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Monogamia, fidelidade e muito sexo: como vivem os casais de araras-azuis

De Ecoa, em São Paulo (SP)

22/07/2023 06h00

Quando a arara-azul fêmea está chocando o ovo de seu futuro filhote, é o macho da ninhada que sai para buscar alimento.

Assim que o macho chega e alimenta sua "esposa", eles embarcam em uma relação sexual ali mesmo.

"Ao longo do período reprodutivo, eles têm uma relação muito intensa. Mesmo que a fêmea esteja chocando o ovo, mesmo quando o filhote nasce, eles sempre fazem a cópula no dia a dia", conta Neiva Guedes, bióloga, integrante da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) e presidente do Instituto Arara-Azul.

As araras formam pares com seis ou sete anos, mas só se reproduzem dois ou três anos depois do "namoro". Esses casais vivem o tempo todo juntos, dividindo as tarefas nos ninhos, cuidando dos filhotes e procurando alimentos.

A estimativa é que, na natureza, elas vivam até 40 anos, o que significa que o casal de araras-azuis pode completar bodas de pérola, ou seja, os 30 anos de matrimônio.

Arara-azul - Wolfgang Kaehler/LightRocket via Getty Images - Wolfgang Kaehler/LightRocket via Getty Images
Uma pesquisa de 33 anos, combinando observações de campo e análise genética, confirmou que a maioria dos casais de arara azul é monogâmica.
Imagem: Wolfgang Kaehler/LightRocket via Getty Images

A arara-azul tem chamado a atenção dos pesquisadores devido ao seu comportamento monogâmico. A monogamia não é regra sem exceção para todos os indivíduos da espécie, mas estudos de campo com araras-azuis revelaram que a maioria dos casais permanece fiel ao longo da vida.

Arara-azul - Sylvain CORDIER/Gamma-Rapho via Getty Images - Sylvain CORDIER/Gamma-Rapho via Getty Images
Esses casais passam a maior parte do tempo juntos, compartilhando a responsabilidade de cuidar de seus filhotes.
Imagem: Sylvain CORDIER/Gamma-Rapho via Getty Images

Quando um dos parceiros morre, é possível que novos pares se formem, como já foi observado na natureza, mas há casos em que isso não acontece.

Arara-azul - Wolfgang Kaehler/LightRocket via Getty Images - Wolfgang Kaehler/LightRocket via Getty Images
É comum observar os casais trabalhando juntos na escavação e expansão de ninhos.
Imagem: Wolfgang Kaehler/LightRocket via Getty Images

Mas a relação familiar intensa das araras-azuis não se reduz aos casais. Com os filhotes, o vínculo também é notável.

Arara-azul no Pantanal  - Sylvain CORDIER/Gamma-Rapho via Getty Images - Sylvain CORDIER/Gamma-Rapho via Getty Images
Enquando a fêmea está incubando o ovo, o macho fica de "guarda" na entrada do ninho.
Imagem: Sylvain CORDIER/Gamma-Rapho via Getty Images

Diferentemente de algumas espécies de aves que abandonam os ovos ou filhotes quando perturbados, as araras azuis não abandonam seus ninhos, muito pelo contrário, elas são muito cuidadosas com suas crias.

Casal de araras no Pantanal - Wolfgang Kaehler/Wolfgang Kaehler - Wolfgang Kaehler/Wolfgang Kaehler
Quanto aos filhotes das araras-azuis, eles são verdadeiramente irmãos
Imagem: Wolfgang Kaehler/Wolfgang Kaehler

As araras fazem um trabalho de limpeza das penas dos filhotes, que segundo a bióloga Neiva Guedes "é realmente um comportamento muito lindo de se ver e que a gente aprende bastante observando-o".

Casal de araras no Pantanal  - Wolfgang Kaehler/LightRocket via Getty Images - Wolfgang Kaehler/LightRocket via Getty Images
A arara azul, uma espécie encontrada na família dos psitacídeos
Imagem: Wolfgang Kaehler/LightRocket via Getty Images

Mesmo em situações de perda, como incêndios ou inundações, os pais permanecem próximos do ninho, voando ao redor em busca de seus "herdeiros".

Arara-azul - Wolfgang Kaehler - Wolfgang Kaehler
Em outras espécies de psitacídeos a monogamia não é tão comum como é nas araras-azuis
Imagem: Wolfgang Kaehler

A presidente do Instituto Arara-Azul conta uma história sobre quando encontrou um filhote que caiu do ninho, o avaliou e depois de um dia foi devolvê-lo para o ninho perto de onde ele foi encontrado.

A arara-azul também é capaz de gerar sua cor por meio de sistemas microscópicos de refração da luz oculto nas penas - Reprodução/Wikimedia Commons/Erik Kilby - Reprodução/Wikimedia Commons/Erik Kilby
A arara-azul também é capaz de gerar sua cor por meio de sistemas microscópicos de refração da luz oculto nas penas
Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons/Erik Kilby

"Quando a gente chegou no local, havia várias araras-azuis voando procurando por esse filhote. Na hora que ele ouviu o grito dos pais, eles tiveram uma comunicação específica e esse filhote, no chão, foi andando em direção aos pais", conta a bióloga.

araras - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Neiva: "Acho que no mundo, principalmente depois da pandemia, as relações têm mudado muito. Então, é importante a gente observar os animais e tentar se espelhar neles"
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Eu acho que podemos aprender quase tudo com as araras. A questão da fidelidade entre os pares, o cuidado parental porque não é só a fêmea que cuida do filhote, o macho também, a divisão de tarefas, não fica uma sobrecarga só para um.

Neiva Guedes, bióloga, integrante da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) e presidente do Instituto Arara-Azul.

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