra com esgoto a céu aberto.
'Um sobrevivente'
A violência também era parecida com a das favelas de Nairobi. Uma vez, indo para a escola, ele conta ter visto um morto em um bar. "Ao perder, o homem não quis pagar a aposta da sinuca, uma ficha de R$ 0,50".
Esses episódios não eram esporádicos. Em levantamento do Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade (PRO-AIM) da Prefeitura de São Paulo, entre 1985 e 1995 o Grajaú foi o 5º distrito em homicídio de jovens de 15 a 19 anos. "Eu me considero um sobrevivente".
Apesar disso, ele, a irmã e os pais sonhavam com um futuro melhor. Ainda na escola, trabalhou como office boy e fez cursinho pré-vestibular. A jornada de duas horas e meia de ônibus e trem até a Lapa, aos sábados, e os dias de estudo, ao longo da semana, garantiram uma vaga no curso de Ciências Sociais na Universidade Estadual Paulista (Unesp), que concluiu no campus de Araraquara, no interior de São Paulo.
Ciências Sociais e MTST
Fã de rap e de rodas de samba, Simões herdou o gosto musical dos tios. As leituras do curso universitário também proporcionaram reflexões teóricas sobre o racismo e a desigualdade social que vivia.
Numa festa, lembro de ver fotos de uma pessoa em diferentes países. Fiquei chocado e refleti mais sobre a desigualdade social.
Guilherme Simões, secretário Nacional das Periferias
Em outro episódio, ouviu de uma professora que ele parecia um 'trombadinha'. "Levei na brincadeira, mas rolou um mal-estar."
Em 2005, ele conheceu uma ocupação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), em São Paulo e, dois anos depois, estendeu o alcance do movimento para a cidade de Campinas, no interior do estado.
Nos 18 anos de atuação, ajudou a nacionalizar o movimento em estados como Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Ceará. "A experiência me qualificou, pois conheci realidades do país todo."
Secretário de Estado
Guilherme Simões só tinha 9 anos quando viu pela televisão o lançamento da Caravana da Cidadania pelo hoje presidente da República. Ao perder as eleições de 1989, Lula saiu em viagem e percorreu 395 cidades em todos os estados do Brasil.
O objetivo, segundo o Instituto Lula, era "construir, pelo diálogo com a população, uma alternativa de governo popular e democrático que respondesse às reais necessidades do país".
Simões conta que esse foi um episódio importante para ele aceitar o cargo no atual governo.
A Secretaria Nacional de Periferias é uma das cinco divisões do Ministério das Cidades, e sua criação foi motivada por movimentos sociais e coletivos de favela. O secretário considera a periferia o palco das contradições atuais.
Apesar do enraizamento do bolsonarismo, grupos locais, que mataram a fome na pandemia, tornaram-se referência nas favelas.
Guilherme Simões, secretário Nacional das Periferias
No Complexo do Alemão, por exemplo, ele conta que, ao receber um plano popular da juventude, o presidente Lula percebeu a importância de um espaço que os contemplasse.
Na prática, a ideia é que os editais de orçamentos em estruturação urbana do Ministério das Cidades priorizem prefeituras que dialoguem com planos e iniciativas populares.
Para isso, Simões elaborou o programa Periferia Viva. O programa vai mapear essas iniciativas, que "servirão como catalisador nas intervenções públicas", e quer impulsioná-las com uma premiação.
Desde janeiro, o secretário vê pouco os filhos e a esposa, que moram no Grajaú, em São Paulo, e precisou abrir mão dos passeios no bairro. "Mesmo assim, tenho orgulho de fazer parte da reconstrução do país."
Para saber mais sobre as ações da Secretaria Nacional de Periferias o cadastrar uma iniciativa, acesse o site do programa.
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