'Hostilidade implacável': Brasil é país dos mais perigosos para ecologistas
Os assassinatos de ambientalistas dobraram em um ano na Colômbia, o país mais perigoso para a defesa do planeta, com 60 vítimas em 2022, aponta o relatório anual da ONG Global Witness, divulgado nesta terça-feira (13). No Brasil, 34 ativistas foram executados.
O relatório indica que 177 ambientalistas foram assassinados no mundo no ano passado, 88% deles na América Latina. Embora o número global seja levemente inferior ao do ano anterior (200), "a situação não melhorou substancialmente" e manteve-se a média de um ativista assassinado a cada dois dias, apurou a organização britânica.
"A América Latina é uma região onde existem movimentos sociais muito importantes e muito fortes. É uma região também muito rica em recursos naturais, que produz grande parte dos produtos agrícolas para o resto do mundo", explicou Laura Furones, principal autora do relatório à jornalista Jeanne Richard, da RFI. "As pessoas que vivem lá veem como esses recursos naturais são explorados. Eles se sentem compelidos a defender a terra e são atacados pelo seu comprometimento, pelo seu esforço," disse.
"Continua sendo difícil especificar as causas exatas dos assassinatos", destacou a Global Witness, embora a maioria tenha sido relacionada ao agronegócio, à mineração, à exploração madeireira, ao acesso à água e à caça proibida.
Menores de idade também foram alvos da violência: "Três no Brasil, um na Colômbia e outro no México. Três deles eram indígenas", aponta o relatório.
Hostilidade implacável
No Brasil, os ambientalistas enfrentaram "uma hostilidade implacável" da parte do então presidente, Jair Bolsonaro (2019-2022), um negacionista das mudanças climáticas.
O ano de 2022 foi perigoso para os ambientalistas que trabalham na Floresta Amazônica. "No ano passado, morreram ali 39 defensores, 11 deles procedentes de comunidades indígenas", destaca o relatório.
"Ano após ano, aqueles que defendem esse bioma dão a vida protegendo seus lares, seus meios de subsistência e o bom estado do nosso planeta", alertou a Global Witness.
Em 2022, o assassinato do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira, na Amazônia, tornou-se um símbolo da violência crescente naquela região, onde atuam traficantes de drogas, garimpeiros e caçadores ilegais.
Fogo cruzado
A Colômbia, que enfrenta um conflito armado de meio século, sempre esteve entre os países mais perigosos para os ambientalistas. No ano passado, o número de assassinatos quase dobrou em relação a 2021, quando foram registradas 33 vítimas.
O primeiro presidente de esquerda da história da Colômbia quer levar o país a uma transição energética e coloca a proteção da Amazônia e dos ativistas no centro do seu discurso, mas a ONG Somos Defensores aponta que "a dívida persiste", com um aumento de 42% nos assassinatos de defensores dos direitos humanos em 2022 e uma impunidade que ronda os 95%.
Após o assassinato de quatro colegas ambientalistas, Nadia Umaña, 35, e outros três que sobreviventes fugiram do seu território, no norte da Colômbia. Socióloga, ela faz parte de uma organização que reivindica terras de camponeses deslocados por paramilitares, na fronteira entre dois departamentos historicamente marcados pela violência dos esquadrões de direita.
Nadia denuncia o que chama de ataque sistemático contra a sua organização por se opor aos paramilitares e aos seus negócios ligados à pecuária e à exploração de hidrocarbonetos nas terras roubadas, entre outros.
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Quero receberA vice-presidente da Colômbia, Francia Márquez, que recebeu em 2018 o Prêmio Goldman, também conhecido como Nobel do Meio Ambiente, também recebeu ataques e ameaças. Em 2019, antes de chegar ao poder, ela sobreviveu a um ataque com granadas e tiros de fuzil por defender a água das comunidades negras frente à mineração.
Nadia Umaña e seus companheiros lutam agora à distância, a partir da capital. "Tomamos a decisão de não deixar nem mais um morto" e de nos mudar para Bogotá, lamentou.
América Latina letal
Embora haja uma subnotificação, "pelo menos 1.910 pessoas defensoras da terra e do meio ambiente perderam a vida em todo o mundo desde que a Global Witness começou a documentar esses homicídios, em 2012". Um total de 70% deles ocorreram na América Latina.
O México, país com mais assassinatos em 2021, registrou uma queda, passando de 54 para 31, mas a situação local continua alarmante, ressalta o relatório.
Na Ásia, foram documentados 16 homicídios, 11 deles nas Filipinas.
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