Mais testosterona e cortisol: o que faz um gorila ser o silverback?
Um gorila macho e dominante de um grupo pode pesar mais de 250 kg e medir cerca de 1,80 m de altura. Eles ganham o nome de silverback, ou costas prateadas em tradução livre, por terem o dorso acinzentado, um processo que acontece normalmente com machos entre os 12 e 15 anos de idade, período em que atingem a maturidade.
Nativos da região centro-oeste do continente africano, eles são os maiores primatas do mundo, além de serem os mais fortes, podendo levantar até dez vezes o próprio peso.
Mas tamanha força não livrou a espécie e todas as subespécies do gênero de estarem na lista de animais ameaçados, em risco ou em perigo de extinção, de acordo com a Lista Vermelha da IUCN. Entre os motivos estão a caça, mudanças climáticas, destruição do habitat natural e o contágio por doenças, que estão ligadas ao contato com seres humanos.
Ecoa conversou com biólogos e reuniu informações sobre essa espécie que também vive no Brasil —em cativeiro—, e o seu processo para se tornar silverback. Acompanhe a seguir.
Como um gorila se torna silverback?
O processo de amadurecimento e do esbranquiçar da pelagem dorsal de um gorila macho acompanha o período em que o animal tende a ganhar mais peso corporal.
O biólogo e professor de biologia Kayron Passos explica que esse é um processo natural, que é acelerado pelo cortisol, hormônio responsável por fornecer "arsenal de defesa" para o sistema imunológico.
"O cortisol quebra as proteínas que serão utilizadas no processo de defesa do organismo, entre elas a melanina, que está relacionada ao pigmento dos pelos. Quando estão sob estresse, entram em estado de alerta, ativando altos níveis desse hormônio e acelerando o processo", aponta Passos.
A produção de testosterona também acaba sendo um fator crucial na definição de um novo líder no grupo dos gorilas. "Aqueles que têm mais testosterona são mais aptos para a liderança, uma vez que comem mais e se tornam mais fortes, são mais agressivos com outros machos, copulam com um maior número de fêmeas em um menor espaço de tempo", afirma o biólogo.
Formação de grupos, disputa e infanticídio
A disputa pela liderança do grupo pode acontecer quando machos entram na idade de maturidade no mesmo período, fazendo com que exista conflito entre eles e comumente a emigração do que perde a disputa. Mas o comportamento acaba sendo importante para a espécie.
"Os machos emigram antes de terem acasalado, com dorsos negros, subadultos e até mesmo juvenis. A formação de grupos de machos ocorre com sucesso quando estão envolvidos machos imaturos. Fêmeas também migram juntas ou não, e quando chegam em um grupo de machos, provocam desestabilização neste grupo", explica Valéria do Socorro Pereira, bióloga, responsável pela seção de mamíferos do Jardim Zoológico de Belo Horizonte, único com gorilas no Brasil.
"Os machos subordinados muitas vezes partem e o líder forma o seu grupo reprodutivo. Esses comportamentos, como o de emigração, determinam a variabilidade genética da espécie, ou seja, evita cruzamentos consanguíneos", diz Pereira.
Apesar do comportamento agressivo, a bióloga afirma que o gorila silverback defende o grupo, intervém nas "brigas" que acontecem rotineiramente e se impõe aos demais integrantes do grupo. Ele também é muito atento e carinhoso com os filhos.
Na natureza, entretanto, confrontos com grupos de gorilas rivais geralmente terminam com infantícidio, em que o silverback mata os filhotes do líder do outro grupo, eliminando a descendência de seu "rival".
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Quero receberApesar dessa ser uma atitude comum, quando estão em áreas maiores, com pouca interferência humana, as "brigas" entre gorilas tendem a diminuir, assim como o "assassinato de filhotes" de outros grupos, como apontado em reportagem do National Geographic - Portugal, sobre dados recolhidos em Karisoke, no Parque Nacional dos Vulcões de Ruanda, e analisados por Tara Stoinski, presidente e diretora científica do Fundo Fossey.
Gorilas no Brasil ajudam em inserção de filhote na África
Pereira é responsável pela ala dos gorilas no Jardim Zoológico de Belo Horizonte, que tem sete gorilas da espécie Gorila Ocidental (Gorila gorila). Quatro filhotes nasceram no local e a bióloga conta que já começou a observar uma mudança no comportamento dos animais.
"Leon [gorila que veio adulto] é o silverback. Os demais são submissos a ele. Porém, já se pode perceber uma certa mudança de comportamento, sobretudo do macho Sawidi [que nasceu no zoológico e é filho de Leon]. Algumas vezes, ele enfrenta o pai nas rotinas e desentendimentos do dia a dia", diz a bióloga.
O zoológico faz parte da Eaza (Associação Europeia de Zoológicos e Aquários), programa de conservação e manejo populacional de espécies ameaçadas de extinção. Entre as práticas da associação, há a transferência de animais de zoológicos de outros países. No caso do zoo de BH, as fêmeas que fazem par com o macho silverback foram transferidas de zoológicos da Inglaterra, evitando assim o cruzamento consanguíneo.
Entre os destaques do programa, está o caso de um filhote de gorila nascido na natureza em junho de 2021. Seus pais faziam parte do programa em zoológicos da França e da Inglaterra, foram reintroduzidos na natureza anos antes e formaram um casal.
Como ajudar gorilas ameaçados de extinção
Na República Democrática do Congo, no Parque Nacional de Virunga, que foi designado Patrimônio Mundial da Unesco em 1979, está um terço da população mundial de gorila-das-montanhas, espécie ameaçada de extinção.
Além das visitas turísticas que ajudam a manter os profissionais, como veterinários, guardas-florestais, é possível ajudar a instituição a distância "adotando um gorila" e doando de forma online à instituição.
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