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Quem dera eu: como estes pinguins tiram 10 mil minicochilos por dia?

Pinguim tem sono fragmentado; são 10 mil cochilos por dia Imagem: Getty Images/iStockphoto

Colaboração para Ecoa, em São Paulo

06/12/2023 04h00Atualizada em 06/12/2023 14h52

Imagina tirar vários minicochilos todos os dias. Essa é a rotina do pinguim-de-barbicha (Pygoscelis antarcticus), espécie que faz seus ninhos na Antártida e acumula 11 horas de sono em 10 mil pequenos cochilos diários. O hábito do pinguim foi relatado em um estudo publicado na revista Science.

Como eles tiram 10 mil minicochilos?

Pode parecer uma quantidade exagerada, mas isso ocorre por um motivo: eles precisam se manter vigilantes enquanto tomam conta de seus ovos ou filhotes, evitando a aproximação de vizinhos e aves predatórias.

Os minicochilos duram cerca de quatro segundos. Parece pouco? Não para esses seres que conseguem descansar em meio ao caótico ambiente compartilhado com outras aves e animais —com muito barulho e cheiro desagradável.

Pinguim-de-barbicha (Pygoscelis antarcticus) acumula 11 horas de sono por dia Imagem: Johan ORDONEZ / AFP

Começo de tudo

Won Young Lee, ecologista comportamental do Instituto de Pesquisa Polar da Coreia, estava na Antártida em 2014 realizando uma pesquisa de campo quando notou pela primeira vez os pinguins cochilando. "Eles não adormeceram por longos períodos. Apenas tiravam um cochilo e acordavam, cochilavam e acordavam", contou Lee à Science. Foi então que surgiu o interesse de estudar melhor esse comportamento.

Resultados

Lee e seus colegas visitaram uma colônia de pinguins que fazem seus ninhos na Ilha King George, na Antártida, durante quatro anos. Eles passaram horas para capturar e instalar equipamentos em 14 pinguins, além de filmarem seu comportamento de sono.

A verificação dos dados levou ao número de 10 mil cochilos, com média de quatro segundos cada. Esses cochilos ocorriam até mesmo enquanto eles estavam no mar buscando alimentos.

"Nós nunca vimos uma fragmentação tão sustentada [de sono] em nenhuma outra espécie", afirmou o coautor do estudo Paul-Antoine Libourel, neurofisiologista do Centro de Pesquisa em Neurociências de Lyon, na França.

Os pesquisadores viram que, apesar dos cochilos rápidos, esses pinguins conseguiam chegar ao estágio de sono de ondas lentas, conforme as gravações de suas ondas cerebrais. Para nós, humanos, esse sono é muito importante por ser reparador, mas não chegamos a ele com cochilos curtos.

O microssono dos pinguins pode trazer alguns benefícios como recuperação de sinapses e remoção de resíduos tóxicos no cérebro. Mas a neurocientista Chiara Cirelle e outros colegas apontam que dormir tão rapidamente pode ser apenas uma tentativa fracassada de dormir mais profundamente em um ambiente caótico. Ela sugere que sejam feitas análises quando esses pinguins não estão em período de ninhada.

Por que saber disso importa? Entender os hábitos desses animais "é crucial para definir ideias sobre para que serve o sono", falou à Science a neurocientista Chiara Cirelli, da Universidade de Wisconsin-Madison, que não participou do estudo. O estudo do sono, em meio à natureza é valioso, já que a maioria dessas pesquisas em animais costuma ocorrer em condições controladas e seguras no laboratório.

Agora, os pesquisadores esperam continuar a estudar o sono em outros animais selvagens antárticos, como as focas Weddell (Leptonychotes weddellii), que no verão lidam com a luz do sol nas 24 horas do dia.

Nem todos os animais dormem como os humanos. Eles provavelmente podem suportar alguns tipos de sono de que não somos capazes.
Paul-Antoine Libourel

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