Bote de 2 metros e peçonha supertóxica: como é a surucucu-pico-de-jaca
Maurício Businari
Colaboração para Ecoa
09/11/2023 04h00
Entre as cobras peçonhentas do Brasil, a maior é a surucucu-pico-de-jaca, também conhecida como malha de fogo ou surucucu de fogo. Ela nasce com aproximadamente 40 centímetros e pode atingir cerca de três metros de comprimento quando adulta.
Há 15 dias, o lavrador Cícero José de Oliveira, 43, foi picado por uma cobra dessa espécie enquanto fazia a medição de um terreno e sofreu quatro dias com dores intensas até receber socorro na floresta amazônica. Ele só sobreviveu porque dois brigadistas caminharam 34 quilômetros na mata até que ele fosse encontrado e recebesse o soro antiofídico específico.
Como é a surucucu-pico-de-jaca
Está na Amazônia e Mata Atlântica. A surucucu-pico-de-jaca pertence à espécie Lachesis muta e pode ser encontrada na Amazônia e em regiões da Mata Atlântica, como os brejos de altitude no Ceará.
Cauda com espinho e cores. Ela possui uma coloração muito característica, alaranjada, com manchas escuras no dorso, e apresenta um espinho no final da cauda. Em situações de ameaça, a surucucu agita a cauda entre as folhas, criando um som de advertência com o intuito de dissuadir eventuais predadores.
Escamas ásperas explicam o nome. "Seu nome popular é porque ela tem escamas ásperas que lembram a casca de uma jaca", explicou ao UOL Cláudio Machado, biólogo e divulgador científico do Canal Papo de Cobra, no YouTube.
Sua ocorrência se dá justamente em locais evitados pela cascavel, habitando o interior da mata úmida. Ela é muito dependente da floresta e possui atividade noturna e hábito terrestre.
Cláudio Machado, biólogo e divulgador científico
Reprodução peculiar. Das cobras peçonhentas no Brasil, além das corais, a surucucu-pico-de-jaca é a única que coloca ovos. As fêmeas põem seus ovos em aberturas de troncos caídos ou em abrigos escavados no solo por animais mamíferos.
Filhotes usam 'dente de nascimento'. Quando os filhotes nascem, eles rompem a casca dos ovos usando um pequeno apêndice no lábio, conhecido como "dente de nascimento", para cortar a casca do ovo.
Bote com salto. Suas presas ultrapassam dois centímetros de comprimento e seu bote pode chegar a dois metros de distância. Para atingir a presa, ela consegue dar um salto de, no mínimo, um metro de altura.
Come roedores. Da mesma forma que a urutu, a surucucu se nutre estritamente de mamíferos, frequentemente escolhendo roedores de pequeno e médio porte, como ratos e camundongos, animais que se alinham bem com seu peso e tamanho.
Peçonha perigosa
A peçonha da surucucu-pico-de-jaca é altamente tóxica. Ele pode causar reações semelhantes às da jararaca, incluindo hemorragia, necrose e insuficiência renal. Todo ano ocorrem cerca de 30 mil acidentes no Brasil, mas apenas cerca de 3% são causados pela surucucu, segundo o biólogo.
Causa uma atividade inflamatória, com dor, inchaço e formação de bolhas. Normalmente os acidentes por surucucus são graves, também causando náuseas, vômitos e dores abdominais e sangramentos. Muitas vezes o acidentado pode desmaiar, pois o veneno causa diminuição dos batimentos cardíacos.
Cláudio Machado, biólogo e divulgador científico
Atendimento urgente. A pessoa mordida por uma cobra dessa espécie deve ser conduzida o mais rapidamente possível para uma unidade hospitalar que possua soro antiofídico. Segundo Machado, é importante manter a calma, elevar o membro acidentado e lavar o local com água e sabão, se possível.
É importante em caso de acidentes nunca fazer garrotes ou torniquetes, e nem colocar substâncias como pó de café e alho no local atingido. Também nunca se deve cortar e apertar o local na tentativa de retirar o veneno.
Cláudio Machado, biólogo e divulgador científico
O único tratamento eficaz é o uso do soro antibotrópico-laquético, distribuído nos hospitais públicos por meio do SUS. O número de ampolas utilizado está relacionado à quantidade de peçonha inoculada e à gravidade do acidente —e isso é determinado pela equipe médica.
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