Até sanguessuga no olho: a saga de cientistas para encontrar mamífero raro
Colaboração para Ecoa
16/11/2023 04h00
Pesquisadores da Universidade de Oxford (Reino Unido) conseguiram capturar imagens de um mamífero raro, que havia sido visto apenas uma vez em 1961. Acreditava-se, até então, que a equidna de bico longo de Attenborough (Zaglossus attenboroughi) estava extinta. Os pesquisadores enfrentaram uma verdadeira saga para localizar a equidna.
Onde o mamífero foi visto
Local onde imagens foram feitas, nas montanhas de Ciclope, na Indonésia, é muito perigoso. Durante a expedição, os cientistas enfrentaram um terremoto, que fez com que um dos membros da equipe quebrasse o braço em dois lugares.
Pesquisadores enfrentaram doenças e insetos. Um cientista contraiu malária e outro ficou com uma sanguessuga presa no olho por um dia e meio. Mosquitos, carrapatos, cobras e aranhas venenosas estão entre os animais perigosos que habitam o local.
Cientistas implantaram mais de 80 câmeras na floresta para tentar observar a equidna. Os equipamentos gravaram imagens por quatro semanas, mas o animal só apareceu no último dia.
Descoberta só foi possível devido à ajuda de uma ONG local e da população.
Uma das principais razões do nosso sucesso foi a relação que construímos com a comunidade de Yongsu Sapari, uma vila na costa norte das montanhas Ciclope. A confiança entre nós foi a base do nosso sucesso porque eles compartilharam conosco o conhecimento para navegar por essas montanhas traiçoeiras e até nos permitiram pesquisar em terras nunca antes visitadas.
James Kempton, pesquisador, em notícia divulgada pela Universidade de Oxford
Animal é tímido
A equidna de bico longo de Attenborough é do grupo dos mamíferos que botam ovos. Além dele, há apenas outras cinco espécies remanescentes desse tipo de animal (monotremados). O mais conhecido é o ornitorrinco.
São difíceis de encontrar porque tendem a ser muito tímidas. Além disso, elas têm hábitos noturnos e vivem em tocas. Esses animais não foram vistos em nenhum lugar além das montanhas Ciclope.
São conhecidas como "fósseis vivos". Acredita-se que esses mamíferos tenham surgido há 200 milhões de anos.
O que mais os cientistas descobriram
Os pesquisadores aproveitaram a oportunidade para estudar outras espécies que vivem na região. Laboratórios improvisados foram montados no meio da floresta, usando bancos e escrivaninhas feitos de galhos e cipós.
Eles reencontraram a ave Ptiloprora mayri, o comedor de mel de Mayr. A espécie não era vista desde 2008. Também foi identificado um tipo novo de camarão, que é terrestre e vive em árvores. As chuvas intensas que atingem a região, elevando a umidade, são uma das hipóteses para explicar a existência do camarão naquele local.
75 kg de amostras de rochas foram levadas pela equipe para análise geológica. O objetivo é esclarecer dúvidas sobre como e quando se formaram as montanhas Ciclope.