Serpente-do-mar que viveu há 400 milhões de anos é encontrada no Brasil
Há 400 milhões de anos, a região que hoje é o Paraná era inteiramente tomada pelo mar. Lá viviam serpentes-do-mar das espécies Encrinaster pontis e Marginix notatus, do grupo de equinodermos parentes das estrelas-do-mar, mas que hoje já estão extintas da natureza.
Os fósseis dessas criaturas foram encontrados em 2020, em Ponta Grossa, mas o processo geológico raro que os preservou foi descrito no periódico Journal of South American Earth Sciences em dezembro de 2022.
"É raro encontrar esses animais porque, uma vez mortos, eles se decompõem muito rapidamente e têm um esqueleto muito frágil formado por milhares de ossinhos", diz o pesquisador Malton Carvalho Fraga, geólogo da UFPR (Universidade Federal do Paraná) que encontrou os fósseis.
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"Condição rara" soterrou animais em vida
As condições de conservação indicam que Ponta Grossa faz parte de um local com condições de preservação exótica de fósseis, conhecido com o termo alemão konservat-lagerstätte, ou depósito de conservação, em tradução livre.
"A chance de ficar um animal inteiro com o esqueleto completo após a morte é mínima. Nesses locais existiam condições muito raras que soterraram esses animais ainda em vida, pois apenas dois dias após a morte seu corpo já estaria em decomposição", aponta Fraga.
Existem mais de 2.000 espécies vivas de equinodermos atualmente, e apesar do nome serpente-do-mar, elas não são serpentes, mas se movimentam semelhantemente a uma, rastejando no fundo do mar. "A característica é sempre um disco central de onde partem cinco ou mais braços", explica o geólogo.
No mundo todo, essa é a primeira vez que fósseis de equinodermos são encontrados nessas condições, que inclui o material orgânico do animal, como pele e até mesmo o estômago, preservados graças à condição rara de carbonificação.
O que torna nossos fósseis tão importantes é o fato deles possuírem esses restos orgânicos preservados. Essas partes foram soterradas e comprimidas com o peso do sedimento e viraram uma película escura rica em carbono. Essa é uma forma excepcional de fossilização. Malton Carvalho Fraga, geólogo
Fraga afirma que estudar esses fósseis é entender como foi o passado do nosso planeta para muito além dos dinossauros. "Em especial o passado do Paraná e entender como era esse ambiente, como eles viviam e do que se alimentavam", diz.
Vivendo em um mundo com continentes interligados
As espécies encontradas por Fraga viveram em um período em que os continentes ainda estavam unidos, no período Devoniano. O clima era mais quente e o nível do mar, mais alto.
"Esses animais viviam no período em que existia um supercontinente chamado Gondwana. Boa parte desse continente foi inundado pelo mar e uma dessas regiões foi essa área no Paraná. Essa dança dos continentes mudou a latitude, e apesar do clima do planeta ser mais quente, [as espécies encontradas] viviam em um contexto com águas mais geladas", diz Fraga.
Assim como os animais do grupo que vivem atualmente, o pesquisador explica que são espécies "oportunistas", que comem tanto animais em decomposição e podem filtrar partículas da água, além de serem muito adaptáveis e estarem espalhadas até hoje por praticamente todo o oceano.
"São animais catadores, que ajudam a limpar e reciclar o ambiente. A alimentação é bastante semelhante ao grupo de animais que vivem hoje", diz.
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