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Bote de 2 metros e peçonha supertóxica: como é a surucucu-pico-de-jaca

Peçonha da surucucu-pico-de-jaca é muito potente, podendo provocar hemorragia e até insuficiência renal Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons

Maurício Businari

Colaboração para Ecoa

09/11/2023 04h00

Entre as cobras peçonhentas do Brasil, a maior é a surucucu-pico-de-jaca, também conhecida como malha de fogo ou surucucu de fogo. Ela nasce com aproximadamente 40 centímetros e pode atingir cerca de três metros de comprimento quando adulta.

Há 15 dias, o lavrador Cícero José de Oliveira, 43, foi picado por uma cobra dessa espécie enquanto fazia a medição de um terreno e sofreu quatro dias com dores intensas até receber socorro na floresta amazônica. Ele só sobreviveu porque dois brigadistas caminharam 34 quilômetros na mata até que ele fosse encontrado e recebesse o soro antiofídico específico.

Lavrador Cícero José de Oliveira sendo atendido pelo brigadista Jefitte Cordeiro, do Ibama Imagem: Arquivo pessoal

Como é a surucucu-pico-de-jaca

Está na Amazônia e Mata Atlântica. A surucucu-pico-de-jaca pertence à espécie Lachesis muta e pode ser encontrada na Amazônia e em regiões da Mata Atlântica, como os brejos de altitude no Ceará.

Cauda com espinho e cores. Ela possui uma coloração muito característica, alaranjada, com manchas escuras no dorso, e apresenta um espinho no final da cauda. Em situações de ameaça, a surucucu agita a cauda entre as folhas, criando um som de advertência com o intuito de dissuadir eventuais predadores.

Escamas ásperas explicam o nome. "Seu nome popular é porque ela tem escamas ásperas que lembram a casca de uma jaca", explicou ao UOL Cláudio Machado, biólogo e divulgador científico do Canal Papo de Cobra, no YouTube.

Sua ocorrência se dá justamente em locais evitados pela cascavel, habitando o interior da mata úmida. Ela é muito dependente da floresta e possui atividade noturna e hábito terrestre.
Cláudio Machado, biólogo e divulgador científico

Reprodução peculiar. Das cobras peçonhentas no Brasil, além das corais, a surucucu-pico-de-jaca é a única que coloca ovos. As fêmeas põem seus ovos em aberturas de troncos caídos ou em abrigos escavados no solo por animais mamíferos.

Bote pode chegar a dois metros de distância Imagem: Carlos Jared/Folhapress

Filhotes usam 'dente de nascimento'. Quando os filhotes nascem, eles rompem a casca dos ovos usando um pequeno apêndice no lábio, conhecido como "dente de nascimento", para cortar a casca do ovo.

Bote com salto. Suas presas ultrapassam dois centímetros de comprimento e seu bote pode chegar a dois metros de distância. Para atingir a presa, ela consegue dar um salto de, no mínimo, um metro de altura.

Presas da surucucu-pico-de-jaca ultrapassam dois centímetros de comprimento Imagem: Carlos Jared

Come roedores. Da mesma forma que a urutu, a surucucu se nutre estritamente de mamíferos, frequentemente escolhendo roedores de pequeno e médio porte, como ratos e camundongos, animais que se alinham bem com seu peso e tamanho.

Peçonha perigosa

A peçonha da surucucu-pico-de-jaca é altamente tóxica. Ele pode causar reações semelhantes às da jararaca, incluindo hemorragia, necrose e insuficiência renal. Todo ano ocorrem cerca de 30 mil acidentes no Brasil, mas apenas cerca de 3% são causados pela surucucu, segundo o biólogo.

Causa uma atividade inflamatória, com dor, inchaço e formação de bolhas. Normalmente os acidentes por surucucus são graves, também causando náuseas, vômitos e dores abdominais e sangramentos. Muitas vezes o acidentado pode desmaiar, pois o veneno causa diminuição dos batimentos cardíacos.
Cláudio Machado, biólogo e divulgador científico

Atendimento urgente. A pessoa mordida por uma cobra dessa espécie deve ser conduzida o mais rapidamente possível para uma unidade hospitalar que possua soro antiofídico. Segundo Machado, é importante manter a calma, elevar o membro acidentado e lavar o local com água e sabão, se possível.

É importante em caso de acidentes nunca fazer garrotes ou torniquetes, e nem colocar substâncias como pó de café e alho no local atingido. Também nunca se deve cortar e apertar o local na tentativa de retirar o veneno.
Cláudio Machado, biólogo e divulgador científico

O único tratamento eficaz é o uso do soro antibotrópico-laquético, distribuído nos hospitais públicos por meio do SUS. O número de ampolas utilizado está relacionado à quantidade de peçonha inoculada e à gravidade do acidente —e isso é determinado pela equipe médica.

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