Conversa de bar motivou Arape Malik a explicar 'temas espinhosos' no TikTok
São mais de 230 mil seguidores entre o TikTok e o Instagram de Arape Malik, 36, produtor musical e influenciador, que tem tratado temas complexos de uma forma simples e bem-humorada, ao estilo que essas plataformas entregam.
Entre os assuntos que o paulistano nascido na zona sul e criado na zona leste de São Paulo trata estão desde explicações sobre "qual a forma correta de usar a palavra negro ou preto" até "como começamos a contar o tempo".
A ideia de Malik surgiu em um momento de forte polarização política durante as últimas eleições para presidente, em que ele enxergou um grande "desconhecimento de todos os lados".
"Nas últimas eleições estava falando muito sobre política, logo depois da eleição do Lula, e queria saber como me comunicar para diminuir a polarização. De um lado ouvíamos a direita dizer que o Brasil iria virar uma Venezuela e, de outro, que todos que votaram no Bolsonaro são fascistas", diz Malik.
Em parceria com Ecoa, Arape Malik estreia o Destretando em vídeo, que vai tratar os tais assuntos espinhosos de forma descontraída. O primeiro vídeo vai ao ar nesta quarta (8), nas redes sociais de Ecoa e do UOL.
TikTok é um lugar para se conquistar com boas ideias
O estopim para gravar vídeos veio literalmente de uma conversa de bar em que Malik explicava parte do cenário político, e o porquê de algumas especulações serem totalmente infundadas.
"Eu tentava mandar esse arquivo de todos os jeitos para um amigo de Santa Catarina, mas o arquivo corrompia. Minha filha deu a ideia de postar no TikTok. No outro dia tinha mais de 100 mil visualizações no vídeo", conta.
A partir disso, Malik começou a trabalhar diversos "assuntos espinhosos" — como o mesmo denomina.
"Quero fazer um moleque de 12 anos da minha quebrada entender, e uma senhora do Acre também. Dessa forma, mesmo que as pessoas discordem, poderão dialogar", diz Malik.
Para o influenciador ainda existe muita resistência ao se tentar tratar temas sérios nessa rede.
O TikTok não é só dancinha. Logo que surgiu - os estudiosos não quiseram entrar - mas os redpills [movimento que acredita que a igualdade de direitos pelas mulheres pode extinguir os direitos dos homens] estão lá em peso ensinando a odiar mulheres. Temos que ocupar a internet para que minha filha de 13 anos não tenha que ouvir que ela deve ser submissa ao marido nas redes sociais Arapê Malik
"Quase todo vídeo que faço surge de uma trocação de ideia. Uso o mesmo argumento para deixar um amigo interessado na mesa do boteco", continua.
Rap ensinou que é preciso ter algo a se dizer
Malik participou de movimentos negros e considera que parte dos assuntos que o interessam são uma intersecção desses temas com o que vive no trabalho, produzindo, sobretudo grupos de hip-hop.
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Quero receber"Fui criado nos anos 90 e, para minha profissão, o jeito que enxergo o mundo foi através do hip-hop. Para estar no mainstreaming, tinha que se ter algo a dizer e uma intenção, era um movimento muito político", diz.
Foi a partir de 2010 que Malik percebeu uma mudança, com o que chama de "militância online", mas se atenta que houve falta de entendimento mesmo entre grupos que lutavam pelo mesmo ideal.
"Foi justamente nesse momento, que comecei a perceber que o motivo de pessoas discordarem de cotas raciais era não entender direito como funcionam. Boa parte dessa polarização veio do não entendimento. Peguei essa missão de voltar para o básico e descobrir o que é o Brasil", diz Malik.
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