O que é 'economia verde' e como ela será cada vez mais presente na sua vida
O termo está por todo o lado e, cada vez mais, nos discursos dos políticos. Mas o que, afinal, significa uma economia verde?
Ela designa as diversas formas pelas quais o mundo continuará a gerar riquezas e crescimento econômico, mas sem piorar ainda mais o aquecimento global.
Para isso, é preciso cortar emissões de gases de efeito estufa, que causam o aumento da temperatura do planeta, das atividades que fazem uma economia girar: indústria, infraestruturas, construção civil, agricultura, comércio, transportes e tantos outros aspectos presentes no dia a dia das populações.
"A economia tem três pilares: produção, distribuição e consumo. A economia verde traz critérios de sustentabilidade, de conservação, de responsabilidade social para esses três pilares", explica Mercedes Bustamante, professora do Laboratório de Ecossistemas da UNB e cientista membro do IPCC.
Ela ressalta que a economia verde enfatiza diversos conceitos que podem estar à mão do consumidor, como compartilhamento e circularidade —que geram menos consumo e reaproveitam melhor os recursos do planeta. "A partir do momento em que as pessoas começam a entender de onde vem o que elas consomem, como é produzido e quais as consequências, elas passam a ter um consumo mais consciente e a se envolver, cobrando isso das empresas e do poder público", aponta Bustamante.
Envolver o sistema financeiro
A economia verde é transversal e engloba até áreas como a bancária e financeira. "O setor financeiro é conservador, olha o histórico de rentabilidade dos empreendimentos. Então, os tradicionais, como o petróleo e gás, que ao longo de décadas tiveram um histórico extremamente favorável, têm acesso facilitado ao capital", ressalta Luciane Moessa, diretora-executiva da Soluções Inclusivas Sustentáveis (SIS), que analisa o desempenho das principais instituições do setor e aponta como podem melhorar.
Ex-procuradora do Banco Central, Moessa tem atuado para facilitar a conexão entre o sistema financeiro e o desenvolvimento sustentável. "O setor financeiro tem operado a partir de premissas equivocadas, que olham somente para o passado, o que faz com que tecnologias novas, que têm grande potencial de crescimento, sejam olhadas como muito arriscadas e tenham menos acesso a crédito", afirma. "Um crédito pode ser considerado sustentável de duas formas: por não causar danos ambientais, sociais ou climáticos - que é o mínimo que se deveria esperar, mas infelizmente está longe de ser a regra - ou porque ele causa um impacto positivo do ponto de vista ambiental, contribuir para que a nossa economia, que hoje não é sustentável, como um todo, se sustente no longo prazo."
Energia e o hidrogênio verde, o 'combustível do futuro'
Cada país tem os seus próprios desafios rumo à sustentabilidade - mas o setor de energia é um ponto-chave para todos. As emissões energéticas são responsáveis por nada menos do que 40% do total de CO2 e outros gases despejados na atmosfera. Não à toa, nos quatro cantos do globo, países e empresas buscam tornar o setor menos prejudicial para o planeta.
Esse é um exemplo do quanto a economia verde também significa um manancial de oportunidades. Nas energias renováveis, o Brasil tem potencial de se transformar em uma referência mundial em solar e eólica, mas também na produção e exportação de hidrogênio - apontado como o combustível do futuro.
"A produção do chamado hidrogênio verde demanda energias renováveis, e representa uma janela de oportunidade para o Brasil e sobretudo algumas regiões com enorme potencial de desenvolvimento das renováveis, como o Nordeste, além de trazer novas oportunidades de emprego. Por isso é muito importante associar a formação e qualificação dos recursos humanos, para serem capazes de lidar com esses novos processos", salienta Bustamante, que desde janeiro é também presidente da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).
Agricultura de baixo carbono
Por outro lado, o Brasil ainda tem um enorme dever de casa a cumprir: diminuir drasticamente o impacto ambiental da agricultura, em especial pela queda do desmatamento. O agronegócio, que pesa cerca de 6% no PIB brasileiro e responde por quase a metade das exportações do país, é protagonista da transição para uma agricultura de baixo carbono. Mas os consumidores também têm um papel importante, frisa a cientista.
"Tocamos na questão da rastreabilidade das cadeias produtivas, ou seja, que elas sejam obrigadas a informar corretamente a população de onde vêm os produtos que elas comercializam. A população então vai ser capaz de escolher e entender o peso que as suas escolhas têm para esses grandes desafios nacionais", sublinha.
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