Ivan Baron subiu rampa com Lula, mas criticou fala capacitista do político

No dia 1º de janeiro de 2023, o Brasil parou para ver o presidente Lula subir a rampa do Palácio do Planalto acompanhado de um grupo diverso. Entre eles estava o influenciador Ivan Baron. A iniciativa do presidente eleito foi, na ausência do ex-presidente Jair Bolsonaro, receber a faixa das mãos do povo, representado por pessoas comuns.

Na ocasião, Ivan usou um terno branco feito pelos estilistas Vitor Hugo Soulivier e Juliana Gomes da Silva, que trazia estampadas frases anticapacitistas como "pare de nos excluir", "acolher quem é desacreditado". A cena emocionante fez com que ainda mais gente olhasse para Ivan e conhecesse a sua causa.

Sua trajetória como influenciador, no entanto, é bem anterior ao momento emblemático que viveu em Brasília. Nascido em Natal, Ivan ganhou visibilidade em 2018 quando fez uma campanha para conhecer a cantora Anitta. A mobilização foi notada pela artista e ele conseguiu a foto, o que o fez crescer nas redes sociais.

No princípio, até tentou assumir um perfil blogueiro, mostrando looks do dia, mas logo percebeu que seu propósito era informativo. Decidiu então falar do universo PCD e da inclusão de maneira didática e divertida, o que segue até hoje. "Sou uma pessoa com deficiência conquistando espaços de visibilidade a cada dia", diz.

Antes eu era uma pessoa mais discreta, não tinha seguidores nem um público por quem eu era responsável. Hoje, tenho ciência de que existem pessoas que curtem meu trabalho e de toda a história que eu construí por meio dos meus conteúdos informativos e educativos. Ivan Baron, influencer digital

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Imagem: Tânia Rego/ABr

Ivan tem mais de 1 milhões de seguidores nas redes. O trabalho como influenciador o levou a novos lugares e a trocar ideias com pessoas que jamais conheceria. "Uma das coisas que mais acho fantástica é a Eliana saber meu nome e sobrenome, por exemplo, me seguir nas redes sociais e interagir. Eu cresci vendo aquela artista, ela era minha ídola e hoje eu consigo ser notado por ela!', conta empolgado.

Influencer do Lula

Durante a campanha para a presidência de 2022, Ivan ganhou a alcunha de "Influencer do Lula" e viu sua vida mudar com a subida na rampa. "Tento passar para as pessoas diariamente que eu não sou apenas esse rótulo. Quem já me seguia e me acompanhava antes da posse sabe do meu histórico na internet e que sou um sujeito de muitas possibilidades. Aquela subida da rampa me deu mais força ainda para que a minha mensagem chegasse para mais pessoas", diz.

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Na semana anterior à cirurgia que o presidente se submeteu no quadril, Ivan usou seu espaço para criticar uma fala capacitista do político. Lula afirmou que não seria visto de bengala ou andador em uma entrevista e Ivan rebateu explicando que tais acessórios não devem ser motivo de vergonha.

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Imagem: Divulgação

Ele afirma, no entanto, que sempre analisa o contexto da situação. "Eu sei que nem todas as pessoas com deficiência são obrigadas a terem essa paciência, mas eu me coloquei nesse lugar, eu gosto de ensinar de maneira didática e acredito que tenha dado resultado", pondera.

Não dá para chegar apontando o erro e decretar que aquela pessoa é capacitista e preconceituosa. Essas atitudes espantam o outro e dão zero abertura para o diálogo. Ivan Baron, sobre fala capacitista do presidente Lula

Refutar o aposto 'influencer do presidente' é uma das premissas para poder criticar o governo que apoiou, quando necessário:

"O presidente Lula tem vontade de reconstruir esse país e voltar a ser o exemplo de democracia que era, mas para isso falta o povo no poder também. Aquela representação da rampa deve ser institucionalizada! Quantas pessoas com deficiência estão em cargos de confiança no Governo Federal? Quantas delas em espaços de decisão direta?", questiona de maneira enfática.

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A diversidade precisa estar presente em todo o contexto e não apenas em uma rampa. Ivan Baron, influencer digital

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Imagem: Matt Sousa

Inimigo do fim

Com tantos seguidores no Instagram e no TikTok, a vida do nordestino tem sido, segundo ele, "igual àquele meme do Thiaguinho: é só trabalho, é só trabalho?", brinca. "Ultimamente, eu acordo e já vou pesquisar, gravar vídeos, criar conteúdo para as minhas redes sociais... E três vezes por semana faço terapia para cuidar do meu corpo e aguentar essa rotina toda".

Mas a sua paixão é a noite, a balada, festas e shows após as 21h. "Sou inimigo do fim mesmo, tudo que tiver de after eu tô dentro."

Autor de conteúdos divertidos em parceria com o amigo Fernando Campos, que é cego, ele frisa a importância de definir o que é humor quando o assunto é deficiência. Revela que nunca se achou engraçado, mas acredita que tudo depende da maneira como contamos histórias e principalmente a conotação que damos a elas.

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"Durante uma parte da minha vida, na fase escolar, esse 'ser engraçado' se resumia a ser alvo de piadinhas dos colegas e alívio cômico pelo fato de ter uma deficiência. Atualmente eu já consigo reverter essa situação. Podemos fazer piada que não inferiorize alguém. Humor bom é aquele em que todos riem juntos".

Os temas nem sempre podem ser leves. No Dia dos Pais, enfiou o dedo na ferida do abandono paterno, uma realidade das pessoas com deficiência no país. "Meu pai é uma figura presente, mas toquei nesse assunto para contemplar a situação da maioria das famílias de pessoas com deficiência", diz.

E, claro, não há brechas para o humor quando o assunto é ofensa capacitista travestida de piada. Ivan não vê, nesses casos, outro caminho que não seja levar para o judiciário.

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Imagem: Catarina Xavier

A sociedade precisa entender que capacitismo é crime e que quem cometer deve ser responsabilizado. Nesse tipo de caso, vou atrás dos meus direitos nas instâncias legais. Ivan Baron, influencer digital

O plano para o futuro é ocupar ainda mais espaços, com mensagens leves que cheguem para mais pessoas. Um dos projetos é ocupar a TV com "representatividade PCD empoderada" - a ideia é levantar o pertencimento para um público que não se vê com frequência.

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"O medo faz a gente seguir em frente e se superar a cada dia, mas temo ser silenciado e não alcançar meus objetivos. Para muitos é uma utopia, mas meu desejo é ver um mundo 100% inclusivo e harmonioso".

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