Dada como extinta, árvore vista pela última vez há 185 anos é achada em PE

Quatro exemplares do azevinho pernambucano, árvore vista pela última vez há 185 anos, foram encontrados em Pernambuco por uma expedição que analisava a flora no município de Igarassu, na região metropolitana do Recife.

A espécie, natural da Mata Atlântica, foi catalogada em uma área de plantação de cana-de-açúcar. Segundo os cientistas que compuseram a equipe, o Ilex sapiiformis teve o último registro em 1838, pelo botânico escocês George Gardner.

O achado foi comemorado pela comunidade científica, uma vez que os exemplares integram uma das espécies mais buscadas por organizações de conservação ambiental.

A expedição teve a participação da engenheira agrônoma e especialista em botânica, Juliana Alencar, do professor Milton Groppo Júnior, botânico da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, e foi liderada pelo pesquisador Gustavo Martinelli, do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

"A família Aquifoliácea é a mesma do chá-mate e dos azevinhos, muito usados em decoração de Natal no Hemisfério Norte, como Estados Unidos e Europa. Nos países de língua inglesa as espécies são chamadas de Holly", explica Milton Groppo a Ecoa.

Esse achado é importante porque essa planta não era registrada desde que foi coletada pela primeira vez, em 1838. Milton Groppo, pesquisador

Quase 200 anos sem registro

Ou seja, há 185 anos não havia mais registros dessa espécie em coleções científicas.

Ela é tão rara, que até agora não havia conhecimento sobre seus frutos. "Conseguimos observar pela primeira vez, quando maduros, os frutos são carnosos, vermelhos a roxos, e podem ser alimento para pássaros", diz Groppo.

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O especialista afirma que a descoberta é importante porque resgata uma planta que era presumivelmente extinta na natureza. Agora há a oportunidade de propagar, proteger e salvar a espécie da extinção.

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Imagem: Divulgação

Outro fator importante é o local em que a planta foi encontrada: uma área de remanescente florestal em Igarassu, em uma usina de açúcar, já praticamente no ambiente urbano.

Se pensarmos que Igarassu é uma cidade cuja exploração da cana remonta a próximo de 1500, é quase um milagre encontrarmos ainda remanescentes de mata com diversidade biológica relevante.
Milton Groppo, pesquisador

Ele afirma que esse achado indica que as áreas de remanescentes de Mata Atlântica devem ser ainda estudadas e protegidas, mesmo em áreas com histórico de ocupação e uso de solo tão antigo quanto em Igarassu.

Busca a partir de diário de 1836

Juliana Alencar, doutora em Botânica, conta que a redescoberta da espécie foi um trabalho que envolveu diversas etapas e pessoas. A busca foi baseada no diário de viagem de George Gardner, naturalista escocês, que realizou uma expedição ao Brasil entre os anos de 1836 e 1841.

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À época, detalha Alencar, era comum naturalistas europeus realizarem expedições que descreveram muitas espécies vegetais conhecidas até hoje. "Durante essa viagem, Gardner coletou amostras de um único indivíduo, que estão depositadas em herbários internacionais. O projeto incluiu uma pesquisa histórica por livros e mapas da época da descoberta por Gardner e consulta a historiadores", explica.

Aqui, deixo a minha homenagem ao historiador Leonardo Dantas, que nos honrou com seu conhecimento.
Juliana Alencar, botânica

Elas diz que o grupo realizou um mapeamento da região para localizar os pontos visitados por Gardner e prováveis áreas de busca. "Fizemos uma vasta busca nos herbários locais e encontramos duas coletas, uma de 1962 e outra de 2007. Porém, estavam erroneamente identificadas", aponta.

A botânica conta que a área onde o Ilex sapiiformis foi encontrado está em uma propriedade particular, que concede autorização para realização de pesquisas científicas. Pesquisadores realizam coletas de plantas ou acompanhamento de animais para desenvolvimento de suas pesquisas ali.

"Existem diversos artigos científicos de identificação de espécies de plantas na região. Esses trabalhos são chamados de levantamentos florísticos, e são muito importantes pois enriquecem o conhecimento sobre a flora de uma localidade", diz ela.

Frutos desconhecidos

Alencar diz que todo organismo desempenha um papel importante dentro de uma comunidade, seja como alimento ou abrigo para animais, manutenção da estrutura saudável do solo ou do clima.

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No caso específico do Ilex sapiiformis, ainda não há certeza se os frutos são consumidos por alguma espécie animal ou se possui alguma propriedade que possa vir a ser utilizada pelo homem. Outra espécie aparentada dela (mesma família e gênero) é o Ilex paraguariensis, conhecida popularmente como erva-mate.

A Mata Atlântica é o segundo grande complexo de florestas tropicais biodiversas brasileiras. Infelizmente, é o que mais sofre por ações antrópicas e um dos que mais perdeu áreas de sua cobertura original.
Juliana Alencar, botânica

A pesquisadora diz que, para a humanidade, a importância da perda de uma espécie é enorme, pois pode acarretar a interrupção de ciclos de vida de outras espécies ligadas a ela. "No caso das plantas, só é possível confirmar a extinção até que encerrem os esforços de buscas pelas espécies. Nesse caso, muito há para se conhecer acerca dessa espécie. Não existem estudos sobre ela."

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