Empresas destinam mais de R$ 5 bilhões para projetos sociais ao ano no país
Há 28 anos, um grupo com 170 associados entre empresas, institutos e fundações, atua fazendo investimentos sociais bilionários em projetos nas áreas de educação, saúde, proteção do meio ambiente, apoio à juventude, entre outros.
Apenas em 2020, o Gife (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas) mobilizou R$ 5,3 bilhões de recursos que foram destinados a programas próprios ou viabilizaram ações de terceiros. São doações do setor privado sendo aplicadas, muitas vezes, onde os braços do Estado não chega.
Os objetivos do grupo são melhorar momentaneamente a vida das pessoas por meio da filantropia, mas também qualificar o trabalho de quem doa e direciona recursos para projetos de interesse público, a fim de fortalecer a sociedade civil brasileira. O Gife atua como uma plataforma de articulação para conectar, mobilizar e incentivar instituições a fazerem doações.
"O Brasil tem pouco incentivo para doação. É importante dizer isso porque não é que o coração dos norte-americanos ou dos europeus seja mais fofinho do que o nosso, mas tem a ver com uma questão de cultura e de incentivo [fiscal/tributário] à doação", afirma Cassio França, secretário-geral do Gife.
Enfrentando as desigualdades
As atividades do Gife incluem a promoção de diálogo e troca de conhecimento entre os associados por meio de reuniões, eventos, congressos, além da produção de pesquisas, artigos e publicações. "Somos um player, um ator político que faz advocacy para melhorar o marco regulatório da filantropia", diz França.
Além disso, a organização também apresenta uma agenda provocativa com temas de grande importância para o desenvolvimento do país, sendo o principal deles o enfrentamento às desigualdades no Brasil.
"Pautamos nossos associados debaixo de um guarda-chuva que a gente chama da defesa de um país democrático, não só na lógica da democracia formal enquanto processo eleitoral, mas da garantia de direitos", diz o executivo.
Segundo ele, um país democrático promove a equidade racial, pensa no seu desenvolvimento a partir das urgências climáticas e não tem 33 milhões de pessoas passando fome.
Todos os projetos têm sua valia, mas se pensarmos em desarmar as estruturas das desigualdades, nos posicionamos de uma maneira que o país precisa mais a médio e longo prazo.
Cassio França, secretário-geral do Gife
Combatendo o bullying e o racismo
Um dos associados do Gife, o Instituto Unibanco, por meio do programa Jovem de Futuro, possui o projeto Gestão Escolar para a Equidade, como parte de suas ações contra o racismo e em defesa da equidade racial.
"Realizada em parceria com as secretarias estaduais de educação do Espírito Santo e do Ceará, a iniciativa leva às escolas um software de autoavaliação sobre o cumprimento da Lei 10.639, que estabelece a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira e africana", explica Ricardo Henriques, superintendente-executivo do Instituto Unibanco.
Por meio deste sistema, a escola identifica suas ações e fragilidades e recebe orientações e sugestões de atividades que podem ser aplicadas para que a lei seja cumprida de forma efetiva e assertiva.
Cristiano Lima, professor e diretor da Escola Maria Conceição de Araújo, em Acaraú (CE), diz que a instituição de ensino também tem sido beneficiada pelo Jovem de Futuro, que melhorou a gestão escolar como um todo, e pelo sistema de gestão para a equidade racial.
"Adotamos medidas para combater o racismo e a discriminação, e implementamos ações afirmativas e antirracistas. Essas práticas têm contribuído para a construção de relações saudáveis entre os estudantes, que estão se conscientizando sobre as questões relacionadas à equidade racial", conta.
O professor diz que está notando a diminuição nos casos de bullying e discriminação, enquanto o senso de pertencimento e o respeito mútuo estão se fortalecendo.
Os alunos estão aprendendo a valorizar as diferenças e a reconhecer a importância de se construir uma sociedade mais igualitária e justa.
Cristiano Lima, professor
Ainda segundo Lima, as políticas de inclusão e diversidade no currículo e nas atividades extracurriculares, e os treinamentos e workshops sobre o tema também surtiram efeito entre os professores e colaboradores da escola de forma geral. "O conhecimento adquirido permitiu que nossa equipe abordasse as questões raciais de maneira mais assertiva e sensível nas aulas e no dia a dia da instituição."
Capital financeiro e político
Para o secretário-geral do Gife, Cassio França, buscar um equilíbrio entre doação e execução é fundamental para o desenvolvimento do Brasil e para enfrentar as desigualdades.
Segundo ele, doar é importante e ninguém precisa ser bilionário para fazer isso, mas ele pondera que o papel do investimento social privado vai além do capital financeiro, ele possui um capital político. "Além de ser uma questão moral, para mim é uma obrigação ampliar o sentido cívico das organizações, empresas e famílias".
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