Orcas na menopausa ficam mais pacíficas e separam brigas de machos
Viver além da idade reprodutiva na natureza é algo pouco comum na maioria das espécies, e apesar de parecer comum aos humanos, chegar até a menopausa é uma característica particularmente rara no mundo animal.
No entanto, as orcas são uma exceção à "quase regra" e, para além disso, o período de queda hormonal, que se dá por volta dos 40 anos nos animais, está ligado a um comportamento significativamente positivo para o grupo.
Foi o que apontou um estudo publicado na revista Current Biology, que analisou arranhões e cicatrizes nas barbatanas dos animais de um grupo que vive no Pacífico noroeste dos EUA e concluiu que as fêmeas mais velhas no período pós-menopausa desprendem mais tempo cuidando de seus filhos machos adultos, evitando que entrem em confronto com outras orcas.
Conhecidas erroneamente como "baleias assassinas", as orcas (Orcinus orca), que na verdade são da família dos golfinhos, tornam-se "solucionadoras de conflitos" e "pacifistas" com a chegada desse período não reprodutivo das fêmeas.
Proteção só para "meninos"
Essa intersecção pela "não-violência" se estende somente aos filhos. Filhas e netos não recebem essa proteção das orcas mais velhas.
O Centro de Pesquisa de Baleias que coletou as informações que compõem o estudo acompanha o grupo de orcas há 47 anos. São quase 7.000 registros fotográficos dos 103 membros. Os pesquisadores são capazes de reconhecer cada uma das orcas pelo padrão de manchas de suas nadadeiras.
Os machos adultos com mães em idade pós-reprodutiva apresentavam menos marcas de mordidas em comparação com os machos que suas mães ainda estavam em fase reprodutiva.
Os machucados das barbatanas se dão não só por brigas, mas também por "brincadeiras" que podem ter passado do limite e tomado um tom mais agressivo.
Apesar de parecer um ferimento superficial, as lesões na pele podem ser letais às orcas —há casos de animais que morreram por infecção fúngica após terem simples etiquetas de identificação colocadas em seu corpo.
Não foram observadas disparidades entre as cicatrizes em machos cujas as mães estavam em idade reprodutiva, e ou para aqueles que as mães não estavam no grupo.
"Quando a orca entra na menopausa, ela deixa de ter filhotes e é comum gastar mais tempo cuidando dos filhos. É notado no caso dessas orcas em específico que existe uma diminuição de interação não benéfica com a presença das fêmeas mais velhas para proteger esse clã de orcas", analisa Laura Ippolito, bióloga, especialista em conservação e manejo de vertebrados marinhos.
Fêmeas lideram, ensinam a caçar e dividem comida com filhos machos
O cuidado das mães em menopausa não para por aí. Seus filhos, mesmo depois de adultos, recebem metade do salmão predado por elas —em outras palavras, elas continuam a dividir a comida mesmo depois que os filhos machos estão em idade adulta.
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Quero receberMas longe de todo o centro do grupo serem os machos. Pelo contrário, Ippolito explica que as orcas vivem em uma sociedade matriarcal e sempre há uma orca fêmea que é a líder do grupo.
"Essa orca líder vai ensinar suas filhas a caçarem e se comunicarem, o que é muito importante, e passa a cultura daquelas orcas para os seus descendentes", explica a bióloga.
Esses "ensinamentos" são como um manual de sobrevivência do grupo, elas aprendem qual o tipo de animal que devem predar e as técnicas de como o fazer. É comum que os grupos divididos em regiões diferentes do mundo tenham hábitos alimentares distintos.
"Há 16 ecótipos de orcas, cada um deles tem características distintas. Os animais que estão distribuídos na Antártica, por exemplo, acabam usado uma estratégia para formar ondas e quebrar blocos de gelo onde estão algumas focas, para assim fazer com que caíam na água e sejam predadas", afirma a bióloga.
Fêmeas cuidam de machos para levar descendência genética adiante
Mas o que explica o cuidado tão constante com os machos do grupo? O estudo também sugere que proteger os filhos e ajudar com sua alimentação colabora para que fiquem maiores e cheguem a uma idade mais avançada.
"Os machos têm maior potencial reprodutivo do que as fêmeas, e as fêmeas preferem acasalar com machos maiores e mais velhos", explicou Deborah Giles, diretora de ciência e pesquisa da organização sem fins lucrativos Wild Orca, em entrevista ao National Geographic.
Bem alimentados, os machos acasalam com fêmeas de outros grupos e assim ampliam a descendência genética de suas mães a outros pontos do oceano.
Assim, mesmo fora do período reprodutivo, as orcas fêmeas continuam colaborando indiretamente para reprodução de seu grupo.
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