Misteriosos 'círculos de fadas' estão em mais lugares do que se pensava
Um estudo inédito da Universidade de Alicante, na Espanha, conseguiu mapear pela primeira vez em escala global os chamados "círculos de fadas", uma das formações naturais mais impressionantes e misteriosas que podem ser observadas em zonas áridas da Terra.
Sabia-se, até então, que eles estavam localizados na Namíbia e na Austrália, mas esses padrões circulares enigmáticos de solo, rodeado de vegetação, foram vistos em ao menos 15 países de três continentes.
A descoberta foi relatada no artigo "A biogeografia global e os impulsionadores ambientais dos círculos de fadas", publicado na revista da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, a PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America), na última segunda-feira (25).
O que são círculos de fadas?
Círculos de fadas são padrões regulares de vegetação formados ao redor de discos de terra seca em áreas áridas, por exemplo. Segundo crenças populares, teriam sido criados por divindades ou seres mágicos.
O estudo mostrou pela primeira vez que fatores climáticos, elementos do solo e ambientais também contribuem para identificá-los em escala global, além da Namíbia e Austrália. Isso só foi possível após o estudo liderado pelo Laboratório de Ecologia de Zonas Áridas e Mudança Global da UA (Universidade de Alicante), na Espanha.
"Analisar os seus efeitos no funcionamento dos ecossistemas e descobrir os fatores ambientais que determinam a sua distribuição é fundamental para compreender melhor as causas da formação desses padrões de vegetação e sua importância ecológica", explicou Emilio Guirado, cientista de dados da UA e líder do estudo, em comunicado da Universidade de Alicante.
Para conseguir isso, foi necessário utilizar modelos baseados em inteligência artificial. Os cientistas treinaram a tecnologia com15 mil imagens de satélite oriundas da Namíbia e da Austrália.
Ao todo eles obtiveram imagens descritas de 263 locais em 15 países de três continentes (África, Ásia e Oceania), que incluem: o Sahel (parte transitória do Saara com a savana africana), o Saara Ocidental, Madagascar, o sudoeste da Ásia e a Austrália Central.
Nosso estudo fornece evidências de que as formações vegetais em círculos de fadas são muito mais comuns do que se pensava anteriormente, o que nos permite compreender globalmente os fatores que afetam a sua distribuição.
Manuel Delgado Baquerizo, coautor do estudo, do IRNAS-CSIC (Instituto de Recursos Naturais e Agrobiologia do Conselho Superior de Pesquisas Científicas)
Descobertas
Os pesquisadores descobriram que certas combinações de solo e clima, como o baixo teor de nitrogênio e uma precipitação média inferior a 200 mm/ano, estavam relacionadas à presença desses círculos de fada.
Já cupins e formigas tiveram baixa importância para as formações a nível global. Houve exceções regionais: as térmitas (espécie de cupim) tiveram um papel mais importante nas formações dos círculos de fadas na Namíbia do que no Sahel ou na própria Austrália, onde já tinha sido descrita sua presença.
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Quero receber"Este estudo levou em conta múltiplas variáveis não consideradas até aqui, como o albedo [fração de radiação solar refletida por uma superfície ou objeto] ou estado dos aquíferos", assinalou o também coautor Jaime Martínez-Valderrama, da EEZA (Estação Experimental de Zonas Áridas) do CSIC.
Tais descobertas são importantes não apenas para estudar onde há círculos de fadas, mas outras regiões semelhantes, como falou o coautor e pesquisador da Universidade Complutense de Madri, Miguel Berdugo.
Todos esses dados abrem a porta para pesquisas sobre se estes padrões espaciais podem ser indicadores da degradação de ecossistemas com as mudanças climáticas, como ocorre com outros padrões espaciais da vegetação em zonas áridas.
Miguel Berdugo
Um dos principais resultados do estudo foi a geração de um atlas global de círculos de fadas, o primeiro no mundo, além da obtenção de uma base de dados que pode ajudar a determinar se a presença dessas formações torna os ecossistemas áridos mais resilientes, ou seja, mais adaptáveis às mudanças climáticas e outras perturbações.
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