Sem dinheiro, ele criou curso que já fatura R$ 1 mi e ajuda 500 mil alunos
Em 2019, o pernambucano Rhayann Vasconcelos tinha apenas 23 anos e o desejo de fomentar o empreendedorismo no Brasil quando fundou a Acelere Educação, uma startup que teria como objetivo investir na educação de qualidade a jovens.
A chegada da pandemia de covid-19 um ano depois, porém, mudou a missão da empresa. Sem poder realizar os eventos e ao se deparar com as notícias de escolas fechadas e de jovens querendo largar os estudos, Rhayann percebeu que não poderia ficar de braços cruzados.
"Era preciso agir, uma ação não mais empreendedora, mas de cidadania e de responsabilidade social para levar conhecimento e oportunidade aos estudantes. A partir daí, vi um ambiente propício para criar o Acelere no Enem, um cursinho online e gratuito preparatório para o vestibular", conta ele em entrevista a Ecoa.
Com caixa zero, mas com vontade de tornar o projeto realidade, o estudante de publicidade e propaganda convidou alguns amigos que eram professores para serem voluntários, transmitiu a primeira aula de um estúdio emprestado e foi em busca de empresas que poderiam trazer publicidade ao negócio.
500 mil estudantes
De agosto a dezembro de 2020, o cursinho recebeu a inscrição de 84 mil estudantes e atingiu um faturamento de R$ 27 mil. "Não esperávamos esse resultado porque tudo foi feito na concepção de se colocar à disposição das pessoas para contribuir num momento difícil."
Pensei se seria uma oportunidade que, de fato, gerou valor aos alunos ou eles apenas se inscreveram pelo desespero e por ser de graça.
Rhayann Vasconcelos
Em busca dessa resposta, Rhayann investiu no projeto ao longo de 2021, ano em que a prova do Enem foi realizada duas vezes. Montou o primeiro estúdio, aumentou o número de aulas e contratou um social media, uma designer e uma coordenadora pedagógica.
Até então, ele fazia tudo sozinho, mas com a chegada dos novos profissionais na equipe, ele ficou mais focado na gestão, no institucional e nas parcerias com as marcas. O esforço gerou resultados e ele encontrou a resposta que buscava.
Em 2021, o projeto teve 489 mil estudantes inscritos e faturamento de R$ 300 mil; em 2022, foram 519 mil inscrições e R$ 1 milhão de faturamento. Em 2023, a expectativa é faturar ainda mais, na casa dos R$ 5 milhões.
Como funciona
Qualquer pessoa de qualquer idade pode se inscrever gratuitamente no Acelere no Enem. Não existe nenhum critério, basta acessar acelerenoenem.com.br e fazer um cadastro.
A partir daí, o estudante terá acesso a uma série de ferramentas de forma online e gratuita, que inclui aulas ao vivo de segunda a sexta, aulas gravadas, exercícios, monitorias interativas, simulados, teste vocacional e acompanhamento pedagógico.
Tudo isso dentro de uma plataforma gamificada em que o aluno ganha pontos conforme a sua participação em aulas, simulados, exercícios e trilhas de conhecimento. Como incentivo, aquele que mais acumular pontos no mês é premiado com um tablet.
Atualmente, o curso tem nove professores e nove monitores, todos remunerados, funciona de março a novembro, mas o conteúdo fica disponível e os alunos podem se inscrever em qualquer época do ano.
De graça, mas não fraco
Estudante de colégio particular por toda a vida, Rhayann só fez a oitava série na escola pública quando seu pai disse que não conseguia mais bancar seus estudos. A notícia gerou um baque porque ele sempre ouviu dizer que quem estuda em escola pública não tem oportunidade e perspectiva.
"Fiquei com vergonha que meus amigos soubessem que estava indo para a escola pública, mas acredito que certas coisas acontecem por um propósito", diz.
Se eu não tivesse tido essa experiência, hoje não estaria fazendo o que faço porque não teria conhecido a realidade que conheci e sentido a dor que esses alunos sentem.
Rhayann Vasconcelos
Inspirado em sua própria vivência, ele afirma que o Acelere no Enem tem como missão democratizar o acesso à educação de qualidade no Brasil. "Nosso país acostumou-se à ideia do que é público ou para pessoas que não têm uma condição financeira e sociável tão favorável tem que ser ruim", diz.
O cursinho atende alunos de todas as classes sociais, mas majoritariamente pessoas de baixa renda. "Mas não é porque é de graça que tem que ser ruim, pelo contrário, tem que ser muito bom. Nossa premissa básica é de oferecer qualidade mesmo sendo de graça."
Aprovada em 4 universidades
Em três anos de atividade, o Acelere no Enem já atendeu 1,1 milhão de estudantes, entre eles, Gerliane Cavalcante Gonçalves, de 26 anos, que passou em quatro faculdades após fazer o cursinho, atingindo o primeiro lugar em duas delas: engenharia de produção, na Universidade Federal do Vale do São Francisco; e fisioterapia, na Universidade Norte do Paraná.
"Fazia quase 10 anos que havia concluído o ensino médio e precisava de um suporte pedagógico. Graças à tecnologia e por ser à distância e gratuito pude participar do Acelere no Enem. Minha experiência foi muito boa."
Era só eu, um celular e um sonho distante de cursar o ensino superior, mas mal sabia eu que, além de Deus, eu estava no cursinho certo.
Gerliane Cavalcante
Em 2015, a pontuação de Gerliane na redação foi 540; em 2016, foi 560; em 2022, com o Acelere, foi 760.
"Tenho fé que vou concluir o curso de fisioterapia e exercer minha profissão com amor, seja prevenido ou reabilitando pacientes debilitados, ou em sala de aula transmitindo meu conhecimento", diz.
Entre as 10 melhores pela Brazil Conference Harvard & MIT
Em 2021, o Acelere no Enem foi reconhecido como uma das 30 melhores iniciativas do país pela Brazil Conference Harvard & MIT, maior conferência organizada por estudantes em Boston, nos Estados Unidos. Em 2022 ficou entre as 10.
Também em 2022, foi escolhido entre um dos cinco melhores do país na categoria Educação Básica no Prêmio do Movimento LED - Luz na Educação, oferecido pela TV Globo e Fundação Roberto Marinho. Por sua atuação na área, Rhayann entrou na lista Forbes Under 30, na categoria Empreendedorismo Social (2021/2022).
Hoje, aos 26 anos, o estudante que deve concluir o curso de publicidade e propaganda em 2024, define essas conquistas em duas palavras: alegria e responsabilidade. Para ele, é uma missão nobre poder ajudar outros jovens a realizar o sonho de entrar na universidade.
"Quero estender as oportunidades que tive a outras pessoas. Quando um jovem tem acesso ao ensino superior ele consegue transformar a sua vida, a da família dele, da comunidade, do bairro, da cidade, do estado e do país. Dar oportunidade aos estudantes contribui para que tenhamos um Brasil mais justo, sustentável e desenvolvido".
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